Importados já representam 18,3% do consumo nacional

Publicado em
11 de Agosto de 2010
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Os importados estão cada vez ganhando mais espaço no mercado brasileiro. Só no primeiro semestre deste ano, eles ocuparam 18,3% no consumo doméstico. Essa participação supera em 22,8% a do mesmo período de 2009, quando era de 14,9%. Trata-se de um patamar histórico, de acordo com um levantamento feito pela LCA Consultores.

Para o economista do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Pedro Paulo Pettersen, o que levou a essa "invasão" de produtos estrangeiros no país foi a valorização do real e a alta carga tributária paga pelos produtos brasileiros, que acaba encarecendo seu preço final para o consumidor. "Quando o cambio está muito valorizado, o empresário nacional não consegue colocar o produto no mesmo preço que o importado. Isso abre espaço para que eles entrem no país", explica.

Para Pettersen, a presença dos produtos importados força os nacionais a apresentarem mais qualidade, mas pode também retrair a produção regional.

O setor da indústria que teve maior alta na participação dos importados foi o de material eletrônico, equipamentos e aparelhos de comunicações, que cresceu 50,1% no primeiro semestre do ano. E a tendência é que esse número continue crescendo, segundo o economista da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Cézar Luiz Elias Rochel.

Ele conta que no ano passado o país importou US$ 25 bilhões em materiais eletrônicos, e que a estimativa para este ano é que suba para US$ 30 bilhões. Já as exportações, segundo ele, caminham a passos lentos no setor. No ano passado o Brasil exportou apenas US$ 7,5 bilhões, 70% menos do que importou. "Hoje temos uma fabricação nacional muito pequena. E com a concorrência externa ela vem reduzindo. Até a década de 90 tínhamos 250 indústrias, agora devemos ter umas 50", afirma o economista.

Com 18,2% de participação no mercado brasileiro, os carros importados também representam forte concorrência para os nacionais. "É bom porque eles trazem inovação tecnológica, mas tiram o emprego do país", afirma o presidente do Sindicato das Concessionárias e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv), Mauro Pinto de Moraes Filho.

Realidade em Minas é igual à brasileira - Quando o assunto é entrada de produtos importados, a realidade de Minas Gerais não é diferente da brasileira. Dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) dão conta de um aumento de 40% nas importações do Estado no primeiro semestre deste ano, comparado com 2009.

"A importação está crescendo de forma muito intensa em todo o país. Os que se destacam são os produtos com maior valor agregado, como eletrodomésticos", afirma o consultor de negócios internacionais da Fiemg, Alexandre Brito.

Para o economista do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Pedro Paulo Pettersen, os números podem mudar em um futuro próximo. "Como estamos comprando máquinas, isso pode ser investimento na nossa indústria, o que gera mais produção que pode ser exportada e abastecer mercado interno", explica.

Brito discorda: "Gera mais exportações, mas de maneira desigual, porque vamos importar máquinas, que são caras, e exportar produtos mais baratos", afirma. (TL)

Para comércio, fenômeno tem um lado bom - Apesar de ser negativa para vários setores da economia, a entrada de produtos importados no mercado mineiro agrada aos comerciantes. "Para o comércio é muito bom, já que traz a possibilidade de trabalharmos com produtos substitutos, que muitas vezes têm preços mais baixos", afirma o gerente da divisão de pesquisas da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL), Fernando Sasso.

Além disso, ele lembra que a entrada dos produtos estrangeiros impede que a forte demanda interna gere uma inflação. Mas, o economista ressalta que a longo prazo, até o comércio pode sofrer negativamente com a presença dos importados.

Se a indústria brasileira não aguentar a concorrência e por isso retrair, podem haver demissões. "Temos que pensar que as pessoas que trabalham nas indústrias são consumidores para o comércio. Caso eles fiquem sem emprego, vamos passar a vender menos", afirma.

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