Novas concessões de rodovias dobram receita no Brasil

Publicado em
13 de Maio de 2010
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No Brasil, a aposta da OHL é alta tanto no setor de rodovias, em que já é a segunda maior do país, como em saneamento, onde tem planos de expansão ambiciosos. Em concessões rodoviárias, o apetite da espanhola, que deve dobrar a receita neste ano em relação a 2008, foi grande a ponto de ser considerada irresponsável pelos concorrentes.

A empresa está presente em rodovias desde 1999, com quatro concessões ao longo da Rodovia Anhangüera, no interior de São Paulo. Em 2007, quando foram leiloados sete trechos federais - maior leilão de concessões da história do país -, o grupo ficou com nada menos do que cinco trechos. Os deságios apresentados pela empresa, superiores a 60%, assustaram o setor. Dois consórcios derrotados chegaram a ir à Justiça para derrubar a proposta da OHL.

Os concorrentes tiveram de engulir a derrota, e neste ano, caso mantenha o resultado do último trimestre de 2009, a OHL deve passar facilmente de R$ 1,5 bilhão em receita - em 2008, o montante foi de R$ 793 milhões. A rentabilidade da operação está em rota ascendente, e o lucro do último trimestre de 2009 já foi de R$ 70 milhões, bem acima do nível anterior às novas concessões - o melhor resultado havia sido R$ 46 milhões, no último trimestre de 2008.

De início, contudo, enfrentou dificuldades: das 29 praças de pedágio, que deveriam estar prontas no início de 2009, apenas cinco funcionavam, atraso atribuído à demora em desapropriações e licenças ambientais. Ainda hoje, uma das principais praças, no início da Fernão Dias, não foi inaugurada. Mais da metade da dívida da empresa é hoje de curto prazo, mas a captação de R$ 1,4 bilhão em debêntures encerrada no fim de abril deve amenizar o problema.

Em saneamento, a OHL entrou no Brasil em 1999, comprando a concessão de esgoto de Ribeirão Preto (SP) da americana CH2MHill. No início do ano passado, fez uma sociedade com a Sabesp e arrematou a concessão de esgoto de Mogi Mirim.

A operação brasileira é independente das concessões rodoviárias, diretamente ligada à matriz. O Brasil corresponde a 15% do faturamento mundial do ramo ambiental, de ? 140 milhões. Mas em uma de suas últimas visitas ao país, o presidente da divisão de meio ambiente da OHL, José Antonio Martinez, declarou que a meta do grupo é elevar essa fatia a 50%. Entre os projetos, o plano ousado de trazer usinas de dessalinização para o Norteste do país.

OHL quer ser vista cada vez menos como construtora 

Em uma semana tensa para a economia espanhola, o grupo OHL anunciou na quinta-feira a aquisição do controle da Sthim Maquinaria, empresa que desenvolve máquinas para o transporte de produtos sólidos, especialmente cimento. A mensagem não poderia ser mais clara: o grupo espanhol tem atacado em várias frentes para depender cada vez menos do enfraquecido setor de construção civil na Espanha.

Foi uma compra pequena - a cifra da operação não foi divulgada, mas sabe-se que a Sthim fatura em torno de ? 20 milhões anuais. Porém, tem o valor simbólico e prático de reforçar a divisão industrial da OHL. Criada em 2008, essa área representa apenas 1% do faturamento do grupo, mas sinaliza de que maneira a companhia vem tentando diversificar suas atividades.

Em um comunicado ao mercado, a OHL anunciou que pretende dobrar a receita da Sthim em três anos e diversificar as áreas em que a empresa atua, passando a atender também segmentos como os de mineração, fostato e energia.

Com negócios que vão da construção de fábricas sob encomenda à gestão de rodovias, da exploração de complexos turísticos à depuração de água, o grupo espanhol tem atualmente um perfil muito diferente daquele que lhe deu origem.

Porém, buscar novos caminhos não basta. É preciso, acima de tudo, fazer-se acreditar. É justamente por isso que o controlador do grupo, Juan Miguel Villar Mir, vem empreendendo uma cruzada para convencer o mercado de que a OHL já não é mais uma "construtora espanhola".

"Construtora" e "espanhola" são as duas palavras que, neste momento, o empresário vem tentando evitar de toda forma. A tal ponto que Villar Mir mudou o conceito do que chama de mercado doméstico. Numa apresentação que fez recentemente a investidores, ele colocou Brasil, México, Chile e Peru nessa categoria.

"Tem alguns países que escolhemos e que consideramos como mercado doméstico. Não são a Espanha, mas os consideramos como a Espanha", destacou. "Por sorte, a economia espanhola afeta muito pouco nossos resultados."

