Obras prioritárias estão paradas no país e não avançam conforme previsto

Publicado em
19 de Outubro de 2015
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No país dos atrasos, das 15 obras de infraestrutura prioritárias, que juntas representam mais de R$ 836 bilhões em investimentos, nenhuma está com o cronograma em dia. Estudo da Consultoria KPMG baseado em 1,5 mil projetos importantes elencou os principais empreendimentos de logística em transportes, telecomunicações, energia, mobilidade urbana e saneamento que poderiam garantir aos brasileiros condições mais dignas de vida e às empresas nacionais, maior competitividade. Contudo, nem mesmo a urgência de tais obras consegue vencer as faltas de planejamento e de capacidade técnica do governo. Em alguns casos, os projetos ainda não saíram do papel. Em outros, sequer deixaram a esfera das ideias.

Érico Giovannetti, diretor de Gerenciamento de Projetos da KPMG, explica que a consultoria utilizou critérios de relevância social para chegar às 15 obras prioritárias (leia quadro ao lado). Foi considerado um relatório do Banco Mundial, que faz o ranking conforme a importância social das obras, e aplicadas as megatendências para 2030 da própria KPMG, que mostra quais as principais pressões vão impactar os governos, como a escassez de recursos naturais.

“Num segundo momento, analisamos por que os projetos fracassam, com tantos atrasos e custos sempre mais elevados do que os inicialmente previstos”, assinala Giovannetti. Para o diretor da KPMG, a conclusão é que falta planejamento e os projetos básicos, nos quais são embasadas licitações e concessões são muito fracos. “O tempo de maturação é insuficiente para considerar situações climáticas ou pressões por licenciamento. Os cronogramas precisam ser mais realistas”, diz.

A Ferrovia Norte-Sul (FNS), por exemplo, começou há mais de 30 anos. Projetada para promover a integração nacional, ligando Barcarena (PA) a Rio Grande (RS), a linha foi iniciada na década de 1980. Hoje, dos 4.787km previstos, apenas 719km estão em operação, entre Açailândia (MA) e Palmas. Outros 860km, entre Palmas e Anápolis (GO), foram concluídos apenas no ano passado. A maior parte dos trechos (1.785km) ainda nem saiu do papel e 1.400km estão em construção ou ainda na fase de estudos.

Na avaliação de Fernando Marcondes, presidente do Instituto Brasileiro de Direito da Construção (Ibdic), o cenário da infraestrutura no país é muito desanimador. “O Brasil precisa de capital estrangeiro. Mas os marcos regulatórios, sobretudo de ferrovias e de portos, não têm regras claras e afastam os investidores. Por isso, nossa logística está atrasada 40 anos”, destaca. “Do programa do governo, os projetos ferroviários não andaram nada”, emenda.

No entender do diretor sênior responsável por Infraestrutura da agência de classificação de risco Fitch Ratings, Bernardo Costa, para atrair investidores e realizar obras consistentes, as tarifas oferecidas pelo governo precisam ser elevadas. “Atualmente, o prêmio de risco é bem maior e o investimento em infraestrutura é de longo prazo”, defende. Costa lembra que, em recessão, a demanda está em queda, também em projetos de infraestrutura. “Nas rodovias, houve redução de 5% no tráfego”, observa.

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