Logística nos setores de papel e celulose: fragilidade das cargas precisa ser levada em consideração

Publicado em
12 de Novembro de 2013
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Por se tratarem de produtos extremamente frágeis, a logística nos segmentos de papel e celulose exige o emprego de equipamentos específicos e cuidados especiais, de modo a proteger as cargas e evitar que sejam, principalmente, molhadas ou danificadas.

Wanderley Gonelli Gonçalves

Pelo fato de a celulose e o papel serem matérias primas e produtos acabados nobres e limpos, o seu manuseio exige certos cuidados que podem parecer excessivos, mas que, na verdade, são indispensáveis na operação logística. “Dentre os muitos cuidados, local limpo e ambiente arejado, livre de contaminações de agentes plásticos ou de madeira, são requisitos imprescindíveis. Por outro lado, os equipamentos de manuseio precisam estar em perfeito estado de conservação e manutenção, sem vazamentos de óleo, e os clamps, garfos e bobineiras, limpos e sem ferrugem.”

Com esta observação, Willy Maxwell, diretor de logística, e Luiz M. Cosceli, gerente de logística Celulose, ambos do Grupo Rodrimar (Fone: 13 3202.8398), iniciam esta matéria especial sobre a logística nos segmentos de papel e celulose. Segmentos, aliás, que vêm apresentando crescimento, tanto em termos de exportação quando de produção, segundo dados da Bracelpa – Associação Brasileira de Celulose e Papel (Fone: 11 3018.7803).

Segundo a entidade, a receita de exportação do setor de celulose e papel acumulou um crescimento de 7,5% de janeiro a agosto deste ano, totalizando US$ 4,74 bilhões. Em relação à celulose, o crescimento da receita de exportação foi de 12,1% no acumulado do ano, chegando a US$ 3,42 bilhões, enquanto o segmento de papel apresentou variação de – 3%, com US$ 1,31 bilhão. Com isso, o saldo da balança comercial do setor de janeiro a agosto somou US$ 3,47 bilhões, 12,6% superior ao do mesmo período de 2012.

Por outro lado, em oito meses, a produção de celulose registrou crescimento de 4,8%, com 9,72 milhões de toneladas produzidas em relação ao mesmo período de 2012, quando o volume atingiu 9,28 milhões de toneladas. As exportações de celulose também cresceram, chegando a 6,22 milhões de toneladas, 12,1% a mais do que os 5,54 milhões de toneladas, somados nos mesmos meses do ano passado.

Em relação ao papel, a produção nacional totalizou 6,91 milhões de toneladas, o que representa 1,5% de crescimento de janeiro a agosto deste ano, na comparação com igual período de 2012, quando foram produzidas 6,80 milhões de toneladas. No acumulado, as vendas domésticas de papel também registraram aumento de 2,9%, chegando a 3,70 milhões de toneladas.

FRAGILIDADE

Voltando à questão da logística nestes segmentos, Paulo Fantini, gerente de negócios, e Robson Silva, executivo de vendas, da Supricel Logística (Fone: 19 2105.6728), também apontam para a fragilidade dos produtos e no que isto interfere em sua logística. “Por se tratarem de produtos extremamente frágeis, são exigidos equipamentos e cuidados que protejam a carga e evitem que seja molhada ou danificada. E para cumprimentos dessas exigências, são necessários procedimentos para a inspeção preventiva, garantindo a segurança e integridade da carga, e constante aperfeiçoamento dos profissionais envolvidos na operação.”

Análise semelhante faz Norberto Montone, diretor da Transportes Montone (Fone: 11 5011.5311), que destaca, como meios de preservar a qualidade destes produtos, o uso de veículos bem fechados, limpos e isentos de umidade.

Éder Fatel, gerente geral da Unidade de Serviço Ferroviária de Tatuí da Brado Logística (Fone: 41 2118.2800), faz uma análise diferenciada. “No nosso caso, que realizamos o serviço de armazenagem e carregamento de bobinas de papel, na Unidade de Serviço Ferroviário (USF) de Tatuí, SP, as principais exigências são a conferência, o monitoramento e prioridades de embarque da carga. Temos um sistema onde é feito o agendamento e recebimento dos veículos com a mercadoria. Fazemos o transporte de bobinas de papel, com uma movimentação média de 23 vagões por mês. A operação leva cerca de 20 minutos para o carregamento e 1 hora para descarga do vagão”, explica.

Já Pedro Alberto Nedochetko, gerente da filial São Paulo da Cooperativa dos Transportadores do Vale – Cootravale (Fone: 47 3404.7000), cita, entre as características, peculiaridades e exigências da logística nestes setores, a necessidade de agenda nas descargas de clientes, enquanto Agnaldo de Souza Filho, do Expresso Nepomuceno (Fone: 35 3694.9900), aponta operação em regime 24 horas, sete dias na semana, e com alto grau de exigência em segurança. E Valmir Oliveira Alves Filho, gerente geral de operações florestais da JSL (Fone: 11 2377.7465), relaciona as características: operação com produto diferenciado, de alto valor agregado; emprego de mão de obra especializada, com rotina de treinamento específica para garantir a qualidade do produto em seu manuseio, pela sua característica; necessidade de aquisição e desenvolvimento de máquinas e equipamentos de alta performance; e alto custo de manutenção dos equipamentos.

“Ainda podemos acrescentar: operações de grande porte e volumes, o que demanda extrema agilidade nos fluxos normais de importação e exportação, e também nos fluxos internos, como Just-In-Time e Milk-Run”, complementa Marcelo Guilherme Ostrowski, gerente comercial da Martini Meat (Fone: 41 3420.3200).

