Os desafios do transporte de bebidas, por Hamilton Picolotti

Publicado em
16 de Agosto de 2012
compartilhe em:

O Brasil é um dos maiores países produtores e consumidores de cerveja, com uma produção anual de 9 bilhões de hectolitros, além de se destacar cada vez mais no mercado cervejeiro internacional, com a entrada de capital estrangeiro. Estima-se que o Brasil exporte anualmente US$ 30 milhões em cerveja e importe em torno de US$ 2 milhões. Tal cenário de consumo exige uma estrutura logística capaz de alcançar todos os estabelecimentos do País, para garantir a excelência na entrega de bebidas alcoólicas e não alcoólicas.

O transporte de bebidas no Brasil vive diariamente muitos desafios, especialmente com a questão das vias, já que depende praticamente da malha rodoviária. As rodovias foram concebidas como fator de aceleração do processo de desenvolvimento nacional, respondendo às demandas exigidas no Plano Nacional de Viação (1951) e no Plano de Metas (governo JK). Infelizmente, as condições não são as mesmas em todo o País. Sabe-se que as rodovias do Sul e Sudeste são consideradas as melhores, porém no interior o cenário é outro. Prova disso é que apenas 11% das rodovias brasileiras são pavimentadas (apenas 200 mil km enquanto temos aproximadamente 1,7 milhão de km de rodovias). A situação se agrava quando a entrega deve ser feita de outro modo ou em condições mais precárias do que em rodovias, como o transporte de bebidas feito por jangada. Sim, isso ainda acontece no Brasil. Outro exemplo é a entrega em bares localizados em comunidades, em que o distribuidor tem de enfrentar dificuldades físicas para chegar ao local. Para realizar a distribuição em áreas como essas é necessário muito planejamento, conhecimento e capacidade de adaptação. O abastecimento das áreas rurais é outro desafio. O transportador deve transferir a carga do caminhão para tratores ou carros com tração nas quatro rodas.

Já em outras regiões, como o Norte do País, que possui características únicas como cidades isoladas e presença de grandes rios, o processo de logística é mais complicado e marcado pelo subdesenvolvimento da região, em relação às outras partes do Brasil. Devido às características territoriais, a logística é realizada de forma multimodal. Em certas localidades o acesso ocorre apenas por barcos e jangadas, o que dificulta o transporte dos pallets de bebidas, uma carga pesada e de manejo delicado. Em alguns locais, em épocas de chuva, a carga só consegue ser transportada por meio do transporte fluvial, pois algumas rodovias de acesso são fechadas, o que requer atenção redobrada. Analisar os horários das marés e condições meteorológicas são práticas fundamentais, visto que algumas viagens podem levar até 36 horas ininterruptas sobre a água.

Por outro lado, o crescimento de pequenos estabelecimentos, que não têm demanda suficiente para efetuar a compra de um pallet fechado do produto, exige um esforço extra dos distribuidores cujos custos logísticos são impactados pela redução do drop size, a quantidade que o fornecedor entrega para cada cliente – ou a quantidade total vendida dividida pelo número de entregas realizadas. Desse modo, o custo de entrega por pallet chega a dobrar, pois muitas vezes os estabelecimentos que solicitam o produto estão em localidades distintas.
E não podemos desconsiderar os obstáculos das grandes metrópoles, como São Paulo. A distribuição deve ser realizada fora do horário comercial e por pequenos caminhões, os Veículos Urbanos de Carga (Vucs), impactando também no frete.

A parte boa da história é que nosso País, uma das referências mundiais no setor de bebidas, também se destaca pela excelência de sua entrega, independente dos desafios enfrentados diariamente. Embora as dificuldades para o transporte de bebidas no Brasil sejam inúmeras e de diversas origens, o setor garante a qualidade de suas embalagens e o respeito do prazo e local de entrega - tudo a um custo de distribuição justo.

Boletim Informativo Guia do TRC
Dicas, novidades e guias de transporte direto em sua caixa de entrada.