Modelagem logística nas pequenas, médias e grandes empresas, será que existe diferença?

Publicado em
23 de Outubro de 2017
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Caros amigos e leitores, a inspiração para o artigo de hoje foi por demanda, o tema abordado surgiu após receber vários e-mails com situações e exemplos diversos de profissionais da categoria com dúvidas sobre como iniciar uma boa modelagem logística em sua empresa. Desta forma, o conteúdo a seguir irá servir para auxiliar profissionais que estão com dificuldades em comum, ou até mesmo com o intuito de compartilhar conhecimento cuja intenção não será apresentar uma receita padrão contendo uma fórmula mágica, até mesmo porque se fosse esta a proposta, seguramente não estaríamos falando de Logística, a ideia aqui será abordar o tema de forma bem didática e simples fazendo uma explanação sobre as diferenças entre os tipos de empresas para que o entendimento fique mais claro e, sobretudo para que você possa notar que em alguns casos, dentre as várias habilidades de um gestor de logística, existem duas habilidades cruciais no processo de modelagem da área logística em ambientes críticos ou em fase de profissionalização.
 
Introdução
 
1. Profissionalização
 
Um dado interessante que pude observar é que boa parte dos contatos que recebi foi de profissionais que trabalham em pequenas ou médias empresas, geralmente de ambiente familiar, que não tem governança corporativa e que estão passando por um período conturbado e/ou com necessidade de profissionalização, seja para se manter no mercado, seja porque nos últimos inventários levantaram um grande prejuízo, ou seja, simplesmente porque querem estar preparados para a retomada do crescimento no país.
 
Bom, se você e sua empresa se encontram dentro deste contexto, ou tem curiosidade de saber como esta fase de transição e transformação da empresa acontece na Logística, esteja certo de que não se trata de uma tarefa fácil!
 
Para você entender melhor, irei iniciar fazendo uma correlação da logística com a justiça, por exemplo, quando pensamos no ícone da justiça, já surge em nossa imaginação a figura emblemática da escultura de uma mulher com os olhos vendados, carregando em uma mão a balança e na outra a espada, certo?
 
Pois bem, fazendo uma rápida pesquisa a respeito, notará que a venda nos olhos simboliza o não pré-julgamento e a isenção total de privilégios em relação à aplicação da justiça. Já a balança simboliza o peso do direito que cabe a cada uma das partes, e por fim, a espada simboliza a arma necessária para defender os valores daquilo que é justo; analogicamente falando, seria mais ou menos dizer que a balança sozinha tornaria o direito vulnerável e a espada sem a balança se caracterizaria como força incompatível pela falta de equilíbrio.
 
Certo, mas você deve estar se perguntando, o que isso tem a ver com a “Modelagem logística das pequenas, médias e grandes empresas”?
A resposta é a seguinte.... "tudo"!
 
Tudo, pois para você conseguir modelar a área logística de sua empresa que tem um ambiente crítico ou está em fase de profissionalização, terá que tomar decisões sem pré-julgamentos e com isenção total de privilégios de um, de outro ou seu próprio, colocando na balança sempre os prós e os contras de cada decisão, além de saber defender os valores daquilo que você acha correto. Só que como disse, não se engane, pois nada será fácil. Isso devido ao fato de que geralmente em empresas de pequeno ou médio porte, não existe governança corporativa, atividade esta que regulamenta o princípio da administração de empresas, e que envolve planejamento, organização, direção e controle.
 
2 Governança Corporativa
 
Falando de governança corporativa, para quem não conhece, ela serve basicamente para colocar a ordem na casa, exatamente igual à meta do gestor de logística em ambientes críticos ou em fase de profissionalização: é através da governança corporativa que se define um conjunto de regras, normas e procedimentos voltados ao negócio, cujo objetivo é criar mais transparência, autonomia e velocidade de resposta às atividades da empresa; aqui o sócio majoritário participa, e nem sempre é ele quem dá a última palavra, até mesmo porque em uma empresa com governança corporativa um dos recursos indispensáveis é a criação de um conselho consultivo que visa apoiar o CEO (Chief Executive Officer) nas decisões, que inclusive costuma não ser o "dono (termo geralmente utilizado em PME’s)".
 
Outra razão para existir governança corporativa, é que o "dono" assim como qualquer outra pessoa da empresa, não tem todas as habilidades técnicas necessárias para conduzir o crescimento de forma sustentável, e é exatamente por isso que qualquer personalidade jurídica (empresa) deve ser constituída por algumas funções básicas que são Finanças, Comercial, Contábil, Técnica, Segurança e quando pertinente, Supply Chain ou Logística, onde neste caso, seguramente o "dono" não terá profundos conhecimentos em todas as áreas, e portanto, deverá entender que delegar não é "delargar". Desta forma, irá precisar de profissionais de confiança para ajudar na gestão da empresa onde o próprio dono poderá controlar cada ação através de suas gerências e/ou diretorias, afinal, como já dizia Henry Fayol, administrar significa olhar pra frente, e prever, organizar, comandar, coordenar e controlar.
 
