Mercado prevê 2014 ruim para Petrobras

Publicado em
03 de Dezembro de 2013
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O cálculo do HSBC é de prejuízo total de R$ 4,5 bilhões na área de abastecimento durante 2014

Os investidores concordaram ontem que o reajuste dos combustíveis, que não anulou a defasagem, e a falta de clareza na metodologia de reajustes foram frustrantes. A resposta do mercado ao governo foi uma venda maciça de ações da Petrobras que resultou em perda de R$ 24 bilhões no valor de mercado da companhia. Enquanto as previsões de um ano cheio de dificuldades em 2014 são uma unanimidade, os analistas não chegaram a um acordo ao projetar os efeitos para a ação no longo prazo.

Nos dois extremos ficaram o Credit Suisse e o Bradesco. O primeiro rebaixou a companhia reduzindo o preço alvo das ações negociadas no mercado americano (ADRs) de US$ 25 para US$ 14, enquanto o banco brasileiro enxergou uma zona tão grande de incertezas em 2014 que aposta em correção de rumo depois das eleições em outubro. Por causa disso, o Bradesco elevou o preço alvo dos papéis negociados no Brasil e Estados Unidos para R$ 30 e US$ 25,70, respectivamente, em doze meses.

Entre aumentos e reduções de preços-alvo e mudanças nas recomendações de compra e venda, os bancos de investimento divergem sobre a perda de valor que será causada pela decisão do conselho da estatal e se dividiram, com algumas nuanças, entre otimistas e pessimistas. Do lado negativo ficaram o Credit Suisse, Deutsche Bank, Citi e Itaú BBA, que reforçam os cenários ruins em seu modelo de análise. Pelo lado otimista aparecem Bradesco, Bank of America Merrill Lynch (BofA), J.P. Morgan e Goldman Sachs, ao olhar, sobretudo, para as perspectivas da empresa mais à frente, com melhora a partir das eleições de outubro de 2015.

Apesar das opiniões conflitantes, os acionistas fincaram bandeira no terreno pessimista. As ações ordinárias da companhia caíram 10,37% e as preferenciais perderam 9,21%. Foi o maior tombo em um dia desde novembro de 2008, durante a fase aguda crise financeira global. No mercado americano, os ADRs da Petrobras acompanharam a queda no Brasil. Os correspondentes às ordinárias fecharam cotados a US$ 14,20 (queda de 10,92%) e os equivantes às preferenciais fecharam cotados em US$ 14,94, com recuo de 9,67%.

Em relatório divulgado no domingo com o título "Solução inadequada para um problema estrutural", o Deutsche Bank afirma que os reajustes são insuficientes e que o governo foi, mais uma vez, "mesquinho" com a Petrobras, lembrando que apenas 36% do preço final da gasolina (na bomba) e 60% do preço do diesel correspondem ao que a empresa recebe pelos produtos em suas refinarias, com os impostos representando a maior parte da diferença.

O Credit Suisse foi mais enfático: além de rebaixar o preço-alvo, cortou a recomendação de "outperform" (equivalente a compra) para "underperform" (equivalente a venda).

Ao levantar dúvidas sobre novos aumentos de preços em 2014, um ano eleitoral e quando são esperadas mais preocupações com a inflação e a desvalorização do real, o Credit Suisse calcula que uma depreciação de 10% do real pode levar o índice preço/lucro da Petrobras para 12,5 vezes, com uma lacuna de financiamento US$ 30 bilhões, o que aumentaria a alavancagem para 4,4 vezes, quando a meta considerada sustentável pela companhia é de 2,5 vezes.

Sem melhora dos preços, afirmam os analistas do Credit, a estatal ficou com pouco espaço para eventuais atrasos das metas de produção. "Além disso, uma política de preços mais ligada ao balanço do que aos preços do petróleo é inconsistente com as necessidades de negócio da Petrobras e de um ambiente competitivo", dizem no relatório intitulado "Te vejo em 2015".

Para o HSBC, o alívio do reajuste anunciado será passageiro. Os analistas Luiz Carvalho e Filipe Gouveia escrevem em relatório que, com a desvalorização esperada do real em comparação com o dólar e a falta de sinais sobre novas altas nos preços dos combustíveis, ambos no ano que vem, "os fundamentos da empresa permanecem fracos". Para piorar, o papel provavelmente será negociado com desconto ainda maior por causa da falta de transparência e do aumento do custo de capital.

"A Petrobras perdeu sua oportunidade", diz o texto. Agora, o cálculo do banco é de prejuízo total de R$ 4,5 bilhões na área de abastecimento durante 2014. Mesmo assim, o HSBC aumentou o preço-alvo para os papéis preferenciais, de R$ 17 para R$ 19, mantendo a recomendação em neutra.

O Citi seguiu o movimento e cortou sua recomendação para as ações de compra para neutra. O preço-alvo para os ADRs, contudo, foi mantido pelo banco em US$ 17,50 para os papéis ordinários e em US$ 19 para os preferenciais. Os analistas Pedro Medeiros e Fernando Valle comentam, em relatório, que esse lado negativo da Petrobras vai superar os ganhos que virão com o aumento da produção de petróleo. Entretanto, a instituição alerta: há preocupações quanto à habilidade da empresa de atingir a meta do ano que vem.

Os reajustes estão longe de ser suficientes para reduzir a pressão da situação financeira da petroleira, aperar de ser "certamente um socorro", na opinião do Itaú BBA, que fica no lado negativo. A recomendação é de "market perform", equivalente a neutra, e o preço-alvo é de R$ 23,60 para preferenciais.

Em relatório a casa de análise diz que a inflação continua sendo uma preocupação e que a relutância do governo em divulgar parâmetros é porque a União deseja manter um certo grau de discriminação na decisão do preço. "Nós nos perguntamos o que de fato mudou. E se isto é para ser uma metodologia mais objetiva, por que o conselho decidiu manter em segredo?", afirmam Paula Kovarsky e Diego Mendes.

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