O preço e o resultado do ajuste no sistema logístico do país, por Mauro Roberto Schlüter

Publicado em
01 de Outubro de 2012
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Poucos se deram conta do que estamos prestes a experimentar em relação ao sistema logístico do país. Um sistema logístico até então acostumado às ineficiências estruturais, encontrava nos caminhoneiros autônomos e em boa parte dos motoristas das transportadoras, a sua flexibilidade de ajuste entre oferta e demanda de transporte de cargas.

A nova lei que restringe o horário de jornada de trabalho vai diminuir a capacidade de transporte de cargas do modal rodoviário e isto vai causar um ajuste no sistema logístico do país.

A primeira modificação ocorrerá nas tarifas de transporte das empresas do modal rodoviário. Dependendo da elasticidade do preço decorrente da curva demanda versus oferta, as tarifas poderão sofrer reajusta em um intervalo entre 15% a 30%.

Alguns poderiam afirmar que bastaria colocar mais motoristas de caminhões, mas isto está longe de ocorrer. A formação de um motorista de carreta e que transporta produtos químicos, demora cerca de dois anos e meio, na melhor das hipóteses.

Outro aspecto que deve ser considerado é a renda percebida por estes profissionais. No caso dos autônomos, haverá uma retração da receita decorrente da menor utilização do veículo e no caso dos motoristas que são funcionários de transportadoras, o salário será menor por conta da erradicação da produtividade.

A profissão perderá a sua atratividade, a menos que parte do aumento dos fretes seja repassado ao salário dos motoristas e frete carreteiro, o que é mais provável que ocorra. Ainda assim teremos um intervalo de tempo até que haja um ajuste entre a demanda e a oferta.

Durante um período, a carga não absorvida pelas transportadoras rodoviárias terá de achar outros meios para ser transportada e neste contexto sobram os modais ferroviário e hidroviário.

Neste caso o cenário também se mostra preocupante. A falta portos na costa brasileira diminui consideravelmente a disponibilidade de janelas de tempo para atracação das embarcações.

Neste contexto, a solução é construir mais portos e isto é algo que demanda muito mais tempo do que a formação de motoristas, não só pela etapa de construção civil, mas também pelos estudos de impacto ambiental.

O último cenário sugere que resta ao modal ferroviário absorver o excedente de cargas. Esta derradeira alternativa também vai cobrar o seu preço sob a forma de um realinhamento tarifário nos mesmos percentuais que o modal rodoviário. Além disso, também haverá um período de adaptação decorrente da necessidade de formação de novos maquinistas.

Este verdadeiro imbróglio é consequência da falta de um planejamento estratégico governamental negligenciado pelo governo Lula e muito mal feito no governo FHC.

Ainda que “rebobinar fita” para muitos não seja produtivo ou interessante, há que se buscar as causas para que pelo menos não sejam repetidas.

Seja como for, o custo do alinhamento do sistema para um novo ponto de equilíbrio cobrará um preço alto em relação à competitividade do país e não se pode imaginar que o status atual e futuro será este.

Outros acontecimentos ainda poderão ocorrer e como preconizava Von Bertalanffy (criador da Teoria Geral dos Sistemas), poderá gerar momentos de caos e ajustes incrementais.

Um desses acontecimentos é a criação de uma empresa transportadora pelos caminhoneiros autônomos. Embora isto não encontre apoio entre os políticos (sindicalistas e governo), e empresários (transportadoras e usuários do sistema), pode acontecer e neste contexto, o que é preciso fazer para que o país mantenha o nível de competitividade logística atual (que já é ruim)?

Por:
Mauro Roberto Schlüter
Professor de Logística da Mackenzie Campinas
Diretor do IPELOG

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