O princípio de Peter/Hull na logística, por Mauro Roberto Schlüter*

Publicado em
05 de Agosto de 2013
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É provável que em algum momento da sua vida de profissional na logística (ou administração), você já tenha se deparado com a expressão “todo mundo é incompetente, inclusive você”.

Este expressão é o título de um livro, e também de uma teoria de gestão de pessoas, desenvolvido por Laurence Peter e Raymond Hull. Esta teoria afirma que todos os profissionais, em qualquer setor de atividade, na medida em que são promovidos tendem a encontrar o seu nível hierárquico onde alcança a ausência de conhecimento técnico e prático, ou pura e simplesmente a sua incompetência.

Este princípio possui dois corolários em seu enunciado. O primeiro é a base do princípio e afirma cada posto tende a ser ocupado por alguma pessoa sem capacidade de exercê-lo.

O segundo corolário do princípio de Peter-Hull afirma que o trabalho é realizado pelos funcionários que ainda não alcançaram o seu nível de incompetência. Os autores citam diversos exemplos para corroborar a sua teoria, que vão de Sócrates a Hitler.

Muitos pesquisadores de gestão não concordam com esta teoria, principalmente pela generalização da sua ocorrência.

Certamente o nosso sistema empresarial evoluiu sobremaneira e a teoria, que foi lançada em 1969 nos Estados unidos, não evoluiu.

Diante disso, faço coro aos críticos, mas somente em relação à excessiva generalização e não aos demais fundamentos da teoria.

O recrudescimento da competitividade em boa parte dos setores da economia tratou de colocar a meritocracia como seletor de ascendência profissional via indicadores de desempenho e com isso a teoria teve a sua aplicação mais restrita, mas não significa o seu desaparecimento.

Quando se trata de logística, a aplicação da teoria de Peter-Hull fica ainda mais restrita em razão da fácil constatação da incompetência através da excessiva exposição do desempenho da logística nas empresas.

Mas isto não significa que não ocorra e certamente todos tem um exemplo. Veja por exemplo o caso de empresas com gestão familiar, onde a promoção na maior parte dos casos se dá por afetividade e não por meritocracia.

Isto ocorre em muitas empresas de transporte rodoviário de cargas.

Sinais evidentes são obtidos no nosso dia-a-dia através das dificuldades de manutenção dos resultados, principalmente quando surge algum tipo de crise de mercado.

Presume-se que esta teoria seja mais atenuada em empresas com gestão profissionalizada, mas da mesma forma que ocorre em empresas de transporte rodoviário de cargas, não significa que não aconteça.

Já constatei alguns poucos casos que ocorrem em empresas operadoras logísticas. Em um dos casos que tive acesso, um posto de diretor foi preenchido por um profissional que não possuía flexibilidade em relação a sua capacidade técnica.

Pelo fato de ter vindo de um setor correlato, inexistia conhecimento empírico e constatou-se que o conhecimento técnico carecia de desenvolvimento.

O resultado apontou claramente para a ocorrência do segundo corolário do princípio de Peter-Hull, onde os funcionários subalternos exerciam as tarefas que deveriam ser designadas ao diretor (e seu cargo).

Alguns até poderiam inferir que a competência do cargo de um diretor não é a execução de tarefas, mas sua delegação, o que poderia ser verdade não fosse a constatação de uma consequência: o assédio moral.

Era flagrante a excessiva carga de trabalho delegada ao gerente comercial, desencadeando na necessidade de trabalho além do expediente normal (e contratado), nos finais de semana e inclusive nas férias.

A incompetência do superior é campo fértil para o assédio moral dos subordinados, na medida em que o superior atinge o seu limite hierárquico de incompetência.

Por:
Mauro Roberto Schlüter
Professor de Logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie - Campus Campinas
Diretor do IPELOG

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