Margem de exportação de grão cairá com frete marítimo mais caro

Publicado em
14 de Julho de 2014
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Uma perspectiva de preços mais elevados das tarifas marítimas para granéis deverá representar um revés para exportadores de grãos em um momento em que eles entram na nova campanha de vendas, com os elevados custos de frete apertando margens de lucro e acrescentando mais um ingrediente na batalha de preços nos principais mercados.

Os exportadores de trigo dos Estados Unidos deverão ser os mais atingidos, em meio aos preparativos dos armadores para elevar preços na expectativa de maior demanda por seus navios. A maior alta deverá ocorrer no importante mercado do Oriente Médio, dando vantagem a pequenos produtores, situados mais próximos dos compradores, uma maior competitividade.


"Quando o assunto é a temporada de exportações dos EUA, acreditamos que será uma temporada forte e acreditamos que a mesma coisa será o caso com a temporada do Mar Negro", disse Jens Ismar, presidente do grupo de frete marítimo Western Bulk.


"Isso, combinado ao fato de que o mundo ainda está elevando sua demanda por matérias-primas, faz com que a gente compartilhe a visão de quase todos os analistas que preveem um mercado mais aquecido no segundo semestre."


E enquanto o mercado de frete planeja subir os preços, muitos exportadores de grãos esperam ver seus lucros afetados, especialmente nas vendas de trigo dos EUA, que sofre competição cada vez maior da oferta mais barata da Europa ocidental, Ucrânia, Rússia e países do Mar Negro, como Romênia.


"Um rali nos preços de frete seria prejudicial ao trigo dos EUA, Austrália e Argentina nos mercados do Oriente Médio. O trigo russo provavelmente seria o vencedor", disse uma fonte do mercado europeu.


Outra fonte do mercado disse que o trigo dos EUA, livre a bordo (FOB), está atualmente 6 dólares por tonelada mais barato que o trigo da Rússia e da Ucrânia e 5 dólares mais barato na comparação com origens da Europa ocidental.


"Uma elevação do frete removeria a vantagem competitiva", disse a segunda fonte.


A média de custo de um navio tipo Panamax, capaz de carregar entre 60 mil e 70 mil toneladas de grãos, caiu para a mínima de um ano, perto de 3 mil dólares por dia, nas últimas semanas. Mas analistas e armadores esperam uma recuperação dos preços, com o pico da temporada de exportações perto de outubro.


"As tarifas de Panamax praticamente caíram pela metade no último mês e meio. Definitivamente, com o avanço do segundo semestre, há espaço para melhoria e elas vão aumentar", disse Natasha Boyden, analista do banco de investimentos MLV & Co.

 

Intermodalidade cortaria em 50% valor do frete

O primeiro passo para a intermodalidade, segundo empresários e especialistas, se daria com a ampliação da malha ferroviária, que hoje ainda é pequena no País.


Segundo consultor em logística e diretor da Trading Best Company, Roberto Jerer Fialkovits, a expansão da malha ferroviária resolveria um problema crasso da realidade brasileira. "Hoje, um terço do PIB brasileiro é proveniente do agronegócio, no entanto, há perdas enormes em todo processo de transporte do grão. Desde dentro do armazém, à espera de transporte, até no processo rodoviário e portuário", diz ele ao DCI.


Na visão do executivo, o chamado custo Brasil interfere diretamente nos planos de expansão das empresas brasileiras, somada ao grande risco que o governo ainda repassa. "Antes dos incentivos para esse setor, é preciso que o governo passe credibilidade. O risco Valec é apenas um dos pontos que intimida o investimento."


O planejamento de uma logística integrada, para Fialkovits, aparece também como de extrema importância. "Não basta o dinheiro, é preciso planejar. O governo e a iniciativa privada precisam entrar em acordos e buscar soluções enxutas. Todos os países que possuem intermodalidade tem operações concisas, com menor custo".


Operação ferroviária


No final da década de 1990, uma onda de privatizações levou à iniciativa privada cerca de 26 mil quilômetros de malha ferroviária. Segundo dados da Associação Nacional dos Transportes Ferroviários, deste montante, 22,8 mil km estão em operação e 5,5 mil é subutilizado ou não utilizado. "A média de operação é boa, o problema é que o Brasil precisaria dobrar a malha para começar a ser competitivo", afirmou o presidente da transportadora de grãos Transpoint, Carlos Brandão.


Para o executivo, com uma malha ferroviária adequada, sob os padrões apontados pelo governo, resultaria em redução de 50% o valor do frete cobrado.


"De acordo com o Programa de Investimento em Logística, anunciado pelo governo federal em 2012, as ferrovias seriam concedidas à iniciativa privada, que construiriam a malha e devolveriam à Valec, que revenderia os espaços nos vagões para transportadores. Nesse cenário, nosso custo cairia pela metade, já que atravessamos o Brasil via rodovias", explicou ainda o executivo ao DCI.


As chances de que esse programa se consolide, para Brandão, são muito baixas. "O governo não conseguiu convencer os empresários a investirem. O mundo vive em crise, o momento não é bom e o governo não repassa segurança", detalhou.


Como faz?


Um levantamento feito pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) endossa a opinião de Brandão. Segundo o estudo, o transporte no Brasil é apoiado na malha rodoviária (62% de uso), seguida da ferroviária (24,1%), aquaviária (14%). "Em um país de extensão parecido com o Brasil, como os Estados Unidos, o transporte ferroviário responde por 43% do mercado, seguido por rodovias [32%], e aquaviários [25%]", diz Rubens Feitosa, professor de engenharia civil com ênfase em logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


O professor, que tem sua tese de doutorado apoiada nas relações do transporte entre países como Brasil, Estados Unidos e Rússia, apontou ainda que a explicação para o ramo logístico não deslanchar no País é a malha restrita. "O PIB logístico soma, por ano, entre R$ 500 e R$ 650 bilhões e ainda sim, nos Estados Unidos e na Rússia a logística é 25% e 30% mais barata."


Além das ferrovias, o aporte em hidrovias e melhores condições de mobilidade dentro dos portos também aparecem como essencial. "A costa brasileira poderia ser muito mais bem utilizada, no entanto, a cabotagem ainda engatinha no País", disse Feitosa.

 

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