O Perigoso Enfraquecimento do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) no Brasil

Publicado em
05 de Julho de 2012
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Artigo escrito por Marco Antonio Oliveira Neves, Diretor da Tigerlog Consultoria e Treinamento em Logística Ltda.

O transporte tem como finalidade primária equalizar o diferencial espacial e econômico entre a disponibilidade de bens e serviços e a sua demanda, ou seja, tem como missão principal aproximar mercados.

Sem um transporte adequado, empresas e nações perdem competitividade, comprometendo a viabilidade econômico-financeira de seus produtos e serviços.

Embora o Brasil apresente dimensões continentais que justificassem a utilização do modal ferroviário e aquaviário em larga escala principalmente nas médias e longas distâncias, somos um país com predomínio de transporte rodoviário de cargas, muito em função da priorização dos investimentos realizados pelo setor público nas últimas décadas, mas também por outros fatores como a falta de regulamentação do setor, excesso de transportadores no mercado e pela incapacidade dos outros modais de realizar um bom atendimento aos Clientes.

Por que falar então em enfraquecimento do TRC se o modal rodoviário responde por aproximadamente 65% do total movimentado no Brasil?

Vários são os fatores que estão levando à "perigosa" deterioração do setor de transporte rodoviário de cargas no Brasil.

Um deles é a total ausência do poder público no desenvolvimento e atualização da infraestrutura de transporte. Na última década foi investido uma média de (apenas) 0,20% do PIB ao ano, enquanto que outros países em desenvolvimento direcionam cifras equivalentes a 5% a 10% do PIB a cada ano.

Não precisaríamos de uma Copa do Mundo ou Olimpíadas para justificar tais investimentos; isso deveria ser um "dever de casa" dos órgãos públicos, para garantir a expansão econômica do país, alicerçada em custos competitivos, alta produtividade e serviços diferenciados.

E não faltam recursos para tal; apenas a CIDE (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico) arrecadou mais de 70 bilhões entre 2002 e 2011, porém menos de 25 por cento disso foi efetivamente investido na infraestrutura de transportes.

As condições precárias das estradas brasileiras afetam diretamente os custos e o nível do serviço prestado pelo setor de transportes. Pesquisa da CNT aponta que estradas em estado de conservação ruim geram um acréscimo de mais de 65% nos custos operacionais; se péssimo, vai a mais de 91%!

Enquanto que a UPS, a DHL e a Fedex entregam mercadorias em até 48 horas em mais de 200 países do mundo a partir dos Estados Unidos e da Europa, no Brasil precisamos do mesmo prazo para entregar de uma cidade a outra, dentro de um raio de 500 km.

A falta de regulamentação do mercado de transportes também afeta o nível de competitividade do setor, pois leva ao "nivelamento" das empresas por baixo.

Mesmo com a nova lei que trata da jornada de trabalho do motorista profissional (lei 12.619), ainda faltam eficientes mecanismos de controle para viabilizar uma evolução qualitativa do setor.

A verdade é que existem poucas barreiras para novos entrantes no mercado, mas muitas barreiras para a saída. Com a grande quantidade de empresas no mercado, a maioria de micro e pequeno porte, reduzimos o poder de barganha das Transportadoras ao negociar com seus Clientes.


*Marco Antonio Oliveira Neves é Diretor da Tigerlog

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