MT é um dos piores Estados para investimento, diz Milan

Publicado em
05 de Agosto de 2013
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Estado tem pouca indústria, que sofre com alto custo do frete e da energia

Mary Juruna

Jandir Milan reclama da falta de investimentos do governo

LAÍSE LUCATELLI
DA REDAÇÃO

A falta de infraestrutura, a escassez de mão-de-obra especializada e os altos custos com frete e energia tornam Mato Grosso um dos piores Estados do país para receber indústrias, segundo avaliação do presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Jandir Milan. 

De acordo com o industrial, ter matéria-prima farta e fácil é a grande vantagem do Estado – porém, não suficiente para compensar as desvantagens.

“Sabemos que a situação de Mato Grosso é complexa. Por que uma empresa viria se instalar aqui no Estado? Os atrativos são muito poucos. A única vantagem aqui é ter matéria-prima fácil e perto. Todo o resto é adverso. Quando o empresário faz seu businness plan, ele não vai pensar que aqui é o melhor lugar; é um dos piores. O empresário investe aqui pensando no futuro, no potencial que Mato Grosso tem para se tornar atrativo”, observou Milan, que atua no setor moveleiro e de tecnologia da informação. 

"Sabemos que a situação de Mato Grosso é complexa. Por que uma empresa viria se instalar aqui no Estado? Os atrativos são muito poucos. A única vantagem aqui é ter matéria-prima fácil e perto"


A condição precária da maioria das nossas estradas – muitas não asfaltadas, e outras com mais buracos que massa asfáltica – encarece o transporte de mercadorias, tanto primárias quanto industrializadas, e é considerado o principal gargalo da economia mato-grossense. 

A situação se torna ainda mais complicada em função das grandes distâncias que separam Mato Grosso dos grandes mercados consumidores brasileiro e mundial.

O custo com frete se torna um grande problema em função de o mercado consumidor mato-grossense ser pequeno se comparado com outros Estados da Federação – são cerca de 3 milhões de habitantes segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), realizado em 2010. 

Desse modo, para vender a produção é preciso exportar em larga escala, para outros Estados e outros países. 

“Nós temos um frete muito alto, o preço da energia é um das mais caras do mundo, devido à alíquota de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), a qualificação de mão-de-obra é muito pouca. Hoje, o maior problema é o alto custo do frete. A indústria trabalha com uma margem de 5% a 8% de lucro, e o frete custa mais que isso. Nosso incentivo fiscal é o mesmo de outros Estados. Ele ajuda a diminuir o alto custo do frete, mas o frete ainda é maior que o incentivo”, reclamou Milan.

Falta de logística 

O presidente da Fiemt afirmou que a viabilização de vias alternativas de escoamento, com saída para o Norte do Brasil, seria a solução para a indústria exportadora instalada no Estado – visão compartilhada pelos representantes do setor produtivo agropecuário.

“A grande vantagem que teríamos seria a BR-163 conclusa, asfaltada até Santarém, no Pará, pra levar grande parte da produção para o Norte. O governo precisa concluir todos os projetos que estão em andamento. Quando melhorar essa comunicação com o Norte, a indústria vem para cá”, disse.

Jandir Milan destacou, também, a necessidade de explorar melhor vias alternativas de transporte, como ferrovias e hidrovias, que têm custo mais barato que o transporte rodoviário, adotado como padrão no Brasil. 

Mato Grosso possui apenas 370 quilômetros de trilhos, no Sul do Estado, que vão de Alto Taquari a Rondonópolis. O projeto para expansão desse trecho da Ferrovia Senador Vicente Vuolo (Ferronorte) até Cuiabá deve ser licitado nos próximos meses, bem como a construção da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), que liga Goiás a Lucas do Rio Verde. 

Assessoria

José Augusto, da CNI"A BR-163 é o grande símbolo dessa demanda por logística"


As hidrovias são ainda mais escassas. Só existe uma em funcionamento no Estado, a hidrovia Paraguai-Paraná, que tem início no Rio Paraguai, em Cáceres, região Sudoeste do Estado, e possui capacidade bastante limitada de transporte de carga. Outros três projetos ainda estão no papel – a Araguaia-Tocantins, a Teles Pires-Tapajós, e a Juruena-Tapajós. 

“A ferrovia é solução, a hidrovia também, pois ajudam muito a reduzir o custo do frete. Em outros países, o transporte em ferrovia custa um quarto do preço da rodovia. O custo de logística do agricultor americano é muito baixo comparado com o nosso”, observou Milan.

O diretor de Políticas e Estratégias da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, que esteve em Cuiabá esta semana para o seminário “Mato Grosso do Futuro”, na Fiemt, destacou a redução de distências que será proporcionada pelo investimento em infraestrutura de transporte.

“A BR-163 é o grande símbolo dessa demanda por logística. Com ela, será reduzida a distância entre Mato Grosso e a China. O produtor local vai poder receber mais pela sua mercadoria, e os chineses serão beneficiados também. Porque frete é parte substancial do custo dos produtos e, à medida que reduz o frete, reduz o custo”, disse.

Salto da industrialização 

A economia mato-grossense é baseada na agropecuária de grande escala, o chamado agronegócio, que é voltado para exportação e ajuda a equilibrar o saldo da balança comercial brasileira. Na avaliação do presidente da Fiemt, a solução para que o Estado dê o salto da industrialização é tornar o ambiente atrativo para empresas de fora virem se instalar aqui.

“A nossa indústria tem crescido na faixa de 7% a 8% ao ano, o que é muito pouco se comparado com o vizinho Goiás. Se não houver atrativo para a indústria vir para cá, ela vai ficar no grande mercado consumidor. Temos que estimular a criação de indústrias dentro do Estado, mas o mais importante é estimular as indústrias de fora a virem pra cá. Porque montar indústria não é fácil, tem que conhecer vários aspectos. Então é melhor trazer uma empresa que já fabrica trator, por exemplo, para ela montar uma filial aqui”, afirmou. 

"Não há dúvida de que tudo o que deriva do agronegócio tem uma vantagem natural aqui, assim como toda a indústria correlata, como consultorias, máquinas, equipamentos.  O principal consumo desses produtos está nessa região, então há uma vantagem em produzi-los aqui"


Jandir Milan acredita que, com investimento adequado em logística e redução do custo da energia, Mato Grosso pode produzir qualquer coisa. “Quando se tem uma logística boa, não somos obrigados a seguir uma vocação. Se você puder trazer matéria-prima barata, você faz o que quiser. Hoje, eu diria que temos vantagem na indústria do agronegócio, madeira, e reflorestamento, com cultivo de árvores como teca, mogno, eucalipto”, disse.

José Augusto, diretor da CNI, acredita que há espaço para explorar o mercado que dá sustentação ao agronegócio, com produção de máquinas e outros produtos que o setor necessita. 

“Eu não ousaria dizer para Mato Grosso qual a sua vocação. Mas não há dúvida de que tudo o que deriva do agronegócio tem uma vantagem natural aqui, assim como toda a indústria correlata e provedora de serviços para o agronegócio, como consultorias, máquinas, equipamentos. Podem ser desenvolvidos aqui, por exemplo, equipamentos de irrigação, fertilizantes. O principal consumo desses produtos está nessa região, então há uma vantagem em produzi-los aqui”, observou.
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