Megatranz busca projetos logísticos no setor elétrico e no exterior para driblar crise do petróleo

Publicado em
03 de Março de 2015
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A falta de projetos no setor de óleo e gás já começou a afetar as empresas de logística, porém os reflexos da crise devem começar a ser mais sentidos por elas em 2016, segundo o presidente da Megatranz, Henrique Zuppardo, já que os contratos ainda em vigor estão mantendo as companhias em atividade. Para não ficar dependente apenas de projetos relacionados ao setor, a empresa vem investindo também no segmento energético, além de buscar expandir sua atuação para países da América Latina.

Zuppardo critica as concessionárias que administram as rodovias brasileiras, enumerando problemas, como custos elevados, instalação de passarelas, viadutos e placas com alturas baixas, dificultando o transporte de equipamentos maiores, e defende mudanças nas concessões, de forma que haja maiores exigências operacionais por parte do governo. “O maior entrave para transporte pesado no Brasil hoje são as concessionárias rodoviárias. Nos Estados Unidos e na Europa, há uma facilidade muito maior nesse transporte. Aqui, são criadas dificuldades para vender facilidades”, diz. O executivo criticou ainda a escolha da Petrobrás pelo preço mais baixo na contratação do projeto logístico dos equipamentos especiais do Comperj, que chegaram a passar por um acidente em uma das fases do transporte. “Houve negligência nesse acidente. Nós já havíamos alertado a Petrobrás dos erros”, afirmou.

Como vê o ano de 2015 para o setor de óleo e gás? A crise tem afetado o setor de logística?

A crise afetou diretamente o nosso setor. Estamos trabalhando por conta dos contratos que já tínhamos. Todo nosso equipamento está em atividade no momento, mas, desde dezembro, há uma dificuldade muito grande no recebimento de novos projetos.

Em quanto tempo a empresa acha que a indústria irá se reerguer?

A expectativa é que esse quadro perdure por todo 2015, com reflexos futuros, em 2016. O que falta na realidade é disposição política para fazer acontecer. Com a atual situação do mercado, não é possível prever quando esse momento será rompido. No Brasil, nós temos momentos em que uma decisão política, um decreto, por exemplo, pode mudar uma crise, passando de uma situação em que há falta de trabalho para outra em que haja excesso de trabalho. Os planos Cruzado e Collor são exemplo disso. Desejamos que ocorra algo assim. Um decreto, uma decisão política, para que o país volte ao trabalho, à produção.

Quais os principais clientes na área de óleo e gás?

Nós tínhamos contratos com praticamente todos os epecistas, além de estaleiros e fabricantes de equipamentos da indústria de base. No setor metalúrgico, temos contrato com a Jaraguá e Iesa, por exemplo.

Estão negociando novos contratos? Existe algum plano de ampliação do escopo de atuação ou diversificação de atividades?

Desde o ano passado nós vínhamos antecedendo essa situação diferenciada no setor de óleo e gás, então passamos a investir no setor de energia, principalmente com o transporte de transformadores e motores para termelétricas, já que o País conta com um grande parque fabril.

Uma atuação mais destacada fora do país também está em pauta. Nossa busca por contratos internacionais ocorre através de um funcionário da empresa em Houston, no Texas, e também em países da América Latina. Apesar de termos um funcionário nos Estados Unidos, nosso foco é completamente voltado para nossos países vizinhos.

Quais os contratos mais importantes da Megatranz no último ano?

Nós tivemos um trabalho realizado para a Marinha do Brasil que nos orgulha, não pelo valor em si, mas pelo desenvolvimento e pelas soluções técnicas a que chegamos. Tivemos que tirar o submarino Tamoio da água e colocar em uma oficina no Rio de Janeiro. Para esse serviço, utilizamos carretas e balsas, além de conhecimentos de engenharia naval. Foi um ano muito bom em termos de contratos, mas melhor ainda nas soluções técnicas que tiveram de ser alcançadas.

Quais os maiores desafios de logística quando não se pode usar o transporte rodoviário?

Quem inviabiliza a indústria de base no Brasil e o desenvolvimento da infraestrutura, como subestações, pólos petroquímicos etc, são as concessionárias rodoviárias. Elas estão instalando pórticos, viadutos, placas, e passarelas com alturas baixas, inviabilizando o transporte. Dessa maneira, as concessionárias estão conseguindo matar a logística no país. Na realidade, isso é um erro do plano de governo, que contrata concessionárias, empresas tidas como puramente arrecadadoras de valores. Nada nos é dado em troca, quanto a estudos de viabilidade operacional, além dos valores cobrados. Isso ocorre principalmente em São Paulo.

Essas são principais dificuldades para o setor de logística?

Atualmente são os problemas com as concessionárias. O governo federal fez a parte dele com uma isenção de importação importante para nós. Resta agora ao governo federal intervir junto às concessionárias para dar condições operacionais. Um exemplo de problema enfrentado é o Porto de Vitória, onde o governo federal e as empresas locais investiram na modernização do empreendimento, mas o concessionário Eco 101 assumiu a rodovia e instalou diversas passarelas sem qualquer tipo de pesquisa ou análise de mercado. Hoje, não é possível retirar cargas ou chegar com elas no porto. Empresas como a Usiminas e Usimec estão sendo afetadas com isso. A Petrobrás vai instalar uma nova fábrica de fertilizantes na região, e a chegada dos equipamentos pode ser comprometida.

Que burocracias são enfrentadas no setor?

As taxas cobradas pelas concessionárias. A operação que a concessionária se propõe a realizar é de péssima qualidade, com gabaritos geométricos sendo instalados nas estradas sem qualquer estudo. O maior entrave para transporte pesado hoje no Brasil são as concessionárias rodoviárias. Nos Estados Unidos e na Europa, há uma facilidade muito maior nesse transporte. Aqui, são criadas dificuldades para vender facilidades.

A Megatranz foi responsável pelo desembarque de cinco reatores italianos no Porto do Rio em 2011. Houve alguma negociação para que vocês continuassem fazendo o transporte?

Houve um processo de concorrência, mas não ganhamos o contrato. O preço apresentado pela empresa vencedora era bastante menor que o nosso, mas os equipamentos e procedimentos usados nos processo foram inadequados, tanto que ocorreu um acidente. A Petrobrás sabia que os procedimentos e equipamentos não eram corretos, mas o preço era o menor. Houve negligência nesse acidente. Nós já havíamos alertado a Petrobrás dos erros.

A empresa tem buscado novos equipamentos?

Nós estamos sempre buscando inovar, mas recentemente importamos os maiores caminhões de tração do Brasil, com capacidade de 500 toneladas. Esses novos veículos dão maior segurança e qualidade ao transporte de equipamentos. Os caminhões mais fortes que tínhamos aqui eram de 1982, da época da construção da usina de Itaipu.

Quais foram os maiores desafios encontrados nos últimos anos na área de óleo e gás?

Toda operação é um desafio. Na última semana, nós transportamos o módulo de acomodação da plataforma P-69, da Ecovix-Engevix, com peso de 1.800 toneladas. São desafios: a dimensão dos equipamentos, o peso, pontes debilitadas, entre outros. Fizemos o transporte de um transformador de Blumenau (SC) até Imperatriz (MA) em 161 dias, que seriam 60 dias. Há muita burocracia, contrariando regras contratuais e técnicas, com as concessionárias fazendo exigências descabidas para a realização de alguns transportes. Na realidade, mascarando a venda de facilidades.

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