Grandes montadoras estão usando o Salão de Frankfurt para lançar uma nova geração de utilitários
The Wall Street Journal - Grandes montadoras estão usando o Salão de Frankfurt para lançar uma nova geração de utilitários esportivos desti-nados a consumidores de todo o mundo, de Xangai a São Paulo, que se mostram dispostos a pagar preços mais altos por carros mais volumosos.
Os utilitários esportivos, também conhecidos como SUVs, surgiram como um projeto automobilístico distintivamente americano, começando com os jipes da Segunda Guerra Mundial e evoluindo para as caminhonetes pesadas e de alto consumo de combustível que dominaram as estradas dos Estados Unidos durante a década de 90.
Nos últimos dez anos, os SUVs passaram por outra evolução, deixando de ser caminhonetes adaptadas para se transformar em em carros de passeio modificados. Mesmo assim, muitos mantiveram o desenho quadrado e grande dos SUVs originais.
Agora, as montadoras estão experimentando uma nova fórmula, num esforço de gerar novas fontes de vendas com SUVs menores, de aerodinâmica avançada e, na maioria dos casos, em modelos que são mais rentáveis do que sedãs que compartilham a mesma infraestrutura mecânica.
O único denominador comum que define a nova geração de SUVs é "que os assentos estão em uma posição mais elevada, de comando, que faz você se sentir superior", diz J Mays, vice- presidente do grupo de design da Ford Motor Co., empresa que liderou o boom dos SUVs nos EUA na década de 90, com seus modelos relativamente grandes Explorer e Expedition.
Wu Jian, um professor universitário de 29 anos da província chinesa de Jiangsu, disse que planeja comprar um SUV Peugeot 3008 de 180.000 yuans (US$ 29.145).
"As estradas da China estão se tornando cada vez mais abarrotadas. Dirigindo um SUV, você vai ter um campo de visão mais amplo", diz Wu. Ao comprar um carro, diz ele, "segurança é mais importante do que eficiência no consumo de combustível". Mas ele diz que não quer um veículo de grande porte, como uma BMW X5 ou um Audi Q7. "Eles são beberrões de combustível", disse Wu.
Na Europa, onde o mercado automobilístico em geral está em declínio, as vendas de SUVs aumentaram aproximadamente 6,7 % ao ano entre 2007 e 2013. Elas provavelmente chegarão a cerca de 2,8 milhões de veículos este ano, diz John Hoffecker, diretor-gerente da consultoria AlixPartners.
"Houve queda em todos os segmentos [na Europa], com exceção dos SUVs", diz Hoffecker.
Atualmente, um dos modelos mais populares da Ford na Europa é o EcoSport, um pequeno SUV fabricado usando o mesmo chassi do subcompacto Fiesta da montadora. O EcoSport é mais alto, oferece mais espaço para carga e o preço para o modelo mais básico no Reino Unido, por exemplo, é de 15.995 libras (US$ 24.989), cerca de 6.000 libras mais caro que um Fiesta.
O Mokka, pequeno SUV da General Motors Co., tem vendido tão bem na Europa que a montadora americana anun-ciou recentemente que irá transferir sua produção da Coreia do Sul para a Espanha a partir do próximo ano.
No Salão de Frankfurt, a marca Infiniti, da Nissan Motor Corp., vai exibir um protótipo de um veículo compacto e aerodinâmico chamado Q30 que mescla o " visual esportivo de um cupê, o espaço de um hatchback e a altura de um crossover", informa a empresa.
O diretor-presidente da Infiniti, Johan de Nysschen, diz que os utilitários esportivos serão os principais produtos nos esforços da marca para se expandir mundialmente, inclusive no Brasil e na China. Atualmente, a Infiniti oferece quatro modelos de SUVs, mas poderia ter mais, incluindo uma versão ainda menor do que o carro-conceito Q30.
O segmento de SUVs mais avançados e caros também está sendo bem representado. A marca Lexus, da Toyota Motor Corp., deve apresentar em Frankfurt um protótipo de um SUV compacto, menor que seu modelo atual RX. E a Mercedes -Benz, da Daimler AG, planeja lançar oficialmente em Frankfurt seu primeiro modelo para o segmento de SUVs de luxo pequenos, o Mercedes GLA, que a empresa planeja, em algum momento, produzir também na China, maior mercado mundial de veículos, onde ela tenta recuperar o atraso em relação às rivais Audi, da Volkswagen, e BMW AG.
A Audi vai promover no evento seu SUV compacto Q3, parte de uma família renovada de modelos A3 compactos, incluindo um sedã, um hatchback e um conversível. Ela prevê vender nos EUA este ano quase 40.000 unidades do seu SUV médio Q5, diz Scott Keogh, líder das operações da Audi no mercado americano. Uma nova geração do mode-lo começará a ser fabricada no México a partir de 2016.
As montadoras do mercado de massa também estão expandindo as ofertas de SUVs na Europa.
A sul-coreana Kia Motors Corp., fabricante do popular SUV Sportage, está lançando na feira de Frankfurt um carro- conceito para um SUV compacto chamado Nero.
"Na Europa, o segmento B é claramente o segmento mais dominante", disse Michael Cole, diretor de operações da Kia na Europa, referindo-se aos modelos subcompactos. "O Nero é uma boa indicação de onde a Kia estará no segmento B, que é crucial para a Europa."
Existem riscos potenciais de depender fortemente dos SUVs no longo prazo. Os reguladores da maioria dos principais mercados de automóveis do mundo estão tendendo a obrigar as montadoras a reduzir drasticamente as emissões de dióxido de carbono, o que se traduz em exigências de que as frotas de veículos mantenham uma média de consumo próxima a 21 quilômetros por litro em muitos grandes mercados. O governo americano estabeleceu uma meta de consumo médio de combustível de aproximadamente de 23,2 quilômetros por litro para a frota do país até 2025. A Europa propôs limites ainda mais rigorosos de CO2.
Embora os SUVs de hoje sejam geralmente mais leves e mais eficientes no consumo de combustível do que os Explorers e Hummers da década de 90, eles muitas vezes não têm a mesma média de consumo de um sedã similar.
O SUV X3, da BMW, com um motor 2.0 de quatro cilindros, apresentou um desempenho de 10,2 quilômetros por litro em testes que combinam viagens em estradas e na cidade, enquanto que um sedã BMW 328i com um motor semelhante alcança 11 quilômetros por litro, ou cerca de 8% superior.
Uma maneira de as montadoras continuarem vendendo SUVs seria oferecer modelos elétricos e híbridos que aumentam a eficiência no consumo médio de combustível da frota. Por essa razão, veículos elétricos também dividirão o palco com os SUVs em muitos estandes do Salão de Frankfurt.