O mercado brasileiro justifica qualquer investimento

Publicado em
10 de Março de 2014
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O agronegócio brasileiro tem impulsionado o PIB e, por consequência, as vendas de caminhões. No ano passado, as montadoras colocaram nas estradas 104 mil veículos para transporte de carga, das categorias de pesados e extrapesados, um volume 19% acima do registrado em 2012. Embalada pelos negócios no campo, a sueca Volvo, pela primeira vez em quase 20 anos, conseguiu superar a Ford e assumir a terceira posição no ranking de vendas, atrás apenas das alemãs MAN e Mercedes-Benz. Agora, o desafio é manter essa conquista a todo custo. “Vamos investir US$ 320 milhões em nossa operação para garantir nossa participação no País”, diz o presidente da subsidiária latino-americana, Roger Alm, à DINHEIRO. Os investimentos se justificam plenamente, segundo ele. “O Brasil é o segundo maior mercado da marca no mundo, depois dos Estados Unidos”, afirma Alm. A seguir, os principais trechos da entrevista.
 
DINHEIRO: No ano passado, o mercado de caminhões se expandiu, principalmente, em função do agronegócio. O sr. acredita que o mesmo ocorrerá neste ano?
ROGER ALM: Na categoria acima de 16 toneladas, aquela em que participamos, foram vendidas 103 mil unidades no ano passado. Acredito que, em 2014, haverá um pequeno crescimento, para cerca de 105 mil unidades. É claro que esse crescimento ocorrerá se não tivermos surpresas desagradáveis com a linha de crédito do Finame, do BNDES. De 2012 até agora, o juro para aquisição de caminhões e ônibus subiu de 4% para 6% ao ano. Além disso, a fatia financiada baixou de 100% para 90%, entre as pequenas e médias empresas, e de 90% para 80%, no caso das grandes empresas transportadoras.
 
DINHEIRO: E o que seria um Finame sem surpresas?
ALM: Um Finame sem surpresas é aquele em que os clientes recebem o crédito sem obstáculos. As regras foram mudadas no fim do ano passado e os bancos, até janeiro, ainda não tinham se adaptado.
 
DINHEIRO: A concessão de crédito pelos bancos está mais rigorosa?
ALM: Não, a concessão de crédito melhorou. Mas a mudança no processo para obter o financiamento pode atrapalhar o recebimento dos recursos para a compra dos caminhões. Essas alterações ocorreram no fim do ano, e o que a gente espera é que o processo se normalize e os bancos agilizem a liberação de crédito. Em janeiro, o setor ainda teve problemas, mas já está se normalizando.
 
DINHEIRO: Então, o problema da falta de crédito já foi resolvido?
ALM: O problema não é a liberação, mas a demora. O dinheiro demora a chegar na mão do comprador. O crédito para o cliente está saindo lentamente por causa da nova regra. O que ocorreu, na verdade, foi uma mudança no sistema para se habilitar ao financiamento.
 
DINHEIRO: As eleições e a Copa do Mundo não devem melhorar as vendas de caminhões?
ALM: Existem vários aspectos que devem ser levados em consideração. Primeiro, o crescimento da economia, que, segundo as expectativas, não será bom neste ano. Mas temos de lembrar que o mercado de caminhões registrou um crescimento de quase 20% entre 2012 e 2013. É um desempenho muito forte, que não deve se repetir neste ano. O mercado brasileiro, com 105 mil unidades, justifica qualquer investimento.
 
DINHEIRO: O sr. acredita que o PIB crescerá mais neste ano?
ALM: Nós trabalhamos com os índices oficiais, de cerca de 2%. Não será o melhor dos mundos. Por isso, o mercado de caminhões não deve repetir o que vimos nos últimos anos.
 
DINHEIRO: Algumas montadoras tradicionais entraram no segmento de caminhões pesados. É o caso da Ford e da Iveco, além de montadoras como a holandesa DAF, que já começou a vender caminhões nessa faixa. Será mais difícil competir nos próximos anos?
ALM: Temos uma estratégia muito agressiva para o Brasil. Nos últimos quatro anos, saímos de uma participação de 12,8% para 20%. Trata-se de um crescimento considerável. Os números falam por si. Temos uma oferta de produtos forte e adequada ao mercado, uma rede de distribuidores que está se expandindo. Aumentamos a capacidade da nossa fábrica em Curitiba. A Volvo pode montar até 30 mil caminhões por ano nessa unidade. Segundo uma pesquisa da Fenabrave (a entidade que representa as concessionárias de veículos no País), fomos a marca de caminhões mais desejada do Brasil. Isso mostra um reconhecimento grande de tudo que estamos fazendo no mercado brasileiro, o que nos motiva a continuar nesse caminho. As concorrentes terão muito trabalho pela frente.
 