Cassem El Khouwayer, gerente comercial da Quality Soluções em Logística (Fone: 11 4583.4800), também aponta para a alta movimentação nas operações e para a qualidade no atendimento em todo o processo produtivo, armazenagem e expedição, destacando que o Brasil tem modesta participação nesse negócio global, apesar das vantagens competitivas que desfruta e de ser reconhecido exportador de celulose.

PROBLEMAS E SOLUÇÕES

Já falando nos problemas mais significativos na logística destes segmentos, e como são solucionados, o gerente da filial São Paulo da Cootravale enfatiza a concentração de volumes no final de mês, ainda um reflexo de política inflacionária do passado.

Por sua vez, Maxwell e Cosceli, do Grupo Rodrimar, lembram que, devido ao alto volume de produção, expansão dos mercados internacionais e ao fato de o Brasil ser um dos lideres mundiais no setor, as empresas estão cada vez mais alavancando projetos green field, onde se torna necessário reduzir alguns métodos de transporte, como o rodoviário, e priorizar o ferroviário, adquirindo créditos de carbono e tendo ganhos em escala maiores. “Porém, a malha ferroviária no Brasil ainda precisa de altos investimentos para expandir sua capacidade, suprir a demanda crescente do mercado de celulose e minimizar os custos logísticos. No caso específico do Porto de Santos, a grande dificuldade de acesso e saída da cidade/porto tem sido o ponto mais crítico, mas já existem projetos sendo viabilizados pela Prefeitura e pelo Estado para que esses problemas sejam resolvidos nos próximos três anos com obras de anel viário e pontes/viadutos. Para isso, nas operações de celulose temos priorizado as operações com ferrovia no limite da viabilidade da malha”, contam o diretor de logística e o gerente de logística Celulose do Grupo Rodrimar.

A análise dos problemas da logística nestes segmentos feita por Alves Filho, da JSL, não é muito diferente. Os problemas por ele levantados incluem: gargalos e custos elevados, encontrados principalmente no escoamento do produto nas rodovias, ferrovias e nos portos, levando à necessidade de desenvolver novas rotas e equipamentos de maior performance e que aumentem o peso/viagem; nova Lei do Motorista, que leva ao estabelecimento de novas escalas de trabalho; capacidade de carga dos equipamentos de transporte de madeira e da celulose, impondo o desenvolvimento de novas tecnologias para reduzir o peso das composição que transportam a matéria prima e o produto acabado; péssima qualidade da malha rodoviária, exigindo investimentos; falta de segurança jurídica, principalmente na esfera trabalhista, o que torna necessária uma reforma da legislação trabalhista; e alta carga tributária, cuja solução seria uma reforma da legislação tributária.

Fantini e Silva, da Supricel, também vão por estes caminhos na análise dos problemas intrínsecos à logística nestes setores. Primeiro eles avaliam que um dos problemas mais significativos é em relação à molhadura da carga, e por isto são necessários cuidados para impermeabilizá-la adequadamente. E depois, concordando com a análise do gerente geral de operações florestais da JSL, apontando como problemas os de infraestrutura logística, que afetam o transporte como um todo, como a precariedade e a falta de segurança nas rodovias e os pontos de paradas, entre outros.

Ostrowski, da Martini Meat, aponta como problemas os custos não competitivos, pois o foco está em outro segmento – “sendo assim, inovações no projeto serão um diferencial” –, enquanto o diretor da Transportes Montone relaciona os problemas de entregas em áreas restritas e com horários alternativos. Nestes casos, a solução é agregar o maior volume possível para diminuir custo, diz ele.

TENDÊNCIAS

Finalizando esta matéria especial, quais seriam as tendências da logística nestes setores?

“Acreditamos que a tendência seja o aumento do uso de equipamentos de alta tecnologia para exercer este tipo de operação”, destaca Fatel, da Brado Logística, ao mesmo tempo em que Nedochetko, da Cootravale, aponta o uso de veículos baús e de bitrens baús de 30 m, para 48 paletes.

“Estamos passando por uma revolução na indústria, onde os clientes exigem uma produtividade maior, devido ao aumento de produção projetado para os próximos anos. Seguindo este raciocínio, a tendência do setor na armazenagem portuária de papel e celulose é automatizar cada vez mais o processo de carga e descarga, evitando avarias com os manuseios adicionais da carga, e a criação de equipamentos que realizam este processo em quantidades simultâneas e em massa”, comentam, por sua vez, Maxwell e Cosceli, do Grupo Rodrimar.

Por este lado também caminha a análise das tendências feita por Alves Filho da JSL: equipamentos – a busca será por equipamentos com maior capacidade de carga, a fim de reduzir mão de obra e, como consequência, os custos operacionais; mercados – com a entrada de novas empresas no mercado brasileiro, o que fará a diferença para buscar novos clientes serão produtos com preços mais competitivos, atendendo às leis, normas ambientais, segurança e sustentabilidade; exigências – a busca diária pela melhoria continua nos processos pelos provedores, a fim de reduzir custos e proporcionar aumento de performance, com melhora da qualidade na prestação de serviços; e possuir certificações, como ISO 9000, 14000, FSC – Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal, e CEFLOR – Certificação Florestal.

“Para nós, o que se vê é a adequação da infraestrutura às tendências internacionais de logística e transporte, com qualidade e especialização certificada”, complementa Ostrowski, da Martini Meat, enquanto o gerente comercial da Quality relaciona, como tendências: crescimento no sistema de movimentação de materiais; disponibilidade de capital e recursos naturais; atuação globalizada (competição gera competitividade); qualidade e produtividade; desenvolvimento de equipamentos de movimentação específicos. “A tendência é sempre de investimento em qualidade e segurança no carregamento.

As cargas no setor de papel e celulose são sempre carregadas com sider ou carreta convencional”, finalizam Fantini e Silva, da Supricel.

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