A preocupação tem sentido. Mesmo apresentando resultados melhores que os dos concorrentes, a OHL não passou ilesa ao vendaval que atingiu a Bolsa de Madrid nos últimos dias, quando o nervosismo em Wall Street e o temor de que os problemas da Grécia se repitam na Espanha afugentaram os investidores. As ações do grupo acumularam queda de 13,5% na semana passada. Ontem, os papéis reverteram e tiveram recuperação de 1,38%. No ano, a alta é de 14, 45%.

Ao mesmo tempo, a companhia já não detém o status de grau de investimento na classificação das agências de risco. Foi rebaixada pela Fitch e pela Moody’s na segunda metade do ano passado, e ainda não conseguiu recuperar as notas que tinha anteriormente. É outro ponto incômodo para o grupo.

"Nosso compromisso é ser uma empresa com grau de investimento. Fomos durante oito anos seguidos, até o ano passado, quando as agências Moody’s e Fitch mudaram seus critérios por causa da crise financeira mundial. Apesar de não sermos apenas uma construtora e de não sermos dependentes da Espanha, nos rebaixaram", afirma o empresário espanhol.

De fato, 86% do lucro operacional da empresa no ano passado foi gerado em outros mercados - uma fotografia muito diferente da que a OHL ilustrava há menos de uma década, antes de reformular seu perfil e de sair quase totalmente da construção de residências para se dedicar às grandes obras e às concessões de estradas, portos e aeroportos.

O ponto de inflexão ocorreu em 2002, quando a companhia tomou a decisão estratégica de partir para a internacionalização de seus negócios e de entrar no setor de concessões. A decisão deu frutos e, agora, tem ajudado a OHL a enfrentar a dura crise econômica da Espanha com números positivos.

No ano passado, a receita líquida do grupo aumentou 9,5% e chegou a ? 4,4 bilhões. O lucro líquido subiu 16,3%, para ? 212,2 milhões. Nesse mesmo período, o mercado espanhol de construção residencial encolheu 21,5%, segundo a consultoria Euroconstruct.

As concessões adquiridas pelo grupo na América Latina, notadamente no Brasil e no México, são responsáveis por grande parte do resultado. Embora não sejam a maior fonte de receita da OHL, já representam a atividade mais rentável da companhia. Por isso mesmo, é nesse segmento que a empresa tem dedicado uma parcela cada vez mais significativa de seus esforços e de seu investimento.

"O grosso do valor atribuído à empresa vem das concessões, mais especificamente da América Latina. Mas a situação na Espanha não é diferente da que enfrentam outras construtoras. Como todas elas, a OHL está mal e está na expectativa das medidas lançadas pelo governo", diz um analista de um banco espanhol que pediu para não ser identificado.

Segundo especialistas do setor, a recuperação do mercado de construção vai depender, em grande medida, do sucesso do Plano Extraordinário de Infraestruturas, anunciado em abril pelo presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero. O pacote prevê uma série de licitações, no valor total de ? 17 bilhões para a execução de grandes obras no setor de transporte, em regime de parceria público-privada. A maior parte dos investimentos (70%) será destinada à malha ferroviária do país. O restante irá para rodovias.

"Estou pessimista quanto às perspectivas para o setor de construção, ainda mais porque o impacto desse plano só será visto em 2011", observa María Cebollero, analista do Banc Sabadell. "O crescimento neste ano, assim como em 2008 e 2009, virá principalmente da atividade de concessões e da construção internacional. A evolução do Brasil e do México continua sendo chave."

Os projetos nesses países também têm ajudado o grupo a captar recursos. Há dez dias, a OHL fechou a emissão de bônus no valor de R$ 1,4 bilhão. Segundo a companhia, a demanda foi 25% superior ao que se esperava. O dinheiro será usado para abater dívidas de curto prazo e para financiar investimentos nas rodovias que opera. Poucos dias antes, a OHL havia concluído a emissão de ? 700 milhões, que vencem em 2015 e vão ajudar a liquidar a dívida bancária da empresa.

Com suas necessidades de investimentos na casa de ? 1 bilhão por ano, é fundamental, portanto, que a OHL mantenha abertas as portas do mercado financeiro. Segundo Villar Mir, o objetivo é colocar entre ? 500 milhões e ? 700 milhões em bônus a cada dois anos. "A partir de agora, vamos ser um emissor recorrente", afirma o empresário espanhol. Nunca foi tão importante, para a empresa, refletir a imagem que ela tem se empenhado em desenhar.

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