DINHEIRO: A aceleração das vendas da Volvo, no ano passado, tirou da Ford a terceira posição no ranking de vendas de caminhões pesados, colocação que ocupava havia quase 20 anos. Como a Volvo pretende se manter nessa posição?
ALM: O mercado total não é o nosso foco. Mas, mesmo assim, nos deixou muito felizes essa conquista. Isso é mais uma prova de que os clientes estão reconhecendo nosso trabalho e nossa qualidade. Agora, os nossos esforços serão concentrados nos segmentos em que atuamos. Vamos reforçar nosso portfólio de produtos no Brasil, a partir deste ano. Afinal, o mercado brasileiro é o segundo para a marca Volvo no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. E estamos bem perto da operação americana.
 
DINHEIRO: O plano de investimentos da Volvo é de US$ 500 milhões. Há mais recursos em vista?
ALM: Sim, esse dinheiro foi quase todo investido. Não sobrou muito. Essa é a razão para um novo investimento na operação a partir deste ano. Ao todo serão aplicados outros US$ 320 milhões. O dinheiro já foi aprovado. Esses recursos serão gastos em pesquisa e desenvolvimento, na compra de ferramental para fornecedores, na nova linha de produção na nossa fábrica paranaense e na busca de fornecedores locais. A ideia é chegar a mais de 70% do índice de nacionalização de nossos produtos ao final desses investimentos. Precisamos disso para vender nossos caminhões. Afinal, 90% de nossas vendas são financiadas pelo Finame, que exige tal índice. Para o cliente conseguir esse empréstimo, é preciso ter, no mínimo, um índice de 60% de peças nacionais.
 
DINHEIRO: A matriz sueca anunciou o corte de 4,4 mil postos de trabalho nas operações globais da Volvo, no início de fevereiro. Isso vai incluir a operação brasileira?
ALM: Não, estamos livres desse ajuste. Nossa operação é muito bem avaliada pela matriz. Prova disso são os investimentos que anunciamos. A matriz quer reforçar a presença da marca na América Latina. Além de caminhões e ônibus, produzimos motores, caixas de câmbio e equipamentos de construção e abastecemos toda a região.
 
DINHEIRO: A rede de concessionários vai receber investimentos para expansão? Ou está no tamanho ideal para a operação atual?
ALM: Não, temos sempre de aprimorar também o atendimento ao cliente. Por isso, vamos investir em conjunto com os parceiros na expansão da nossa capilaridade. Este ano, devemos inaugurar mais dez revendas e fechar o ano com 100 pontos de atendimento em todo o Brasil. Além disso, nosso plano é expandir a rede de serviços. De que adianta vender mais caminhões e não ter uma estrutura adequada de atendimento quando o veículo do cliente está em manutenção? Então, vamos abrir mais 400 boxes de serviços em toda a nossa rede de concessionárias. A ideia é ter 2,2 mil locais para trabalhos de manutenção leve e pesada em nossos caminhões.
 
DINHEIRO: A Volvo mantém algum serviço de oficina remota dentro da empresa do cliente?
ALM:Temos para clientes cujas operações são mais severas, como em mineração ou no plantio de cana-de-açúcar, que chamamos de fora de estrada. Para clientes rodoviários, não temos esse programa, mas oferecemos uma rede bem ampla, que pode atender seu caminhão em qualquer ponto do País. Além disso, a venda de nossos modelos sempre é atrelada a contratos de manutenção preventiva. O que percebemos é que, nos últimos três anos, têm aumentado os planos que garantem uma manutenção mais completa. Em 2010, esse tipo de acordo representava 3% das vendas; no ano passado, chegou a 17%. Em 2014, deverá passar de 20%.
 
DINHEIRO: Essa nova linha de produtos seria a aguardada nova marca da Volvo no mercado brasileiro?
ALM: Não. Ainda estamos avaliando esse projeto de trazer uma nova marca. Hoje, temos cinco marcas de caminhões em operação no mundo: a Volvo, a Renault, a Mack, a UD e a Eicher. E já anunciamos que vamos trazer uma segunda marca para o mercado brasileiro, porque acreditamos que há espaço para isso. Mas não definimos com qual delas vamos trabalhar aqui. Os estudos estão em andamento.
 
DINHEIRO: Quando será lançado, então, esse novo produto?
ALM: Será no segundo semestre. Nossos engenheiros já estão trabalhando no projeto. É um produto que vai nos garantir um bom desempenho no segmento em que atuamos.

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