Ainda em fase de testes, o C6 lançou na semana passada uma tag (adesivo de reconhecimento eletrônico) de pagamento automático de pedágios em um movimento que marca, ao mesmo tempo, o acirramento da disputa de bancos pelo mercado e uma guerra tarifária em um segmento dominado há anos pela Sem Parar.
Até então, existiam quatro concorrentes: além da líder, a ConectCar (Itaú e grupo Ultra), a MoveMais (Bertin) e, mais recentemente, a Veloe (da Alelo, controlada por Bradesco e Banco do Brasil). Todos operam prioritariamente no modelo pré-pago e cobram mensalidades ou tarifas de recarga. No sistema do C6, não há custo.
Além disso, o pedágio é debitado diretamente da conta-corrente a cada cancela ultrapassada. O serviço foi desenvolvido por uma outra empresa, a Greenpass, que diz estar negociando com outros bancos e fintechs para expandir o serviço.
Com as outras instituições, a tag e a mensalidade não serão gratuitos, afirma João Cumerlato, presidente da Greenpass. “Vamos ter mais alguns bancos que vão entrar em operação e não vão dar de graça, vai variar de R$ 6 a R$ 15”, diz.
No caso do C6, o banco informou que não cobrará pelo serviço porque a tag seria igual a um cartão de débito, que não é cobrado. O ganho para a instituição viria do relacionamento bancário, em outras transações financeiras.
O C6 paga à Greenpass para ter acesso ao serviço e oferecê-lo a seus clientes. Ganhar dinheiro nesse negócio não é tão simples, porém. Em operações tradicionais de débito, o lojista paga uma taxa na maquininha para aceitar cartão.
Esse percentual sobre o valor da venda é distribuído em todos os elos da cadeia (bandeira, banco e maquininha de cartão). No pedágio, a concessionária não paga nada para a dona das tags instaladas nos carros. Além disso, não há como cobrar uma tarifa mais alta para incorporar o que seria equivalente à taxa da maquininha.
Em alguns casos, a empresa ganha uma remuneração de estacionamentos de shoppings, mas isso depende de investimentos e acordos feitos entre empresa e estabelecimento comercial. Por isso, o custo é cobrado diretamente do motorista, na forma de mensalidade e taxa de adesão.
A dificuldade de cobrar ajuda também a explicar a demora na entrada dos bancos nesse segmento, especialmente porque eles já operam com pagamentos eletrônicos.
Existem atualmente 5,5 milhões de tags em veículos, segundo estimativas do mercado, dos quais 5 milhões usam a Sem Parar, apontam os números da companhia. Esses clientes geraram uma receita de US$ 88,9 milhões (R$ 339,6 milhões) apenas no primeiro trimestre deste ano.
A Sem Parar foi comprada pelo grupo americano FleetCor em 2016 por R$ 4 bilhões. Com tal domínio de mercado, os concorrentes se concentram nos clientes que ainda não usam o sistema. “É caro para quem usa pouco.
Para quem usa R$ 50 por mês de pedágio, pagar R$ 25 para o Sem Parar é caro”, afirma Cumerlato.
Compare os serviços
André Turquetto, diretor de Marketing e Produtos da Alelo, também vê o preço como uma barreira. A Veloe opera há um ano, mas começa a ser comercialmente mais agressiva a partir deste mês. Isentará por 18 meses a mensalidade, que também gira ao redor de R$ 20, a depender do plano.
“Nem 5% da totalidade dos veículos tem o produto de passagem [tag de pedágio]. Tem uma questão de você tirar barreiras, o preço é uma barreira.” Outra é a qualidade do serviço, que ele considera ruim. Há, porém, um problema adicional para atrair novos clientes. Por enquanto, a tag do C6 não funciona em estacionamentos, como os de shoppings, e a Veloe cobra a mais pelo acesso a essas cancelas (veja tabela acima).
A medida é reflexo do controle que as concorrentes Sem Parar e ConectCar têm das antenas de estacionamento. O caso foi parar no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), em um processo no qual a Veloe classifica os custos como exorbitantes. Em manifestação no processo no Cade, a Sem Parar nega.