Opinião: "Estão confundindo caminhão com avião" por Luciano Alves Pereira

Publicado em
26 de Abril de 2013
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A sangrenta realidade é antiga e piora. Salta aos olhos assustados de quem está na estrada que os motoristas de caminhão não estão se adaptando às altas potências dos motores nem com outros dispositivos da tecnologia embarcada. A disparada desembestada tornou-se geral. Para tal descontrole, a ideia das UPPs cariocas passa a ser oportuna esperança já que as rodovias federais em Minas não vão melhorar no médio prazo. A explicação vem do Rio Grande do Sul

 

luciano

Tês caminhões, uma van e uma viatura do Corpo de Bombeiros se envolveram em engavetamento na Rodovia Fernão Dias

 

 

No princípio de agosto de 2008, o experiente Ulisses Martins Cruz, comentava a imagem de morro abaixo do TRC. Ele é diretor da Empresa de Transportes Martins, de Belo Horizonte. Esta, fundada por seu pai, José Antônio Cruz, há exatos 60 anos. Naquela ocasião, o argumento de Ulisses era que “a população de caminhões de 7 a 70 toneladas representa na frota nacional apenas uns 3% a 4% − como podem ser estes os vilões da história?” Seu inconformismo referia-se ao noticiário dos jornais e das TVs, sempre ressaltando o envolvimento de caminhões nos sinistros rodoviários, em índices muito além dos minguados percentuais acima. De lá pra cá, a situação só piorou para os cargueiros que, afinal, reflete a desarrumação – principalmente, excesso de velocidade − do jeito de tocar dos profissionais do volante. Não estão sabendo lidar com potências de 400 ou mais cavalos.

Exatamente sobre velocidade, a Volvo sueca soltou um relatório, no princípio deste ano, que deixa de lado os rodeios e culpa os estradeiros em 90% como causa dos acidentes ocorridos na Europa, “por desatenção ou má avaliação da velocidade”. Repetindo, má avaliação da velocidade. Agora transportemos o ‘teatro de operações’− para usar um nome típico de guerra – ao Brasil e vejamos o que escreveu a respeito um particular, em fins de 1995. Ou seja, bem lá trás, o professor Jayme Neves, da UFMG, publicou no jornal Estado de Minas (de BH) um artigo intitulado “Carretas assassinas dominam as estradas”. Se já começa pesado no cabeçalho, no miolo, os ataques são cortantes. “De todos os tiranetes modernos, os que mais me amedrontam são os que dirigem carretas”, queixa-se ele.  E segue acusando até o governo de conivente ou indulgente “em tolerar aos facínoras tantos abusos”. Neste tom seguiu até o fim.

Na época, a Revista Veículo (edição de janeiro/1997) saiu em defesa da classe – as entidades pertinentes não se manifestaram −, apontando o desconhecimento estradeiro do articulista e pedindo ao “professor Neves para continuar publicando suas opiniões, de preferência sobre medicina… Por favor!” Nesses 17 anos, muito pioraram as estradas, exatamente quando se requereriam nenhuma desatenção e máxima capacidade de avaliação da velocidade dos condutores. Os desastres alfálticos  passaram do limite do absurdo, causados por profissionais. No princípio de março, seis carretas engavetaram no Rodoanel de São Paulo. Todas perderam o freio? Não. Faltou conduta básica de direção defensiva de guardar distância do veículo da frente. Em outra injustificável falha dos que deveriam ser especialistas, três caminhões, uma van e uma viatura do Corpo de Bombeiros também se envolveram em outro estúpido engavetamento na rodovia Fernão Dias, Betim (MG), na chamada descida de Petrobrás, sentido SP, km 426. Todos profissionais do volante a conduzirem seus veículos em excesso de velocidade, sem manter distanciamento de segurança. Seria este o primeiro diagnóstico estimado.

O sinistro não resultou em vítimas, mas ‘apenas’ parou a linha de produção da Fiat Automóveis, pela suspensão do seu sistema de just-in-time. A montadora reclamou em alto e bom som. Como a pista ficou interrompida por quatro horas, a empresa enviou nota aos quatro cantos do mundo, informando a queda decorrente de produção de 800 veículos, “o que contabilizou um prejuízo de cerca de R$ 24 milhões, além de outros R$ 39 milhões relativos às perdas com montagem incompleta de mais de 1,3 milhões de unidades”. A nota relembra ainda “evento anterior, com fornecedores, o qual teve de ser adiado devido a problemas de tráfego na região, decorrentes de acidente e de falta de alternativa para deslocamento”.

Certo. É preciso reclamar, gritar, incomodar. Porque, como disse o atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos, “dá pra fazer mais” e não está sendo feito. Opiniões de gente do ramo são pessimistas, quanto ao equacionamento do trânsito saturado, seja da Fernão Dias, BRs-040, 381 ou de qualquer outra sigla estado afora.  Prevalecem os escassos investimentos federais em Minas, por motivos rasteiramente políticos. O contraste deixa de ser suposição quando se sabe que mal tomou posse Tarso Genro (PT/RS) no governo do estado, bilhões de verbas da união foram despejadas sobre as coxilhas gaúchas. Para não ficar no vago, vale citar alguns importantes melhoramentos viários em execução no sul, entre um chimarrão e outro: segunda travessia do rio Guaíba, duplicações das BRs 448, 392, 116, 290, 386, etc. etc. etc.

Para não deixar o palavrório apontado só para críticas, pinçamos experiência anterior em que indica o aumento de policiamento como antigo e bom remédio. O desbandeiramento do trânsito rodoviário nacional apresenta analogia com os aglomerados cariocas. Intervindo nessas comunidades, as UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) apresentam balanço positivo, por enquanto. A transposição da ideia para a estrada não seria com tropa armada, mas com o realce do conceito de fiscalização ostensiva, controladora da velocidade, multadora de caminhão que anda fora da faixa própria ou carrega tacógrafo ‘estragado’. Além de coibir os excessos de peso da moçada. Contudo, há um porém: arrocho estradeiro faz perder votos, como ocorreu com os chamados ‘radares atrás da moita’. O desafio está bem na reta e uma verdadeira agonia é crescente já que a pista única da via tem o destino inevitável do travamento geral, enquanto o Brasil se tornará invivível. Para quem sobreviver…

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