Opinião - Toda generalização é burra*

Publicado em
02 de Dezembro de 2015
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Tomo emprestada uma frase célebre de Nelson Rodrigues e a parafraseio, já que o autor, que retratava bem os pormenores da alma humana, disse que toda a unanimidade é burra. Troco, no entanto, unanimidade, por generalização, porque hoje quero falar de preconceito. Este, que tantos dizem que não existe, mas que está enraizado em nossa sociedade nos mais diversos setores.

Venho, hoje, em defesa dos empresários e, principalmente, dos motoristas do setor de transportes de cargas. Muito tem sido falado a respeito da implantação de exames toxicológicos para motoristas profissionais e, recentemente, lançamos uma campanha de valorização do transporte, já que no atual sistema de distribuição brasileiro, mais da metade da carga transportada no País é levada por caminhões — e muitas vezes o transportador é visto como vilão.

Represento um sindicato de empresários do setor de transporte – categoria em que me enquadro - e, como tal, acredito que o motorista precisa ser valorizado. Ele precisa cumprir sua jornada, mas dentro de seus limites. O caminhão que ele dirige é uma filial da empresa. E se ela não funcionar bem, eu terei problemas. Logo, me preocupo com a saúde física e mental do gerente da minha filial – o motorista - pois ele é uma peça importante da minha engrenagem. E assim, acredito que também pensem a grande maioria dos empresários do setor.

Vejo algumas reportagens tendenciosas, dando a entender que o empresário do transporte é o culpado pelo alto índice de uso de drogas entre motoristas profissionais, devido aos prazos apertados com que precisam trabalhar. Logo nós, que lutamos pela regulamentação do setor, pela implantação da Lei do Motorista - a Lei 13.103 - e nos esforçamos para cumprir todas as diretrizes da mesma – inclusive no que se refere a controle de jornada.

Infelizmente, sabemos que o problema com drogas atinge todas as esferas da sociedade e cidadãos de todas as profissões. O vício não escolhe classe social. Caminhoneiros são constantemente abordados em pontos de parada nas estradas, recebem oferta de substâncias ilícitas, mas a escolha do uso é de cada um. E posso dizer que os motoristas que fazem uso de rebites e outras drogas para dirigir por mais tempo do que seria prudente estão fazendo isso sem o consentimento da empresa para a qual trabalham, ou são autônomos que o fazem para pagar suas contas apertadas.

Somos a favor de fiscalização rígida nas estradas para que seja cumprida a lei, principalmente pelos autônomos, pois hoje a realidade é que somente as empresas são fiscalizadas, obrigadas a assinarem termos de ajuste de conduta, etc. Nós empresários não exigimos de nossos funcionários nem um minuto além da jornada permitida por lei. E se fizermos isso, teremos que arcar com ações trabalhistas – algo que em sã consciência, empresário nenhum quer.

Agora, outros questionamentos que merecem investigação e não aparecem nas reportagens são: qual será o destino do dependente químico? O que podemos fazer para ajudá-lo? Nós, tanto quanto a sociedade, queremos e, mais do que isso, precisamos, saber a resposta.

*Artigo escrito por Gilberto Cantú, presidente do Setcepar - Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná

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