Quase um ano após abrir a licitação de sua maior obra, o prolongamento da avenida Jornalista Roberto Marinho, a gestão Gilberto Kassab (DEM) vai enviar à Câmara uma proposta de lei para tentar regularizar o projeto para poder construí-la. Se a proposta não for aprovada pelo Legislativo, a licitação poderá ser anulada.
Lançada em novembro passado, a obra está orçada em mais de R$ 2 bilhões e deveria começar neste ano. A prefeitura não diz se a previsão será mantida, o que se tornou quase improvável. A principal intervenção é a construção de um túnel de mais de 2 km de extensão para ligar a Roberto Marinho à rodovia dos Imigrantes. São previstas ainda a construção de um parque de 600 mil m2 e a remoção de 10 mil famílias que vivem no entorno. A conclusão da obra é estimada em 36 meses.
A decisão de enviar um projeto de lei para "adequação ao projeto de melhoramento viário" ocorre depois de questionamentos de órgãos de fiscalização: Tribunal de Contas do Município, Câmara e Ministério Público.
O principal deles é o município ter apresentado, durante uma audiência pública em 2008, um projeto indicando um traçado para o túnel. Agora, porém, na licitação, o traçado apresentado é totalmente diferente daquele. Essa mudança implicaria mais desapropriações, mesmo com um túnel menor. A prefeitura não explicou por que modificou o projeto nem o quanto isso muda o valor.
Para os vereadores Roberto Tripoli (PV) e Antonio Donato (PT), o projeto deverá ser discutido em novas audiências públicas -inclusive sobre seu custo-benefício. "Não se justifica, numa cidade com tantas carências, jogar quase R$ 3 bilhões para fazer uma ligação por túnel com a Imigrantes, que poderia ser por via terrestre sem problemas", disse Donato.
Além disso, o parlamentar petista considerou "ilógico optar por um traçado com mais desapropriações".
Para Tripoli, presidente da Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara, há uma questão relevante para os cofres do município. "Antes seriam 120 desapropriações, agora são 1.300. O túnel iria desembocar em uma favela, agora vai desembocar em uma série de casas. Eles já estão gastando dinheiro contando com a aprovação da Câmara", afirmou Tripoli.
Os consórcios responsáveis pela construção de cada um dos quatro lotes ainda não foram escolhidos. O processo parou após questionamento do TCM, que informou que "não foram observados alguns apontamentos reputados como importantes" solicitados ao município. O TCM não informou quais são esses "apontamentos".