Ocorre que em empresas sem governança corporativa, familiar e em fase de profissionalização, o "dono" ainda não entende isso, além de geralmente não existe hierarquia bem definida tornando a execução das atividades e a comunicação extremamente complexa. Dentro deste contexto você seguramente deverá exercitar e muito o controle emocional para convencer o "dono" e as pessoas em sua volta que mudar é preciso, neste ponto surge a primeira habilidade do gestor de logística que quer ter sucesso em sua empreitada de profissionalizar a área Logística de uma empresa com este perfil, que é a resiliência.
Dentre as várias habilidades de um gestor de logística, quando se trata de profissionalizar a área Logística de uma pequena ou média empresa com cultura familiar ou não, a "resiliência" é uma das habilidades mais utilizadas neste processo.
 
3 Diferença cultural das pequenas, médias e das grandes empresas.
 
Tá, que é um ambiente complexo, difícil isso eu já entendi, mas porque isso ocorre?
 
A resposta está totalmente ligada à cultura organizacional da empresa e resultará na próxima habilidade necessária ao gestor de logística, que direi em breve, mas antes, vamos ver as diferenças que existem entre as pequenas, médias, das grandes empresas:
 
  • Grandes empresas - Além de geralmente existir governança corporativa, aqui você encontra um ambiente normalmente profissionalizado, cujo "planejamento" por si só já é o suficiente para o atingimento das metas, dentro deste contexto, você estabelece qual é o seu foco, como e quando você quer atingir, e quais ferramentas serão necessárias para atingir a meta e pronto, mãos a obra.
     
  • Pequenas e médias empresas – Apesar de não existir uma regra absoluta tampouco uma estatística consistente sobre que tipo de empresas são profissionalizadas ou não, aqui geralmente você irá se deparar com uma cultura organizacional sem governança corporativa, e com infraestrutura de todas as formas, que vai de bem básica, a extremamente completa, mas no geral nem sempre você terá todas as ferramentas necessárias para executar suas atividades tornando o ambiente totalmente adverso, como por exemplo, você se deparará com equipes sem as habilidades necessárias para conduzir determinada tarefa, desmotivadas ou desenvolvendo uma atividade que não gosta. Falta normas, procedimentos e fluxos, e os que existem são feitos pela metade, pois parte se perdeu com o tempo, ou simplesmente deixaram de fazer. Neste cenário, tudo é conduzido pela cabeça do "dono" o qual apesar de ter boa vontade de querer fazer a coisa certa, deverá entender que só isso não basta e, portanto deverá quebrar paradigmas para profissionalizar sua empresa e poder crescer.
 
4 Forças opostas
 
Aqui você lidará com situações complexas que envolvem várias forças opostas, e neste caso deverá envolver estas forças opostas para que naturalmente as opiniões e o cenário mudem de tal forma que seja criado um resultado em comum; neste caso, você deverá utilizar como arma a criação de uma boa estratégia, municiada de uma serie de articulações cuja finalidade será conduzir as forças opostas para que ganhem objetivos únicos, o que não é nada simples, pois você mesmo deverá abrir mão de sua visão pessoal. Neste caso seria como se você utilizasse o recurso da venda da justiça, que simboliza o não pré-julgamento e a isenção total de privilégios, pois não será incomum várias situações onde você quer trilhar um determinado caminho, e existir um grupo de pessoas que queiram ir para o sentido contrário, e até mesmo surgir outro grupo que queira seguir um caminho independente, diferente do seu e do outro grupo que está seguindo um caminho contrário ao seu. O fato é que não adianta você simplesmente impor suas vontades: na justiça, seria como se você estivesse utilizando a espada sem a balança, o que neste caso caracterizaria força incompatível pela falta de equilíbrio, podendo inclusive gerar ainda mais forças opostas que dificultassem o atingimento de sua meta. Neste caso, assim como na justiça, o mais apropriado é buscar sempre o equilíbrio, fazendo uso da ponderação e da democracia e defendendo o que você acha justo, para que cada vez mais você passe a colecionar simpatizantes e seguidores que confiem em seu estilo e metodologia de trabalho.
 
Também será necessário identificar todas as forças em questão, os que estão do seu lado, os do contra e os que querem trilhar um caminho independente; além disso, será necessário identificar o motivo pelo qual você não tem a aprovação de todo grupo, e considerando que logística se faz com pessoas, é preciso se blindar passando a estudar os envolvidos, para que seja possível entender o que os outros pensam, quais são as influencias delas contrárias à sua opinião, qual é a intensidade destas influências e o porque que isso ocorre; então, diante da propriedade e conhecimento de causa do cenário atual, cabe iniciar o processo de esclarecimentos e de articulações para trazer as pessoas para seu lado através de um processo de comunicações franca e clara, a fim de que não haja nenhuma dúvida a ser esclarecida ao seu rival e que, juntamente com seu poder de persuasão, você consiga fazer com que cada rival mude de opinião ao seu respeito, trazendo-o para seu lado de tal forma que ele mesmo queira ajudar ou ao menos deixe de interferir em suas ações.
 
