Logística: estratégica e em processo de terceirização*

Publicado em
11 de Agosto de 2016
compartilhe em:

Em diversos artigos tenho comentado o fato de como a logística tem aumentado sua importância nas estratégias de governos e empresas. E, como resultado desse movimento em todo o mundo, o aumento dos gastos com a logística, a terceirização desse serviço, o crescimento da quantidade de serviços oferecidos e o aumento do faturamento dos operadores logísticos. Os quadros A, B e C ilustram essas afirmações.

Quadro A –  Percentual de terceirização dos serviços logísticos.

  Fonte: Coppead e ILOS.

 Quadro B – Aumento do faturamento dos operadores logísticos.

 

  Quadro C – Crescimento de serviços oferecidos pelos OL’s nos EUA.

 

   Fonte: Pesquisa realizada pela Arkansas University em operações ‘inbound’, junto aos 100  maiores OL’s dos EUA.

Tenho utilizado, inclusive, o termo “Cultura Logística” para definir o “fato pelo qual governantes, empresários e executivos estão cada vez mais convictos (ou pelo menos deveriam estar) de que a logística tem importância estratégica e transformou-se em um dos principais fatores de sucesso, de empresas e países (1). Aqui mesmo, em setembro de 2013, voltei a abordar o assunto, ao escrever o texto “Cultura Logística”.

Volto ao assunto porque é fundamental enfatizar o que costumeiramente tenho chamado de “importância estratégica da logística”. Não há dúvidas de que a crescente movimentação de produtos acabados ou insumos, entre uma fábrica e um centro consumidor, entre uma cidade e outra ou entre um país e outro, está exigindo eficiência, rapidez, qualidade, integridade e baixos custos. Mas além disso, a logística passou a ser um competente instrumento para alavancar a força do marketing, possibilitar o aproveitamento e a exploração de mercados mais distantes (de insumo ou de consumo), agregar valor ao produto, gerar satisfação ao cliente e, consequentemente, aumentar a competitividade de produtos, empresas e países.

É sabido, como demonstram diversas pesquisas que, quando não há o produto desejado na gôndola, a grande maioria dos consumidores compra de outras marcas, compra outro produto ou desiste da compra. O que se depreende é que, uma venda não realizada torna-se, definitivamente, uma venda perdida. Outros estudos ainda indicam que os ‘novos consumidores brasileiros’, exigentes cada vez mais, querem rapidez nos serviços e que quando não são atendidos por falta de estoque, comentam “suas decepções” com os amigos (pesquisa de Gouvêa de Souza e Accenture apresentada na Lean Logistics).

O mesmo raciocínio pode-se aplicar a países, pois exportações e importações somente poderão ser viabilizadas com uma logística eficiente e, mais do que isso, estruturada para atender as “novas regiões produtoras ou consumidoras”. Importante, também, é entender que toda e qualquer política de distribuição de rendas, precisa vir acompanhada de uma política que facilite a movimentação das pessoas, dos insumos e dos produtos acabados, notadamente, quando se trata de regiões não contempladas por infraestrutura logística adequada. A incorporação de novos consumidores ao mercado, exige que esses mercados tenham infraestrutura, inclusive de transportes, compatível com as necessidades de movimentação de pessoas e mercadorias. A logística é imprescindível para que se leve, ao mercado produtor, insumos de lugares distantes e ainda pouco explorados, assim como é imprescindível, para o mercado produtor, levar seus produtos acabados para serem adquiridos pelas populações, de regiões mais inóspitas e distantes, recentemente incorporadas ao mercado de consumo. Produtos acabados ou insumos, de regiões mais distantes e de difícil acesso (em alguns casos ‘sem acesso’), somente serão comercializados se, além das já conhecidas características de qualidade e preço, tiverem uma logística que viabilize suas movimentações.

A consequência disso tudo é a de que a logística tem um “novo entendimento” a respeito do papel desempenhado até então, posto que, além de se buscar soluções logísticas mais inteligentes para diminuição dos gastos (ou custos) logísticos, sempre necessário, passou-se, principalmente, a discutir sobre a importância da logística na estratégia dos negócios, na medida na qual ela pode propiciar, para empresas e países, vantagens competitivas imprescindíveis. O quadro D, a seguir, mostra como é esse entendimento.

 Quadro D. Você concorda que a Logística é vantagem competitiva?

  Fonte: ILOS e Third-Party Logistics Study Results.

A logística transforma-se, então, em diferencial mercadológico, na medida em que, pelo menos no curtíssimo prazo, o novo modelo logístico implantado não pode ser copiado ou imitado. Nesse momento a logística passa a ser considerada como um ativo de empresas ou países. A integração eficiente das atividades econômicas e empresariais, papel central da logística, transforma-se em fator fundamental de sucesso produtivo e econômico.

O fato é que se a logística, já tinha como missão disponibilizar o produto certo, na quantidade certa, no lugar certo, no tempo certo e com o menor custo possível, ela agora está incorporada à estratégia de empresas e governos, sendo imprescindível considerá-la quando se elaboram planos de negócios ou de crescimento e desenvolvimento econômicos.

Resumidamente, portanto, se já havia motivos suficientes para que a logística passasse a ter significativa importância no mundo dos negócios (2), agora surge um outro, tão importante como os outros: A convicção de que a logística é, de fato, um dos principais fatores do sucesso econômico, de países e empresas. É a compreensão inequívoca de que somente serão alcançados o crescimento e o desenvolvimento econômicos a partir do momento em que houver o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das atividades logísticas.  

