Até o início de outubro, o executivo mineiro Adilson Primo fazia planos de deixar a presidência da Siemens no Brasil apenas em 2012 — após dez anos no cargo e mais de três décadas de carreira naquela que é uma das maiores fabricantes de equipamentos do mundo.
Sob seu comando, a subsidiária brasileira construiu oito novas fábricas, apresentou taxas de crescimento superiores às das unidades da China e da Índia e faturou cerca de 4 bilhões de reais no ano fiscal concluído em setembro de 2010.
Aos 58 anos de idade, Primo também se sentava no conselho de administração da Natura e cogitava outras propostas para assumir cargos semelhantes. Tudo mudou na manhã do dia 11 de outubro, terça-feira.
Horas antes do início do encontro anual da Siemens em sua matriz, em Munique, na Alemanha, Primo foi chamado para uma reunião a portas fechadas com o presidente mundial, Peter Löscher. Saiu de lá sem emprego e com a reputação abalada.
Quase imediatamente a Siemens divulgou o motivo da demissão num comunicado lacônico: grave violação das diretrizes da empresa. No mesmo dia, a imprensa alemã afirmava que Primo teria desviado 6,5 milhões de euros — fato não confirmado oficialmente pela Siemens e negado pelo executivo.
“Não houve desvio e não há acusação formal da empresa contra mim”, disse Primo a EXAME. “A presença de investigadores da matriz se tornou frequente em diversos países, inclusive no Brasil. Nos últimos meses, recebemos mais um grupo. Achei normal. Só fiquei surpreso quando recebi a notícia de minha própria demissão.”
O caso ainda nebuloso, com detalhes mantidos em sigilo, entrou para as volumosas estatísticas que mostram o efeito da nova obsessão da Siemens em todo o mundo — investigar e punir a má conduta de funcionários. Além de Primo, outros 108 empregados, instalados em diversas subsidiárias, foram demitidos nos últimos 12 meses por violações às normas internas.
A temporada de caça às fraudes começou em 2007, quando o presidente mundial Klaus Kleinfeld foi demitido após a descoberta de um esquema de pagamento de propinas por parte dos executivos da Siemens em pelo menos dez países entre 1999 e 2006, que rendeu multas superiores a 2 bilhões de dólares.
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