Como pode perceber, não se trata de uma tarefa fácil, pois se você quer "ganhar" e tem autonomia pra isso, bastaria você apenas impor sua metodologia e seguir em frente; mas a questão é que dentro de um cenário extremamente complexo isso não funciona e seguramente você se tornará um colecionador de inimigos, fazendo as coisas ficarem cada vez mais difíceis ou até mesmo insustentáveis; agora se você quer ter "sucesso" em sua empreitada, sem dúvidas você terá que contar com tais forças opostas, o que por sua vez torna o desafio mais complexo, por não ser uma questão de simples coerência, já que você irá lidar com egos, vaidades, zonas de conforto, altos níveis de stress e demais emoções diversas que podem surgir dentro do ambiente corporativo, e neste caso, saber ouvir o que seus rivais tem a falar, será um recurso valioso para que você possa entender e poder contornar as várias situações e a cada dia obter mais seguidores.
 
Dica: Mantenha-se sempre no controle, sem ser influenciado pelo ambiente: fazendo isso você notará que com o tempo as mesmas pessoas que antes eram do contra e falavam mal de você por tirar elas da zona de conforto, em um futuro não tão distante serão seus aliados e passarão a falar bem de você, pois dentro deste processo o que mudará não será sua postura, e sim a "percepção" das pessoas em relação a você.
Para um melhor entendimento, vou exemplificar o que são "forças opostas"...
 
Imagine ou lembre-se de uma situação onde em experiências profissionais anteriores você passou por uma empresa sem governança corporativa e que as decisões eram tomadas com base na cabeça do dono. E no exercício de suas funções teve uma situação em que sua opinião divergiu de um colega, que chamaremos de "X".
 
Ótimo, agora você já parou para pensar que além de nossas próprias convicções, existe também o "ambiente" em que estamos inseridos, e que se não adequado corretamente poderá influenciar nas opiniões de terceiros?
Não né? Então vejamos...
 
Nesta mesma empresa, ocorre que o dono fundador não entende que ter uma política de cargos e salários é algo de extrema importância para que as regras de ascensão, política salarial e de incentivos, estejam claras para todos os colaboradores, onde eles possam se empenhar para estar preparados e assumir novos desafios que estejam dentro de sua expectativa de crescimento profissional, criando um ambiente saudavelmente competitivo e de profissionais mais qualificados e motivados.
 
Como isso não existe, o colega "X" ganha menos que o colega "Y" pelo simples fato do "dono" gostar mais de "Y" do que de "X", e daí surge uma terceira força oposta, que é a insatisfação do colega "X" motivada pela iniciativa do dono e pela falta de política de cargos e salários; por isso quando você foi tratar o assunto com o colega "X" ele foi do contra por estrar extremamente irritado por ter acabado de saber do ocorrido.
Este é um exemplo clássico da necessidade de você entender o cenário atual, pois se no exemplo em questão você simplesmente forçar a barra com o colaborador “X”, seguramente você terá muita dificuldade, e entendendo o cenário, você poderá modular seu discurso para uma abordagem mais adequada ao colaborador em questão, uma vez que na verdade a empresa e/ou o próprio "dono" é culpado pela postura negativa do colaborador “X”, “A”, “B” ou “C”; porém isso você só vai saber se ouvir as pessoas, e souber ouvir, e aproveitar a oportunidade de saber que existe uma força oposta agindo ali, e que por sua vez se faz necessário seu entendimento.
Ou seja, em um ambiente crítico em fase de profissionalização, não adianta ter autoridade; aqui você precisa conduzir o time a fazer algo de determinada forma somente após identificar, tratar ou contornar todas as forças opostas, pois a partir daí você notará que o próprio time passará a executar da forma que você gostaria que fosse feito desde o princípio. Quando isso ocorrer, saberá que este é o momento onde você chegou ao "sucesso"; e então eis que surge a segunda habilidade crucial dentro deste processo, que é saber aplicar o planejamento estratégico, onde não basta você simplesmente estabelecer a meta, como e quando quer atingir, e quais ferramentas serão necessárias para atingir o objetivo final, pois em um ambiente complexo e em fase de profissionalização, você precisa lidar com as forças opostas antes de partir para execução, e que geralmente é mais presente em pequenas e médias empresas, uma vez que as grandes empresas são profissionalizadas.
Outra habilidade indispensável em ambientes críticos é a de saber aplicar o "planejamento estratégico" para que seja possível identificar e tratar as forças opostas.
 
Considerações Finais
Como você deve ter notado, o texto preconiza que para fazer uma boa modelagem logística em ambientes críticos ou em fase de profissionalização, não adianta logo de cara sair colocando em prática seus conhecimentos técnicos, até mesmo porque, seguramente a empresa não está preparada para a série de mudanças e regras que serão propostas, justamente por isso o que menos falamos foi sobre logística. Ou seja, em situações desta natureza, é salutar estudar todo o ambiente, aplicar um bom planejamento estratégico e superar as dificuldades através de muita resiliência. 
 
Entendendo isso, divirta-se e parta para execução investindo concomitantemente suas demais habilidades e conhecimentos adquiridos ao longo de sua carreira, e então tenha êxito na empreitada de iniciar o processo de modelagem Logística em sua empresa.
Boa sorte, obrigado e até a próxima,
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