Logística: não está ruim o suficiente, por Clara Rejane Scholles

Publicado em
10 de Junho de 2013
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Muito se tem falado dos gargalos logísticos e da ineficiência dos portos brasileiros. Em especial o impacto de longas filas de caminhões na chegada ao porto de Santos.

No que concerne ao transporte de cargas conteinerizadas, pode-se afirmar sem medo, que a iniciativa privada tem cumprido a sua parte do investimento, melhorando a produtividade e a eficiência. Isso, no entanto, não significa que os custos para o usuário sejam equivalentes aos melhores terminais europeus, americanos ou asiáticos. Não são.

E não está se falando no item de capatazia ou THC (Terminal Handling Charge), taxa paga pelo exportador e importador para o manuseio da sua carga no terminal marítimo. A falta de competitividade dos custos portuários brasileiros está muito mais atrelada à baixa concorrência entre terminais e à morosidade do trâmite de liberação de cargas, seja na exportação quanto na importação.

A partir desta semana, entra em operação, na margem esquerda do porto de Santos, a Embraport. Terminal privativo, que com a sanção da MP dos Portos, pela presidente Dilma Rousseff, poderá operar cargas de terceiros e contratar seus funcionários pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), diferentemente dos portos públicos sob concessão que precisam obrigatoriamente requisitar mão de obra do Órgão Gestor de Mão-de-Obra (OGMO).

Portanto, o Sudeste terá ampliada a capacidade de cais e de operação de navios, o que resultará em uma redistribuição de volumes no Porto de Santos, empurrando o gargalo para a estrada e o acesso aos terminais portuários. Importante lembrar que o terminal da BTP logo mais também entrará em operação na margem direita.

Da mesma forma que os órgãos intervenientes têm um processo moroso de liberação de cargas de importação e exportação, a bola está novamente com o poder público para resolver o gargalo do acesso portuário.

Cada cidadão, empresário, enfim, cada contribuinte tem sentido a mão implacável da cobrança de impostos do governo. Há pouca contrapartida em itens de necessidade básica como segurança, saúde e educação. Menos ainda na execução de melhorias para que o país acompanhe, do lado da responsabilidade do poder público, os investimentos da iniciativa privada em terminais portuários.

Enquanto isso, milhares de cargas de empresas brasileiras continuam esperando na fila, para entrar e sair dos portos. Diárias de caminhão e frete maior por tonelada são pagos e, é jogado pela janela o custo de oportunidade de alocar recursos para gerar outras riquezas. São pagos valores elevados de armazenagem portuária, de sobre-estadia de contêineres, que são custos mais significativos que a carga e descarga, traduzida no THC para o exportador e importador.

São essas ineficiências e displicência no uso do recurso disponível que torna o Brasil pouco competitivo no cenário global. A impressão que fica é que precisa piorar. Precisamos ter mais filas e mais “pibinhos” para que se dê atenção aos gargalos atuais e novos que se formarão.

* Clara Rejane Scholles é especialista em logística e diretora da Pratical One.

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