Artigo escrito por Marcos Aurélio da Costa (*)
O setor logístico amargou consecutivos anos de queda de investimentos com números bastante negativos, especialmente nos últimos dois anos. Embora nosso desejo seja de mudanças que causem uma reviravolta mais que aguardada no setor, a agenda será a mesma em 2017. Lembrando que este artigo não tem a ver com adivinhações, apenas com uma boa leitura dos números, da economia, dos fatos, das necessidades do país e das previsíveis ações do jogo político.
Apreensivos e com uma economia ainda fatigada no primeiro semestre, só experimentaremos mesmo algum resultado positivo na segunda metade do ano, onde a economia começará a dar sinais de recuperação. E então, é bom que tenhamos um redimensionamento, rápido e preciso, das questões que envolvam investimentos para 2018 para que os números não entrem em declínio novamente.
2018 nos reservará melhores estimativas do que 2017. E isso se dará pelo fato de que os três últimos anos (2015, 16 e 17) tenham sido absolutamente insatisfatórios para o segmento logístico, mas com o aumento da demanda que provirá do melhoramento da economia, deveremos presenciar, mais uma vez, a “obrigação” de se investir em logística – infelizmente, visto dessa forma há anos.
Será 2017 o ano em que o Brasil se convencerá definitivamente que investir em logística é dar vários passos à frente? Países que adotaram um caminho de crescimento contínuo nos ensinaram que é necessário ter foco em infraestrutura logística para fomentar diversos segmentos econômicos, o que não ocorre no Brasil, pois vimos programas que previam investimentos na área serem esquecidos com qualquer tropeço da economia ou com a mudança dos ventos políticos. Equivocadamente temos uma logística que sobrevive da economia e não uma economia que se desenvolve diante de uma infraestrutura logística adequada.
Bem que gostaríamos de noticiar um avanço para 2017 e comemorarmos os investimentos que o setor tanto precisa, mas os que foram anunciados ainda são incertos diante de um desequilíbrio econômico em que o país está mergulhado. Os cortes e o congelamento orçamentário nos levam a duvidar se os R$ 13 bi previstos para 2017 serão mesmo empenhados. O próprio valor já nos dá uma amostra de que o Brasil ainda não aprendeu a investir, pois as rodovias terão 70% dele. Não que investir em rodovias não seja uma necessidade, é que na verdade continuamos alimentando uma matriz logística ultrapassada, onde as rodovias ainda ditam o preço de nossos produtos e tornam os demais modais de transporte reféns de sua precariedade. Aliás, segundo estudo divulgado em 2016 pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), com a atual situação, só as rodovias necessitariam de R$ 292,5 bi e as ferrovias de R$ 281,5 bi para se adequarem às demandas da movimentação econômica brasileira.
Enquanto isso, com as necessidades de soluções para as exportações brasileiras, que representam apenas 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média em outros países, segundo o Banco Mundial, é de 29,8%, ficamos na dependência, única e exclusiva, de investimentos privados através de concessões para as quais o governo não clarifica regras.
É doloroso ver o desinteresse pela área logística tão evidente no Brasil. Cada ano que não investimos em infraestrutura representa mais dois na recuperação do tempo em meio à competitividade imposta pelos mercados internacionais. R$ 151 bi são perdidos por ano devido à falta de investimentos básicos para manter a infraestrutura existente. Contudo, a Logística é ferramenta de superação e atravessaremos mais esse ano com muito trabalho e dedicação. E que essa dor que mencionei possa fazer o país perceber que 2017 poderia ser um ano bem diferente.
Então, você pode estar se perguntando o que deve ser feito no campo profissional em 2017 com um ano assim tão “parado”. Este é o momento em que a busca por uma melhor qualificação profissional será fator determinante para manter-se no mercado ou se reinserir nele. São essas dificuldades que revelam profissionais diferenciados, e a Logística é craque nisso. Aquele velho hábito de investir em qualificação apenas quando o mercado está aquecido é algo que deve ser deixado para trás. Serão mais de 13 milhões de desempregados e aqueles que investirem corretamente em si mesmos estarão fora desta soma.
(*) Marcos Aurélio da Costa foi Coordenador de Logística na Têxtil COTECE S.A.; Responsável pela Distribuição Logística Norte/Nordeste da Ipiranga Asfaltos; hoje é Consultor na CAP Logística em Asfaltos e Pavimentos (em SP) que, dentre outras atividades, faz pesquisa mercadológica e mapeamento de demanda no Nordeste para grande empresa do ramo; ministra palestras sobre Logística e Mercado de Trabalho.