Novo estudo encomendado pela Odebrecht aponta que contrapeso do guindaste estava errado

Publicado em
05 de Agosto de 2014
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Um novo estudo sobre o acidente acontecido com um guindaste na Arena Corinthians, em novembro de 2013, aponta que o contrapeso da máquina estava maior do que deveria. O relatório foi encomendado pela Odebrecht, construtora do estádio, e realizado por Fernando Mattos, perito e mestre em engenharia pela USP (Universidade São Paulo). A fabricante do guindaste é a empresa alemã Liebherr, já a responsável por manuseá-lo é a Locar Guindastes & Transportes Intermodais.

Segundo primeiras informações publicadas pelo jornal "Folha de S. Paulo", houve um erro na operação do guindaste. Na hora do acidente, o contrapeso utilizado era de 500 toneladas-força, quando, na verdade, deveria ser de 460 toneladas-força, de acordo com a análise do perito. Isso indicaria no "plano de rigging", projeto técnico das operações necessárias durante a movimentação de cargas com equipamentos de transportes verticais móveis.

Em 27 de novembro do ano passado, duas pessoas que trabalhavam nas obras da Arena Corinthians morreram depois que o superguindaste de 1,5 mil toneladas despencou.

- Meu estudo foi encomendado pela Odebrecht logo na época do acidente, em dezembro, e abrangeu só a parte de cima do solo, a parte do guindaste. Encontramos elementos bastantes conclusivos sobre o caso -afirmou o engenheiro Fernando Mattos ao LANCE!Net, no primeiro momento em que foi procurado.

Depois, em novo contato por e-mail , feito a pedido de Mattos, ele disse que só poderia revelar o teor e as conclusões do estudo depois da autorização expressa da Odebrecht, empresa contratante. E ressaltou que é uma "prática normal do mercado de obras de infraestrutura contratar especialistas e consultores de sua confiança para apurar as causas de eventuais sinistros e a partir daí tomar as ações necessárias para se evitar a reincidência de problemas parecidos em outras obras".

Este é o quarto estudo realizado sobre o caso. No início de abril, análise encomendada pela fabricante do guindaste, a Liebherr, e realizado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), apontou falha no solo. Duas semanas depois, a Odebrecht divulgou estudo contratado por ela, feito pela GeoCompany, que descartou a hipótese de o solo ter causado o acidente.

Já em julho, foi a vez de o Instituto de Criminalística da Polícia Civil, que realizou o primeiro estudo independente, divulgar laudo, afirmando que "a compactação do ’solo superior’ não foi suficiente para aguentar o peso do guindaste". Nove pessoas, sendo sete funcionários da Odebrecht e dois da Locar, já foram indiciadas pela polícia.

Procuradas pela reportagem do LANCE!Net, a Odebrecht e a Locar se pronunciaram.

O que diz a Locar:

"Com relação ao acidente ocorrido em 27 de novembro do ano passado durante as obras da Arena Corinthians, a Locar Guindastes e Transportes Intermodais entende não serem válidos quaisquer estudos particulares contratados por empresas envolvidas no processo. A Locar reconhece o único laudo oficial, elaborado pelo Instituto de Criminalística e de conhecimento público desde junho passado, que aponta o solo — cuja preparação, nivelamento e estabilidade não eram de sua responsabilidade conforme contrato e ata celebrados antes do início dos trabalhos—, como a exclusiva razão da queda do guindaste.

Por fim, a Locar repudia qualquer tentativa de desqualificar este fato determinado no laudo oficial do Instituto de Criminalística, e entende que tais atitudes demonstram apenas tentativas de confundir a opinião pública acerca dos acontecimentos. E reitera sua total confiança na independência e seriedade da Justiça brasileira para o aclaramento da verdade e a responsabilização dos culpados."

