Mercedes-Benz quer demitir 1,87 mil

Publicado em
05 de Agosto de 2016
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Funcionários receberam comunicado sobre cortes na terça-feira

PEDRO KUTNEY, AB

Funcionários da Mercedes-Benz em São Bernardo decidem fazer paralisação em protesto contra as demissões na fábrica
Na última terça-feira, 2, os 9,8 mil funcionários da Mercedes-Benz receberam um comunicado da empresa informando que 1,87 mil deles serão demitidos e não vão mais integrar o contingente da fábrica de São Bernardo do Campo (SP), que completou 60 anos de atividades no País. A empresa alega ter feito a comunicação a todos os colaboradores seguindo sua "política de transparência". As demissões devem começar em setembro, quando termina o período de estabilidade estabelecido pelo PPE, Programa de Proteção ao Emprego, que foi adotado pela montadora no ano passado por nove meses com redução de jornada e salários, e encerrado em maio com mais três meses obrigatórios sem cortes. O número de possíveis demitidos é o que restou do excedente anunciado pela Mercedes, de 2,5 mil metalúrgicos, depois de encerrado o Programa de Demissão Voluntária (PDV) aberto em 1º de junho, que teve 630 adesões.

Ato contínuo ao comunicado da Mercedes, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC realizou assembleia com os trabalhadores da planta na manhã da quinta-feira, 4, que determinou a paralisação das atividades por um dia, em reação à intenção da montadora. “Procuramos representantes da Mercedes logo após tomarmos conhecimento do comunicado e tentamos apresentar medidas alternativas, mas a empresa se mostrou irredutível. Sabemos que há queda na produção, mas acreditamos que existem outras formas de atravessar este período, como a renovação do PPE, layoff, ou outros instrumentos que preservem empregos”, afirmou em nota distribuída à imprensa Aroaldo Oliveira, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e trabalhador na Mercedes.

Há mais de dois anos o presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Phillip Schiemer, vem afirmando que a fábrica de São Bernardo tem excedente acima de 2 mil de funcionários, mas nunca conseguiu reduzir o contingente ocioso. Alegando que já usou todos os instrumentos possíveis que existiam para evitar as demissões, desta vez a empresa parece determinada a fazer os cortes. Em maio passado, a Daimler Trucks reduziu suas projeções de mercado na América do Sul e informou que já havia feito provisões em seu balanço de € 100 milhões para custear os desligamentos (leia aqui).

ALTERNATIVAS ESGOTADAS

A direção da Mercedes-Benz alega que a deterioração do ambiente econômico e político no País provocou três anos seguidos de quedas drásticas nas vendas de veículos comerciais, aumentando a ociosidade da planta do ABC e o excedente de pessoal em mais de 2,5 mil funcionários, em nível que não pode mais ser contido com as medidas de flexibilidade e gestão que vêm sendo adotadas desde 2014, como o PPE, layoff e PDV. A empresa lembra ainda que tem cerca de 1,4 mil colaboradores em licença remunerada desde fevereiro deste ano, e que ainda assim a unidade continua operando, em média, um dia a menos por semana, com a concessão de folga para os demais funcionários das áreas produtivas. “Neste momento, diante de um cenário que tem se agravado cada vez mais, não temos outra alternativa a não ser a redução do quadro de pessoal desta fábrica”, justificou a Mercedes em comunicado.

Apesar de todas as alegações de que desta vez não há mais saída, a Mercedes-Benz afirma que continua em negociação com representantes dos trabalhadores para discutir o tema. Oliveira diz que o Sindicato dos Metalúrgicos defende como possibilidade a utilização de alguns elementos similares aos do acordo aprovado esta semana que poderá evitar a demissão de 3,6 mil empregados da Volkswagen em São Bernardo (leia aqui). “A fábrica, no entanto, não aceita discutir essas alternativas, pois alega estar carregando o excedente de mão de obra há muito tempo”, afirma o dirigente.

Os trabalhadores da Mercedes deverão retornar ao trabalho na sexta-feira, 5, mas segundo Oliveira o processo de mobilização continuará até que a empresa aceite iniciar negociação com o Sindicato na busca de alternativas que preservem o emprego. “Não podemos aceitar essa decisão. Os trabalhadores aprovaram hoje a disposição de lutar contra essa decisão. Vamos insistir na busca de soluções e nos manter mobilizados”, afirmou.
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