Seguindo essa tendência mundial, essas causas também atuaram fortemente no Brasil:

1º) Volumes Crescentes: em face de diversos fatores (aumento do poder aquisitivo de grande parte da população brasileira, o crescimento da classe média e expansão do crédito, novos mercados foram incorporados ao cenário econômico brasileiro. Esses mercados (Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil e diversas regiões interioranas dos principais estados brasileiros), mais distantes e alguns até de difícil acesso, comparados com os mercados tradicionais, exigiram novas soluções logísticas e obrigaram as empresas a desenvolver e implantar operações mais complexas e adequadas a essas regiões.

Além disso, as atividades de comércio exterior, embora retraídas no atual momento, também aumentaram muito nos últimos anos que antecederam a atual recessão. Para que se tenha uma ideia da dimensão desse aumento, é só notar que as exportações, de US$ 55,1 bilhões em 2000, alcançaram US$ 256 bilhões em 2011. O comércio exterior passou, no mesmo período, de US$ 110,9 bilhões para US$ 482,3 bilhões! É óbvio que as movimentações nos portos, aeroportos e nas fronteiras aumentaram de forma extraordinária, exigindo providências urgentes, seja na infraestrutura como nas organizações das empresas, tomadoras ou prestadoras de serviços logísticos.

2º) Aumento e Melhoria da Infraestrutura Logística: governantes e empresários iniciaram discussões e entendimentos a respeito da regulamentação, das regras e dos investimentos necessários para expansão e a melhoria da infraestrutura logística brasileira. Mesmo sabendo que o volume e o andamento (sem falar nos altos custos e na corrupção) dos investimentos voltados à infraestrutura não sejam satisfatórios (O PAC – Programa de Aceleração do Crescimento e o PIL – Programa de Investimentos em Logística tem evoluído muito menos do que se esperava), o tema tem ocupado espaços que anteriormente não tinha. O tema sobre infraestrutura logística tem sido objeto de vários artigos, dos quais destaco três que considero os mais importantes: “Brasil: Política Monetária ou Política Econômica” (Folha de Alphaville, 2005), “Infraestrutura Logística Brasileira – Desafio e Solução” (Guia do TRC de junho de 2016) e “Infraestrutura Logística Brasileira – Organização e Financiamento” (Guia do TRC de junho de 2016).

Para demonstrar que este é um assunto antigo, mas que pouco evoluiu nos últimos anos, vale à pena relembrar o que foi escrito em 2005, 11 anos atrás: “A falta de investimentos por um período tão grande pelo qual está passando o Brasil, somente agravará sua situação no futuro, pois já terá comprometido toda uma geração de pessoas, visto que não poderão, em face das carências passadas e atuais, exercerem seus papéis como cidadãos, em seu conceito mais amplo: educado, politizado, solidário, com saúde, moradia, trabalho e consciente de seus direitos e deveres. Além do que, a falta de investimentos em infraestrutura contribuirá para o altíssimo custo e pela baixa produtividade da produção e da economia como um todo.

3º) Convicção de que Logística tem importância estratégica: pesquisas em todo o mundo, e também no Brasil, junto a executivos e empresários, indicam claramente que a logística veio para ficar e é fator de diferenciação empresarial. Como já demonstrado através do Quadro D, é claro o entendimento de que a atividade logística, realizada de forma eficiente e coordenada, traz vantagens competitivas para suas empresas e que a grande maioria dos usuários dos serviços logísticos está satisfeita com seus operadores (Quadros E e F).

 Quadro E – Você está satisfeito com seu operador logístico?

   Fonte: ILOS e Third-Party Logistics Study Results.

 Quadro F - Empresas satisfeitas com a decisão de empregar OL’s - Brasil.

  Fonte: ILOS

Constata-se claramente, analisando o mercado logístico brasileiro, que usuários de serviços logísticos têm buscado a terceirização por entenderem que este é o caminho para melhorar suas cadeias de suprimentos, seja na redução de seus estoques, no melhor atendimento de seus clientes ou na diminuição de seus custos.

Se no começo do processo, esses empresários “compravam” serviços logísticos mais simples, querem, agora, terceirizar atividades mais complexas, que melhorem seus processos e a tecnologia de informações, fundamentais para o bom desempenho dessas atividades.

Portanto, assim como em todo o mundo, o Brasil também segue para maior terceirização das operações logísticas, pois as três forças, aqui listadas, têm contribuído muito para que a logística assuma, rapidamente, importância estratégica de empresas e governos. Uma excelente notícia para os operadores.

 (1) “A Logística como Instrumento Estratégico de Crescimento e Desenvolvimento”, publicado pela Revista Mundo Logística nº 30, em setembro/outubro de 2012.

 (2) 1º Necessidade de se movimentar quantidades crescentes de mercadorias, por distâncias cada vez maiores e por todo o mundo e 2º) Esforços para aumentar e melhorar a infraestrutura logística (estradas, portos, ferrovias, aeroportos, comunicação, tecnologia de informação, legislação, etc.) que, indiscutivelmente, criaram as bases operacionais mais eficientes, seguras e de baixo custo.

* Paulo Roberto Guedes é consultor de empresas e professor do curso de Logística Empresarial do GVPec, da EAESP/FGV.

Boletim Informativo Guia do TRC
Dicas, novidades e guias de transporte direto em sua caixa de entrada.