O problema dos caminhões em São Paulo tem solução, por Mauro Roberto Schlüter*

Publicado em
19 de Março de 2012
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Na semana passada escrevi um texto aqui na Newslog sobre o polêmico assunto dos caminhões no trânsito de São Paulo.

O texto era claro na crítica ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, em razão da sua inépcia em tratar o problema dos constantes e crescentes congestionamentos na cidade de São Paulo.

Kassab simplesmente apontou o seu dedo para os caminhões e elegeu-os como “o problema” e sendo assim tratou de erradicá-lo pela força da lei. Para um leigo que, por certo desconhece ciência logística, não há o que discutir: caminhões são lentos, poluidores, difíceis de manobrar e atrapalham sobremaneira o deslocamento dos automóveis.

O prefeito esqueceu (ou não quis saber), de analisar as conseqüências que tal ato traria, não só para São Paulo, seu comércio, indústria e população de modo geral, mas também para as demais regiões adjacentes a São Paulo.

Por conta dos estragos feitos por Kassab, a entrega de produtos hoje na cidade de São Paulo anda na contramão dos objetivos da logística (as tarifas estão mais caras e os prazos de entrega nitidamente incertos).

Quando a impedância de tráfego aumenta, por óbvio as tarifas seguem a mesma proporção. O bom senso sugere que o problema dos congestionamentos na cidade de São Paulo não pode mais ser enfrentado com meras soluções incrementais, mas sim ser enfrentado de forma sistêmica, o que coloca os caminhões apenas como uma pequena parte do problema e não o seu foco como o prefeito quer que acreditemos.

O mais interessante de tudo é que esta parte do problema dos congestionamentos (o tráfego dos caminhões) tem solução. Cabe, porém um questionamento: Existe interesse para solucionar a parte do problema que leva a culpa pelo todo?

Não existe interesse em trazer a tona um problema em que a prefeitura e os motoristas de veículos particulares (e por conseqüência eleitores), têm participação majoritária.

Não é objetivo deste texto elaborar sugestões ou soluções sistêmicas para o tráfego de São Paulo, uma vez que estas precisam ser amplamente negociadas com a sociedade.

O objetivo deste texto é sugerir que existem soluções inteligentes e factíveis no curto prazo com relação ao tráfego de caminhões nas principais avenidas de São Paulo.

O transporte rodoviário de cargas nas grandes cidades do país precisa ser regulamentado, não de forma restritiva, mas de forma facilitadora. Isto significa que a cada lei que restringe circulação de veículos do transporte rodoviário de cargas (sejam caminhões, furgões, picapes, etc.), deverá haver algum tipo de elemento facilitador por parte do poder público, seja ele estrutural ou funcional.

No caso da complexidade do tráfego da cidade de São Paulo, sugere-se que as atividades das empresas de transporte rodoviário de cargas sejam organizadas para que sua localização ocorra além do anel rodoviário.

Assim a cidade de São Paulo não seria mais o hub de crossdocking das transportadoras que levam e trazem cargas do sul para o norte e do norte para o sul do país.

Para a cidade de São Paulo e suas cidades vizinhas, a melhor solução seria a construção de “Plataformas Logísticas Urbanas”, especialmente planejadas para atender as demandas de regiões específicas de coleta e entrega de São Paulo e cidades contíguas.

O conhecimento para a realização destes projetos já existe em grande parte das universidades brasileiras, tanto públicas quanto particulares (dentre elas a Mackenzie da qual sou pesquisador).

A solução para o problema dos caminhões existe, mas infelizmente não consigo constatar vontade dos gestores públicos para efetivamente solucioná-lo.

*Mauro Roberto Schlüter é Professor de Logística da Universidade Mackenzie Campinas
Diretor do IPELOG

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