Publicado recentemente, o estudo da CNT “Transporte&Desenvolvimento: Entraves logísticos ao escoamento de soja e milho” demonstra que o Brasil é o segundo maior exportador destes produtos do mundo. Em 2014, foram 46 milhões de toneladas de soja e 19,5 milhões de toneladas de milho exportadas.
Mas há problemas graves no escoamento. Somente as condições do pavimento das rodovias levam a aumento de 30,5% no custo operacional. Se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria economia anual de R$ 3,8 bilhões.
Segundo a CNT, Esse dado torna-se ainda mais relevante porque há uma distribuição inadequada da malha de transporte. 65% da soja é transportada por rodovias (ver quadro). Nos EUA, principal concorrente do Brasil, 20% da produção é transportada por rodovias. Na Argentina, o percentual é de 84%, mas as distâncias médias entre regiões produtoras e portos vão de 250 km a 300 km. Nos EUA e Brasil, as distâncias são em torno de 1.000 km. O Brasil utiliza 9% de hidrovias no escoamento, e os EUA, 49%
Matriz de transporte da soja |
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País |
Brasil |
Argentina |
EUA |
Hidroviário (%) |
9,0 |
3,0 |
49,0 |
Ferroviário (%) |
26,0 |
13,0 |
31,0 |
Rodoviário (%) |
65.0 |
84,0 |
20,0 |
Distância média ao porto (km) |
1.000 |
300 |
1.000 |
Fonte: CNT |
Para melhorar o escoamento de soja e milho no Brasil, seria essencial investir R$ 195,2 bilhões, dos quais R$ 80,1 bilhões em ferrovias, R$ 60,5 bilhões em rodovias, R$ 34,0 bilhões em navegação interior, R$ 18,8 bilhões em portos e R$ 1,8 bilhão em terminais.
Só a viabilização da hidrovia Teles Pires-Tapajós, prossegue a CNT, reduziria em cerca de R$ 94 o custo do transporte de grãos por tonelada, na comparação com uma rota totalmente rodoviária. Isso poderia representar quase a metade do custo. Hoje, a produção que sai por rodovias de Lucas do Rio Verde (MT), e tem como direção o porto de Paranaguá (PR), percorre, em média, 2.300 km. O custo do transporte por tonelada é de cerca de R$ 230.
Com a Teles Pires-Tapajós, diz o estudo, a distância percorrida por rodovias seria reduzida para cerca de 320 km e outros 1.425 km seriam navegados por hidrovias até Santarém (PA). Nesse trajeto, que utiliza dois modais, o custo do transporte por tonelada seria de cerca de R$ 130, o que representa 58% do valor do deslocamento rodoviário até Paranaguá.
Mas a ausência de eclusas, falta de dragagem, derrocagem, sinalização e balizamento impossibilitam essa navegação. Outras alternativas que facilitariam o escoamento de soja e milho são as hidrovias do Paraguai e a Tocantins-Araguaia. Todas dependem, contudo, de investimentos para se tornarem viáveis.
A pouca disponibilidade de ferrovias é considerada problema grave ou muito grave por 83,3% dos embarcadores. Outras necessidades se referem a marco regulatório, modernização tecnológica e outras questões. O Brasil tem 3,4 km de infraestrutura ferroviária para cada 1.000 km2 de área. Os EUA têm 22,9 km, e a Argentina, 13,3 km.
Neuto Gonçalves dos Reis
Diretor Técnico Executivo da NTC&Logística, membro da Câmara Temática de Assuntos Veiculares do CONTRAN e presidente da 24ª. JARI do DER-SP.