Conselho Nacional de Trânsito mudou três vezes prazo para trocar extintor. Agora, decidiu que equipamento é opcional em carros e caminhonetes.
Os brasileiros estão pagando prejuízo porque o Conselho Nacional de Trânsito tem mudado toda hora de decisão. A última trapalhada foi aquele vai e vem do novo extintor. O kit de primeiros socorros - lembra? - todo mundo teve que comprar e depois dar algum destino para ele porque deixou de ser obrigatório. Esse vai e vem do Contran, além de dar prejuízo, confunde os motoristas
É tanto extintor encalhado que o empresário João Gikoski está perdidinho, sem saber o que fazer.
“Extintor todo mundo estava sabendo que estava em falta, as fábricas também foram investindo para atender a demanda e, de uma hora para outra, acabou a obrigatoriedade, é muito estranho, entendeu?”, diz.
João tem 4 mil extintores modelo ABC na caixa. E o também empresário Pedro Edenir da Rocha, que tem 10 mil? O governo adiou três vezes o prazo para a substituição, e na quinta-feira (17), decidiu: compra extintor quem quer. Ele não é mais obrigatório nos carros e caminhonetes.
“Infelizmente foi pego a gente de surpresa, aconteceu isso também com os consumidores, tiveram que comprar praticamente na marra”, queixa-se Pedro.
Mas não foi a primeira vez que, de uma hora para outra, o Contran mudou de ideia.
Com os simuladores, aconteceu o seguinte: em 2013 o Contran disse que era obrigatório, que todas as autoescolas tinham que ter para treinar os alunos. Aí, em junho do ano passado disse que não precisava mais. Agora – acredite – vai voltar a ser obrigatório.
Um autoescola de Brasília pagou R$ 30 mil em um simulador que foi usado pouquíssimo. Virou enfeite. Agora terá que ser preparado de novo para, a partir de janeiro, fazer parte da grade do aluno que vai tirar a carteira.
“Ficamos à mercê da lei. Se a lei aprova, vamos utilizar, mas se eles cancelam, a gente tem que jogar fora um investimento caro. Agora, aprovou-se de novo, vamos investir em mais equipamentos e até quando nós vamos ficar com essa brincadeira de quem compra e quem cria as leis?”, queixa-se Fábio Oliveira, dono de autoescola.
E as polêmicas não são só essas. Lembra do kit de primeiros socorros? Em 1998 todo mundo teve que comprar. No ano seguinte, uma lei derrubou o uso e não tinha mais serventia no carro.
“Eu tenho o kit de primeiros socorros até hoje em casa, tudo guardado, diz um motorista
Agora são os transportadores escolares que terão que providenciar cadeirinhas. Até fevereiro. Quer dizer, agora , até eles estão na dúvida.
“Dá uma insegurança para a gente, porque se de uma hora para outra tiver, no meu caso, que comprar 19 cadeirinhas, é um valor muito alto”, diz Edmar Silva Pereira, dono de transporte escolar.
O Contran, Conselho Nacional de Trânsito, tem representantes dos ministérios das Cidades, Ciência e Tecnologia, Educação, Defesa, Meio Ambiente, Transportes, Saúde, Justiça e Indústria e Comércio. São eles que definem as mudanças.
Ninguém do Contran quis gravar entrevista.
Por via das dúvidas, o técnico em segurança eletrônica Nilton Barbosa vai deixar o extintor que ele comprou lá, no lugar dele.
“Eu vou continuar usando, como já presenciei vários acidentes na estrada em que foi preciso utilizar, quem sabe, não é?”, pondera.
Com tantas idas e vindas, a professora Maria Zeila Torres também ...
“Como eles mudam de ideia todo dia, pode ser que daqui a pouco voltem a cobrar o extintor novamente e a gente fica nesse jogo de pingue-pongue, fazendo o que eles querem”, diz.
Só lembrando que o extintor continua obrigatório para caminhões, ônibus, microonibus e veículos que transportam produtos inflamáveis. Sobre esse vai e vem de medidas, o Contran afirmou que as decisões tomadas são técnicas e avaliadas de acordo com as novas tecnologias que surgem e que permitem incluir ou fazer ajustes. As regras são definidas quando existe consenso técnico e especialistas sempre participam das discussões.