O setor industrial do Brasil segue em desvantagem em relação aos seus principais concorrentes. Um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a indústria brasileira só é mais competitiva que a da Argentina.
Diferente de grandes pesquisas internacionais, o levantamento da CNI se concentra em medir a competitividade de 18 países cuja estrutura econômica e de exportação é parecida com a do Brasil. Assim, é possível captar de forma mais fiel um avanço ou retrocesso do setor no Brasil.
A Coreia do Sul é a economia com melhor desempenho, segundo a publicação. Ela é seguida por Canadá e Austrália.
A competitividade é um fator bastante importante para o setor industrial – é ela que garante vantagem na concorrência do comércio internacional. "O Brasil não conseguiu acelerar a agenda da competitividade", disse o gerente-executivo de pesquisas da CNI, Renato da Fonseca. "A indústria brasileira precisa correr mais do que os outros países se quiser avançar."
O estudo da CNI analisou diversos fatores da indústria para classificar a competitividade do setor em cada país. Veja os destaques apontados sobre o Brasil:
O Brasil ocupa a lanterna em disponibilidade e custo de capital. É mais caro investir aqui que em outros países;
O Brasil tem o terceiro pior ambiente macroeconômico e de negócios entre os países analisados;
Em educação, o Brasil aparece na 11ª colocação. Nesse quesito, o país gasta o mesmo do que as principais economias, mas tem resultados abaixo do esperado;
O Brasil vai melhor em disponibilidade e custo de mão de obra. A indústria brasileira está na sexta colocação, atrás apenas de Peru, Índia, Chile, Turquia e Colômbia.
Agenda longa
A agenda de melhora da competitividade da indústria está na mesa há mais de uma década. Ao longo dos últimos anos, a indústria enfrentou uma combinação perversa: na mais severa crise econômica da história do Brasil, a produção manufatureira perdeu relevância na balança comercial, e o setor passou a ter dificuldade para competir com os produtos importados.
"A indústria tem uma conta que é crescente. Ela está andando em círculo e nem sequer consegue virar a página da crise enfrentada nos últimos três anos", afirma o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin.
Para avançar, o Brasil vai ter de endereçar uma série de questões, melhorando o resultado de políticas públicas de educação, avançando no ambiente de negócios e macroeconômico.
No dia a dia das empresas, a perda de competitividade fica evidente logo na largada da produção. O setor tem uma alta carga tributária, de 45%, 12 pontos porcentuais a mais do que a carga média do país, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
"Atualmente, produzir no Brasil significa enfrentar custos adicionais que os concorrentes não enfrentam. O setor tem uma carga tributária muito acima da observada nos países em desenvolvimento", diz o assessor da assuntos estratégicos da presidência da Fiesp, André Rebelo.
O exemplo coreano
Atual líder em competitividade, a Coreia do Sul já foi uma economia bastante parecida com a brasileira e hoje serve de modelo de desenvolvimento do Brasil.
Em 1980, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Brasil era de US$ 4,9 mil, e o coreano era de US$ 2,19 mil, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). No ano passado, o PIB per capita brasileiro foi de apenas US$ 16,1 mil, enquanto o coreano chegou a US$ 41,4 mil.
No recorte detalhado estudo da CNI, a Coreia é líder em infraestrutura e logística e ocupa a segunda colocação em disponibilidade e custo de capital, além de ter a terceira melhor educação entre os 18 países analisados.
"A Coreia adotou um modelo mais focado em alguns setores. Houve um incentivo para alguns setores, mas também uma cobrança", diz Fonseca, da CNI. "Com uma mercado interno pequeno, a Coreia não tinha outra opção a não ser se tornar competitiva para aproveitar o mercado externo."