A favor dos chinesesestá o fato de poderem contar com uma estatalfinanceira para O envolvimento das maiores construtoras do Brasil na Operação Lava Jato tem ajudado a pavimentar a entrada do capital asiático nos principais projetos de infraestrutura do País. No entanto, isso não quer dizer que o investidor chinês tenha espírito aventureiro e esteja disposto a entrar em qualquer barca furada que encontre pela frente, de acordo com Cláudio Gonçalves, diretor para a área de infraestrutura da consultoria A.T. Kearney Brasil.
O olhar asiático avalia cada detalhe da operação antes de apresentar uma proposta, afirma o consultor. Mas esse olhar não se limita ao imediatismo da proposta. “Os chineses pensam numa lógica baseada no longo prazo, por isso são focados em setores de base e estratégicos, como infraestrutura logística e energia”, comenta Gonçalves.
A realidade desfavorável para investimentos em países da Europa também favorece o Brasil. “Ainda há uma série de entraves econômicos em toda a Europa. Não há muitas oportunidades de grande porte pelo mundo. Por isso, os chineses passaram a olhar para outros países, como o Brasil, que ainda tem um longo caminho para avançar na área de infraestrutura”.
Gonçalves chama atenção para o fato de que muitas empresas chinesas têm feito investimentos em parceria com companhias brasileiras para fincar a bandeira em determinados setores, como o de energia. Trata-se de uma medida de cautela, para conhecer como o setor funciona. A partir daí, passam a atuar de forma independente. “Eles passam por uma primeira etapa para aprender. Depois, saem criando suas próprias estruturas.”
Financiamento. Na avaliação do consultor, o Brasil deve seguir caminhos já trilhados por outros países, como Portugal, Angola e Moçambique, onde os chineses compraram participações em empresas de energia, bancos, seguradoras e linhas transmissão. A favor dos asiáticos está o financiamento estatal. Invariavelmente, quando miram negócios em algum país, os chineses trazem consigo uma estatal financeira para bancar parte de seus projetos, o que dá independência em relação a financiamentos locais como os do BNDES, cada vez mais pressionados.
“Essa invasão chinesa tende a se intensificar no Brasil. Para além dos investimentos, cabe ao País analisar os riscos de concentrar todos os ovos na mesma cesta”, comenta Gonçalves. “É preciso considerar que há uma preocupação estratégica por trás disso. Estamos falando de setores de base de uma nação.”