O que diz a Odebrecht:

“Laudo de autoria do professor Fernando Cézar de Mattos, engenheiro mecânico e mestre em engenharia pela Escola Politécnica da USP na área de Projeto e Fabricação, revela que a causa matriz do acidente com o guindaste Liebherr LR 11350, ocorrido em novembro de 2013, nas obras da Arena Corinthians, está no fato de que os responsáveis pela operação do equipamento, todos funcionários da empresa Locar, surpreendentemente não seguiram o plano de rigging, elaborado, avaliado e previamente aprovado, que define de que forma o guindaste deve pegar cada peça em sua posição inicial e lança-la na sua posição final.

É esse plano que garante a segurança na movimentação e içamento de qualquer tipo de carga, bem como define, por meio de cálculos, desenhos, análises e pesquisas de campo, o tipo e a configuração do equipamento a ser utilizado na operação e como deve se desenvolver sua preparação. A título de comparação, ele é tão importante e fundamental como o plano de voo de um avião, que não pode ser desobedecido pelo piloto, a seu critério. Entre as conclusões do estudo está o fato de que o contrapeso do guindaste no momento do acidente era superior ao determinado pelo plano de rigging. Ou seja, havia 500 toneladas-força no contrapeso, muito embora o plano de rigging pedisse 460 toneladas-força, comprometendo a estabilidade todo o conjunto.


Segundo o laudo, conforme afirmado pelo Expert, ‘as 500 toneladas-força de lastros suspensos seriam suficientes para gerar uma situação de instabilidade e colapso estrutural, além de representar uma grave não conformidade relativa ao plano de rigging, documento submetido à análise e aprovado pela equipe de operação do guindaste. Entendemos que essa grave não conformidade é preponderante e pode ser considerada a causa raiz deste sinistro.’ Ainda segundo o laudo ‘Entendemos que um eventual afundamento da pista sob as esteiras (ou sob alguma região específica delas) de apenas um lado do guindaste, caso tivesse realmente ocorrido, deveria ser compreendida não com a causa, mas como uma consequência do acidente, decorrente da dinâmica envolvida na transferência de peso sobre os apoios (esteiras), em virtude da perda de estabilidade do guindaste’.

O estudo técnico do professor Fernando Mattos aponta que a condição de excesso de cargas de lastros suspensos ‘foi objetivamente constatada nas vistorias e fortemente evidenciada por fotografias.’

Como demonstrado em outra oportunidade, a Odebrecht Infraestrutura ratifica, uma vez mais, de forma objetiva e baseada em critérios eminentemente técnicos, conforme sustentando por vários renomados especialistas, de que o solo não foi a causa do acidente, e que o recalque encontrado é, na verdade, consequência da operação realizada pelo operador do guindaste, em desacordo com o planejamento especificado no plano de rigging.”

PASSO A PASSO:

O acidente

Na manhã de 27 de novembro de 2013, um guindaste de 1,5 mil toneladas e 114 metros, que estava sendo utilizado para a colocação da última peça metálica da cobertura do prédio sul da Arena Corinthians, desabou e matou duas pessoas.

Sem registros

Em janeiro de 2014, a Odebrechet divulgou, em nota oficial, que a "caixa-preta", um mecanismo que armazena informações operacionais e ajudaria nas investigações, não registrou nenhum dado na data do acidente. E pressiona pela divulgação dos dados.

Laudo encomendado pela Liebherr

A construtora do guindaste, empresa alemã, Liebherr encomendou um estudo em abril deste ano. O laudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontou o afundamento do solo como principal causa do acidente.

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Laudo encomendado pela Odebrecht

Também em abril de 2014, a Odebrecht contratou a GeoCompany para realizar um estudo sobre as causas do acidente. Num parecer de mais de mil páginas, a empresa concluiu que o solo não foi o responsável pelo acontecido e que a superfície do terreno estava de acordo com as definições do fabricante do equipamento.

Parecer da Polícia Civil

Segundo laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, a causa principal do acidente foi mesmo um problema no solo. Por conta disso, nove pessoas foram indiciadas. Dentre elas, sete funcionários da Odebrecht e dois da Locar, empresa responsável pela operação do guindaste.

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