Ineficiência e a economia brasileira, por Luiz Gonzaga Bertelli*

Publicado em
29 de Julho de 2013
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É inquestionável, nos dias atuais, o descalabro dos transportes terrestres no Brasil da população e de cargas. Sob a gestão federal, o sistema rodoviário, bem como o setor ferroviário, são grandes focos do desperdício de energia, capital e trabalho do povo do País.

Quando se examina a situação dos municípios, o congestionamento do tráfego urbano de passageiros já é incontrolável.

Isto decorre das grandes falhas administrativas, explosão demográfica, exponencial crescimento urbano e incontrolável corrupção, que permeiam todos os setores da gestão pública.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revela que apenas 34% das ações penais de crimes contra a administração pública, entre os quais a corrupção e outros delitos, foram julgados e se poderão tornar "hediondos", quando o projeto virar lei.

Os órgãos de comunicação, constantemente, revelam as ocorrências, que gozam de impunidade da Justiça.

Ao viajar pelo interior da Nação, vamos evidenciar o desleixo das nossas estradas, na sua maioria esburacadas, o que provoca o precoce desgaste dos veículos, gerando o elevado consumo dos combustíveis ou uma excessiva incidência de acidentes e tempo irremediavelmente perdido das pessoas.

Outra grave deficiência nacional consiste na inadequada estruturação dos transportes coletivos, mui especialmente nas principais cidades brasileiras.

Não bastasse o exagerado uso dos combustíveis, (a demanda de gasolina cresceu 58% em 2008 - 2012), que tudo isso acarreta, com repercussões no aumento da importação dos derivados do petróleo, o meio ambiente das cidades é deteriorado, acentuando-se as emissões dos gases nocivos e a maior incidência das enfermidades respiratórias e cardiovasculares.

A produção do petróleo nacional não é suficiente para atender ao atual consumo brasileiro e, da mesma forma, sucede no que tange ao etanol da cana-de-açúcar.

Em maio deste ano, a extração nacional do petróleo foi de 60 milhões de barris (5% inferior ao produzido no mesmo período do ano anterior). No acumulado do ano, a produção foi 10% menor e, por outro lado, as nossas importações foram feitas com o pagamento médio de US$ 100 o barril (160 litros).

A Petrobrás compra em dólares, a preços do mercado internacional e comercializa em reais, em valores fixados pelo governo. Quanto ao gás natural, o uso, já alcança em média 68 milhões de m³, sendo 50% dessa quantidade importado da Bolívia.

Na safra de 2012/13, 40 usinas do açúcar e do álcool deixaram de produzir. A demanda do etanol hidratado (carro flex), que já atingiu mais de 1,5 bilhão de litros mensais, caiu para 800 milhões, nos primeiros meses deste ano.

Mesmo com a inquestionável competência dos técnicos da nossa principal empresa do Estado, a extração do óleo cru na região do Pré-sal representa um enorme desafio, com o custo de dezenas de bilhões de dólares.

Jamais, em toda a face da terra, tivemos perfurações tão profundas, representando um desafio logístico de dimensão abissal.

Ademais, milhões de pessoas desperdiçam, diariamente, excessivo tempo de sua disponibilidade, no seu deslocamento das residências para os locais do trabalho, pouco restando para o lazer ou atividades culturais.

As soluções já são sobejamente conhecidas, com a expansão das linhas do metrô e implantação dos ônibus elétricos ou híbridos. Outra fatalidade foi a desativação das ferrovias, notadamente da Cia Paulista, considerada a modelo das estradas de ferro da Nação e similar às atuais organizações de França, Japão e Itália.

Existem, outrossim, substanciais estudos, entre eles do prof. Dias Leite, ex-ministro as Minas e Energia, sobre o trem-bala e conclusão da ferrovia Norte-Sul.

O atraso previsto nas concessões de ferrovias pode culminar no despejo de cerca de 200 mil caminhões por ano nas estradas do Estado de São Paulo, principalmente no Rodoanel, a partir de 2015, ampliando a dependência do Porto de Santos do transporte rodoviário.

São informações da CNI e, desta forma, as soluções exequíveis são: deixar de transportar mais carga ou transportá-la nas mencionadas 200 mil viagens de caminhão ou, ainda, reduzir os horários para o transporte de pessoas.

O Brasil vive, desta forma, o desafio da logística. Ao lado das ferrovias e rodovias, faltam estradas vicinais, onde está localizada a maioria dos produtores.

É inquestionável, em decorrência, a indispensabilidade do emprego eficiente do potencial da Nação, com racionalidade e competente gestão, contendo o desperdício, que assume, entre nós, caráter sistêmico.

*Luiz Gonzaga Bertelli é vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo e diretor da Fiesp-Ciesp

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