O que um livro sobre corrupção no mundial da África do Sul ensina ao Brasil para 2014

Publicado em
03 de Maio de 2010
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Quando foi criada, em 1904, e em suas primeiras décadas de vida, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) era pouco mais que um grupo de trabalho para organizar competições entre seleções. Hoje é melhor equipará-la a uma multinacional, dona do monopólio sobre um produto bilionário: a Copa do Mundo. Sempre se discute se sediar a Copa é bom para a economia de um país os estudos não são concludentes , mas uma coisa é certa: para a Fifa, é. Jogador e juiz: conflitos de interesse e a Copa de 2010, um livro recém-lançado na África do Sul por jornalistas locais e britânicos, mostra que é até bom demais.

O jogador e o juiz, no caso, é a Fifa, que se arroga o direito de escolher empresas sem licitação para fornecer ingressos e quartos de hotel, por exemplo. Contratos para a construção de estádios e outras obras de infraestrutura também são oportunidades únicas para corrupção. Segundo o livro, essas oportunidades foram bem aproveitadas na África do Sul.

Uma das conclusões do livro não chega a ser uma novidade que os governos dos países organizadores abrem mão de autonomia para se curvar a todas as exigências da Fifa , mas quando o relato entra nos detalhes das obras surgem algumas lições válidas para o Brasil, próximo país sede, daqui a quatro anos. Inicialmente se falava em um gasto de R$ 540 milhões com obras para a Copa; a fatura final ficará mais próxima de R$ 4 bilhões. No Brasil, prevê-se gastar R$ 1,4 bilhão para reformar um único estádio, o Maracanã. E serão 12 estádios em 2014, a menos que o atraso nas obras leve a Fifa a reduzir esse número. Por mais que a mão de obra sul-africana seja menos cara que a brasileira, há aí um disparate evidente. Somado, o custo de construção ou reforma dos 12 estádios brasileiros para a Copa chega a R$ 6,3 bilhões, bem mais que a África do Sul terá gastado com tudo: estádios e obras de infraestrutura.

A dificuldade em avaliar corretamente quanto custam obras tão grandes facilita a corrupção. O atraso nas obras também nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, ele serviu de pretexto para a contratação de diversas empresas sem licitação. Pouquíssimas iniciativas têm ocorrido. Se por causa do atraso os investimentos de Estados e municípios forem assumidos pelo governo federal, os gastos vão ficar muito maiores, diz o deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP), presidente da subcomissão da Câmara que fiscaliza a Copa de 2014.

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