Não é mais surpresa quando se houve, nas discussões sobre logística e abastecimento da cadeia de suprimentos, as palavras “ruptura” e “resiliência”. Assim como não há qualquer novidade quando se diz que atualmente as cadeias produtivas exigem constantes adaptações às novas realidades, sejam elas oriundas das circunstâncias políticas, sociais, econômicas ou financeiras que diariamente impactam a vida de toda a sociedade, ou em face do crescimento dos canais de distribuição, incluindo-se o comércio eletrônico, que aceleram e estimulam as entregas mais fracionadas, em mercados cada vez mais distantes e complexos, de consumidores e fornecedores, entre empresas e entre países.
O fato é que as incertezas atuais, agravadas pela pandemia, cujo fim ainda é mera ‘suposição’, e com impactos ainda não totalmente conhecidos, tem exigido maiores esforços e dedicação de todos. Em particular, daqueles que exercem suas funções na administração das cadeias de suprimentos, os profissionais de “supply chain” e logística.
O FMI (Fundo Monetário Internacional), por exemplo, através do “World Economic Outlook” (WEO), publicou recentemente, estudo que mostra que os problemas de transporte e logística durante o ano de 2021, em face da pandemia, fizeram com que a inflação mundial tivesse aumento de 1 ponto percentual e geraram impactos negativos na produção entre 0,5% a 1,0%.
Para 2022, ainda segundo o “WEO”, as previsões de interrupções na cadeia de suprimentos indicam diminuição, mas é bastante provável que ainda persistirão problemas, principalmente no momento em que a pandemia arrefecer e houver ligeira retomada do crescimento econômico, pois o aumento da demanda por bens e serviços deverá ocorrer em níveis superiores ao da oferta, posto que esta última tem maiores dificuldades de adaptação, seja em relação à previsão dos novos volumes ou da instalação de ‘novos’ fluxos de mercadorias. Com relação à inflação, as previsões do FMI são de alta, tanto nas economias mais avançadas (cerca de 3,9%) como junto aos países emergentes (5,9%).
Conhecer as causas e as consequências dos problemas e das crises, agora mais frequentes e inesperadas, tornou-se fundamental, pois tratar de minimizar seus efeitos e, se possível, evitá-las, é tarefa imprescindível. E aprender com as crises é sempre recomendável”, como já disse em certa ocasião o economista-chefe do Banco Mundial, Paulo Romer: “uma crise é uma coisa terrível para ser desperdiçada”.
Considerando portanto, que rupturas na cadeia de suprimentos têm as mais diversas origens, parece fundamental que os profissionais de logística procurem se ocupar, cada vez mais, com o desenvolvimento de instrumentos que facilitem a identificação, o conhecimento e a compreensão das causas desses eventos de ruptura, como forma de resistir e minimizar prejuízos. A realização de diagnósticos corretos e a construção de cenários, como se depreende, passaram a ser essenciais quando se sabe que planos alternativos e estratégias complementares auxiliam, e muito, para que se mantenham os sistemas operacionais – e os negócios – em funcionamento. Mesmo que de forma precária, dependendo do nível e do tipo da crise.
Impõem-se, portanto, entre outras tarefas, analisar as cadeias de suprimentos e distribuição de forma mais profunda e abrangente, uma vez que, além de sua função principal – aumentar a eficácia operacional das atividades dedicadas à movimentação e armazenamento de mercadorias – a administração correta dos sistemas de suprimentos e distribuição contribuem diretamente para a otimização dos recursos financeiros, melhoria dos resultados e maior geração de lucros, de empresas e países.
Em abril do ano passado, aqui mesmo neste Portal, ao escrever um artigo a respeito (“Uma logística eficaz exige realismo”), busquei alertar para o fato de que “rupturas que possam impactar as operações e até colocar em risco o próprio negócio, quando inevitáveis, precisam ter seus impactos negativos minimizados”. E concluía que, diante da crise instalada, éramos levados a realizar, mais frequentemente, observações sobre tudo o que acontecia, uma vez que era obrigatório acompanhar as mudanças do momento e desenvolver instrumentos de avaliação eficientes, considerando que medidas urgentes e adaptadas aos novos cenários precisavam ser tomadas.
Pois é. Parece que isso está acontecendo na maioria das empresas em todo o mundo nestes tempos atuais, quando a administração da logística tem assumido papel mais estratégico do que operacional e buscado, entre outros objetivos, aumentar a rentabilidade e a otimização do capital de giro das empresas, seja garantindo o abastecimento e a distribuição, gerenciando eficientemente estoques ou seja melhorando o relacionamento entre fornecedores e clientes.
Assim como a instalação de políticas voltadas à instalação do conceito ESG (“Environmental, Social and Governance”) e à defesa da diversidade e de combate à discriminação vieram para ficar, as atividades de logística e de ‘supply-chain’, cada vez mais integradas às demais atividades empresariais, são imprescindíveis para uma eficaz gestão de negócios e, portanto, componentes indiscutíveis e indispensáveis de todo e qualquer plano de negócios. Nem mais e nem menos importante, mas como todas elas, fazendo parte de um conjunto que não pode ser visto de forma separada ou independente, posto que são atividades interdependentes.