Número de operários mortos em acidentes em SP triplica, diz sindicato

Publicado em
09 de Dezembro de 2013
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Foram 21 mortes neste ano, mais do que as 7 registradas em 2012. Dados são do Sindicato da Construção Civil em São Paulo.

Os dois operários que morreram na última semana na construção da arena do Corinthians engrossam uma estatística nada animadora para o setor da construção civil na cidade de São Paulo. O número de mortes subiu de para  21 neste ano, o triplo dos 7 registrados em 2012. Os dados são do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon).

Já o número de operários que foram vítimas de acidentes em 2013, o que inclui também feridos, foi de 6.178, 414% mais que os 1.386 registros em todo o ano passado.

Entre os mortos estão os dois operários que trabalhavam no estádio e as dez pessoas que morreram em um desabamento de um edifício em obras em São Mateus, na Zona Leste, em agosto.

Para o presidente do Sintracon e deputado estadual, Antonio de Sousa Ramalho (PSDB), vários fatores contribuíram para os resultados. Ele cita a pressa de alguns empresários visando ganhar um pouco mais, a inoperância do Ministério do Trabalh, a falta de fiscalização de obras na periferia de São Paulo e "erros inaceitáveis de engenharia". Ele afirma que muitos projetos são mudados após serem aprovados e depois o construtor consegue aprovar as alterações. "Qual o limite que um engenheiro tem para mudar um projeto?" questiona.

O sindicato coleta os dados junto às construtoras e diz que eles podem ser ainda maiores no caso de feridos, já que dependem do relato por parte das empresas, que às vezes tentam esconder números.

O vice-presidente do sindicato das construtoras Sinduscon-SP, Haruo Ishikawa, afirma que as condições vêm melhorando nos últimos anos e que hoje “é inconcebível que um operário more na obra”. Ele afirma que o acidente em São Mateus, que sozinho foi responsável por dez mortes, deixou o número de óbitos em 2013 bastante acima da média. Ele afirma que obras clandestinas prejudicam todo o setor. A obra em questão, na Avenida Mateo Bei, estava irregular e, mesmo após a subprefeitura constatar o fato, continuou a ser construída.

Haruo cita como exemplo o fato de o uso de gruas, há dez anos, não seguir uma norma técnica. Atualmente, há regras para operar a estrutura.

Evolução
O número de acidentes e de vítimas hoje é, de fato, menor do que o registrado no início dos anos 90. Em 1995, por exemplo , foram 138 acidentes fatais na cidade.

Se considerado o número total de acidentes com vítimas (mortes e feridos) nos últimos anos, no entanto, há uma tendência de alta. Foram 886 em 2010 contra 1.537 neste ano.

MAPA desabamento Arena Corinthians (28/11) (Foto: Editoria de Arte/G1)

Investigação
O operador de guindaste que era usado no momento do acidente do estádio do Corinthians, José Walter Joaquim, de 56 anos, negou em depoimento no dia 4 ter cometido qualquer falha que pudesse ter causado o acidente que deixou dois mortos nas obras do estádio do Corinthians. Durante a instalação da última peça da cobertura, a estrutura e o guindates desabaram no último dia 27, matando dois operários.

Tanto o advogado Carlos Kauffmann, que defende o operador, quanto o delegado do caso, Luiz Antonio da Cruz, disseram que Joaquim não soube apontar a causa do tombamento. "Ele sustentou que não falhou em nada. (...) Ele não sabe o que causou a queda", disse o delegado.

Entretanto, defesa e Polícia Civil admitem que o operário relatou ter percebido que havia risco de acidente e tentado corrigir a situação antes do tombamento da peça e da máquina. Joaquim foi ouvido no 65º Distrito Policial, em Artur Alvim, na Zona Leste de São Paulox, por aproximadamente duas horas na condição de testemunha.

Policiais ouvidos pela reportagem disseram que operador declarou em depoimento que o solo sobre o qual o guindaste estava apoiado apresentou problema.

Parentes de Joaquim que estiveram na delegacia pela manhã também afirmaram que o operador comentou que o solo estava instável. De acordo com essas pessoas, que não quiseram se identificar, o operador deveria sustentar em seu depoimento que o solo cedeu, fazendo com que o equipamento e a peça tombassem.

O operador cuidava de um guindaste que suporta carga de até 1,5 mil toneladas. Ele içava uma peça de 420 toneladas quando a estrutura e a máquina tombaram sobre parte do estádio, atingindo o motorista Fábio Luiz Pereira, de 41 anos, e o montador Ronaldo Oliveira dos Santos, de 43. Eles trabalhavam para empresas terceirizadas. A construção do estádio está sendo conduzida pela parceria entre a Odebrecht e o Corinthians.

A “caixa-preta” do guindaste foi retirada no dia 2 pelos fabricantes do veículo e entregue à perícia da Polícia Técnico-Científica para análise.

Além da Polícia Civil, peritos do IC da Polícia Técnico-Científica apuram o caso para descobrir, entre três hipóteses prováveis, se o que o ocorreu foi causado por falha humana (do operador do guindaste), mecânica (devido algum problema da máquina) ou do terreno (pela inconformidade do solo, que teria tombado o aparelho).

Segundo a Fifa, o estádio ficará pronto no meio de abril.

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