Opinião: Ministro continua pensando como os “Chicago’s Boys”

Publicado em
01 de Abril de 2020
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Segundo o Estadão de hoje, o ministro Paulo Guedes, em videoconferência com representantes da Confederação Nacional dos Municípios, disse que “eu, como economista, gostaria que pudéssemos retomar a produção. Eu, como cidadão, ao contrário, aí já quero ficar em casa”. Deduz-se, portanto, uma ‘coisa ou outra’? Será que é necessário optar entre a opinião de um ou de outro? Particularmente, como escrito por mim diversas vezes, essa é uma ‘dicotomia’ falsa.
 
Mais à frente, na mesma videoconferência, diz Guedes: “vamos discutir de forma construtiva essa linha de equilíbrio entre saúde e economia”. Mas adverte: “em dois, três meses vai rachar para um lado ou para o outro”.
 
Pois é, nosso ministro continua pensando como os “chicago’s boys” do século passado e só consegue compreender a ciência econômica através da ótica financeira, na qual a preservação do caixa tem que ser obtida a qualquer custo!
 
Ao não aceitarem que a ciência econômica também é uma ciência social, acreditam que ela tenha um fim em si mesma, isto é, não compreendem que sua eficácia está em atender, sempre, o maior de todos os seus objetivos: o ser humano, a sociedade.
 
Dado o nível tecnológico do momento, ao se buscar “economia” na utilização dos recursos (naturais, capital, mão de obra) necessários para que se realize a produção, também é necessário (ao longo do tempo, também aumenta-los), mantê-los em condições de produzir. Justificando-se portanto, também como ocupações do economista, a preservação da natureza, a modernização do capital e a capacitação e a saúde da mão de obra, uma vez que a falta ou a precarização de um deles fará a produção tendente a zero. 
 
Mesmo que sob o ponto de vista social e humano este governo não tenha preocupações maiores (“o vírus tá aí, vamos ter de enfrenta-lo, mas enfrentar como homem, pô, não como moleque. É a vida, todos nós vamos morrer um dia” (grifos meus), pois tem mulher apanhando em casa. Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? Tem que trabalhar” (grifos meus)), é necessário preservar as pessoas saudáveis e vivas, caso se queira, assim que terminar a crise, contar com mão de obra apta para trabalhar e produzir.
 
Para sairmos da crise é preciso muita dedicação, solidariedade e união. O problema é de todos nós e requer multiplicidade de providências, mas é claro que o governo federal precisa dar sinais de responsabilidade e ter um correto diagnóstico, sem achismos ou politicagens. E precisa liderar, de forma convergente, todo o processo, afim de evitar anarquia e objetivos incompatíveis.  
 
O momento é de preservar a vida dos cidadãos brasileiros, e como defendem as autoridades em ‘pandemias’, o distanciamento social é essencial. Enquanto isso, o governo precisará gastar cada vez mais, no combate à epidemia, na manutenção da renda das pessoas mais pobres e na sobrevivência das pequenas e médias empresas, que são aquelas que mais geram empregos e que menos possibilidades de financiamento tem. 
 
A dívida pública aumentará, sem dúvida. Mas por ser pública será paga, como sempre, por todos nós. No futuro e desde que estejamos vivos. Melhor ainda, se a carga dessa dívida seja distribuída igualmente a todos! 

 

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