Aumento de 2000% no frete internacional deve gerar inflação de importados.
Mesmo com a retomada da atividade econômica mundial, 2020 pode ser considerado um dos piores anos da história para setores que dependem de importação. Depois de sucessivos tombos em função do distanciamento social e da disparada da cotação do dólar, o preço do frete internacional passou a ser o grande obstáculo aos importadores.
A partir do segundo semestre, com a retomada do comércio mundial, a demanda reprimida precisou ser escoada e o frete teve uma escalada de preço jamais observada. O transporte marítimo de um contêiner Ásia-Brasil que custava cerca de US$ 350 em julho, ultrapassou a média histórica (US$ 2,3 mil) em setembro e deve encerrar o ano acima de US$ 7,3 mil. A alta é de 317% em relação à média histórica e de 2.000% em relação a julho.
Roupas, equipamentos eletrônicos, pneus e todos os produtos trazidos por contêineres de países como China, Coreia e Japão sofrerão os impactos diretos deste reajuste, que deverá começar a ser mais perceptível agora no início de 2021, à medida em que vão ocorrendo os desembarques, já com a forte alta no frete.
Indiretamente a disparada do frete deve afetar todas as mercadorias comercializadas no Brasil, avalia o presidente da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (Abidip) Ricardo Alípio da Costa. Ele destaca que os pneus, mesmo os fabricados no Brasil, dependem de matéria-prima importada como o aço.
“Toda a logística interna de insumos, alimentos, medicamentos e produtos em geral no Brasil é feita por caminhões. O pneu é o terceiro item mais caro no custo de manutenção de um caminhão, portanto, a elevação do seu preço tem grande impacto no custo total do transporte interno de mercadorias”, disse Alípio.
De acordo o presidente da Abidip, há forte suspeita de formação de cartel por parte dos armadores que operam o transporte marítimo. “Provavelmente eles estão inflando artificialmente os preços para tentar recuperar as perdas do início do ano com a pandemia”.
A associação informou que está mobilizando outros setores dependentes de importação para levar a questão ao ministro da economia Paulo Guedes. A reivindicação é para que o governo federal formalize um pedido de investigação na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre possível prática abusiva dos armadores.
Oferta e demanda
No maior porto do Brasil, responsável por cerca de 30% da movimentação contêineres do país, o Porto de Santos, não se verifica aumento tão expressivo no segundo semestre que pudesse relacionar a disparada do frete com excesso de demanda. Segundo dados divulgados pelo próprio terminal, no mês de outubro a movimentação de contêineres foi apenas 0,2% superior ao mesmo mês de 2019.
Prática reiterada
Movimento semelhante no preço do frete, mas em um espaço maior de tempo, ocorreu entre outubro de 2015 e dezembro de 2017. Conforme amplamente noticiado à época, deliberadamente armadores reduziram à metade os serviços de navegação entre Ásia e Brasil, o que elevou em seis vezes o custo do frete e tornou a rota a mais cara do mundo.