Içamento é operação complexa e delicada

Publicado em
17 de Abril de 2015
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Darcy Pacheco foi responsável pela colocação do aromóvel sobre a linha

Com o aumento do porte das obras de infraestrutura e do crescimento vertical das cidades, uma solução logística encontrada para movimentar peças e equipamentos em locais de difícil acesso é o içamento. A medida pode ser adotada para gigantescos e pesados objetos, como uma grua de construção civil, ou, em demandas residenciais, para itens singelos, como sofás e refrigeradores.

Na área de megaoperações, uma companhia que se destaca no mercado é o Grupo Darcy Pacheco. O gerente comercial da empresa Gustavo Machado da Silva comenta que há demandas de indústrias, petrolíferas, companhias de energia, siderúrgicas, entre outras. "Cada vez mais, as obras são maiores, e as operações acompanham isso", ressalta o dirigente.

A Darcy Pacheco já trabalhou com peças de 200 a 300 toneladas, como é o caso de turbinas de usinas de energia ou peças da indústria de celulose. A empresa conta com guindastes que podem erguer de 25 a 750 toneladas e atuar em uma altura de 150 metros. No total, o grupo possui em torno de 120 guindastes, sendo que os valores desses maquinários variam de R$ 500 mil até R$ 20 milhões.

A Darcy Pacheco já ergueu estruturas na Arena do Grêmio, no estádio Beira-Rio, em viadutos e inclusive o aeromóvel. Nesse caso, foi realizado o transporte do veículo, do Rio de Janeiro até Porto Alegre, e o içamento para colocá-lo em cima da sua linha (cujos blocos também foram içados). O serviço mais bizarro concretizado pela companhia foi a movimentação de um elefante que morreu no zoológico de Sapucaia do Sul.

O gerente comercial do Grupo Darcy Pacheco Newvani Cirolini Correa enfatiza que a empresa nasceu com içamentos e atuando com guindastes. Há quatro anos, a companhia iniciou a operação com transporte especial, oferecendo soluções logísticas completas. O coordenador de Negócios da Darcy Pacheco, Leandro Lisboa, lembra que uma das maiores operações logísticas do País foi feita pela empresa há alguns anos, quando movimentou quatro tanques de 18 metros de comprimento, 8,2 metros de largura e 9,3 metros de altura, com o peso de 150 toneladas por peça.

O transporte foi feito do município de Triunfo até a refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas (uma distância de cerca de 55 quilômetros, percorrida em três dias). Para aprimorar esse tipo de trabalho, a Darcy Pacheco está começando a operar, neste primeiro semestre, um serviço de escolta própria que contará com 10 viaturas.

Na área de içamento, outras duas empresas que possuem experiência no ramo são a Fargo Guindastes e a MunckMaq Transportes. O gerente comercial da Fargo Guindastes, Carlos Eduardo Miquelissa, detalha que entre os procedimentos para realizar um içamento estão checar equipamentos de segurança individual (como capacete e luvas) e para execução do trabalho (cintas, cordas, cabos de aço, paleteiras - item para movimentação de cargas - e manilhas).

Além disso, é necessário analisar o local da operação antes do iniciar o trabalho, ver se o solo é apropriado, utilizar calços de madeira para evitar afundamentos e verificar se o espaço é suficiente para a manobra, fundamentalmente a aérea (avaliando fios elétricos, placas e árvores). Também é necessário confirmar o peso do material que será içado pelo guindaste para ver se o equipamento é suficiente para o serviço. Outro cuidado é operar cada controle lentamente e com movimentos suaves para evitar trancos no corpo e braço da máquina.

De acordo com Miquelissa, entre os principais demandantes desse tipo de operação estão as construtoras, as empresas de manutenção industrial, as agências de propaganda e as companhias de telefonia. Como objeto mais estranho erguido pela Fargo, o gerente comercial cita uma bandeira alusiva ao Brasil colocada em uma estátua da rede de lojas Havan, e o mais pesado, uma injetora de 60 toneladas.

O assistente comercial da MunckMaq Transportes, Adiel Santos, afirma que içamentos de cargas, na maioria das vezes, são vistoriados, e somente após são realizados os planos de movimentação de carga, de acordo com os padrões de segurança de cada empresa. No caso da MunckMaq Transportes, Santos diz que já foram movimentados variados objetos como árvores palmeiras, anjo de igreja, passarelas de pedestres pesadas, entre muitas outras.

Lava Jato reduz trabalhos com peças de grande porte

O principal setor afetado pela Operação Lava Jato, que investiga irregularidades dentro da Petrobras, foi o de óleo e gás. Como o segmento é um dos maiores clientes do serviço de içamento, isso acabou impactando as empresas que praticam essa atividade. O coordenador de Negócios da Darcy Pacheco, Leandro Lisboa, admite que a investigação e o receio que causou na economia tiveram reflexos para os agentes especializados em movimentar peças volumosas.

Um dos clientes da Darcy Pacheco, por exemplo, era a QGI Brasil (que administra o estaleiro da antiga Quip), localizada em Rio Grande. Como a Petrobras está evitando fazer aditivos de contrato nesse momento da Lava Jato (solicitado pela QGI para atuar na concretização das plataformas de petróleo P-75 e P-77), isso está dificultando a realização dessas encomendas por parte da empresa gaúcha.

Para o gerente comercial da Darcy Pacheco Gustavo Machado da Silva a questão da Lava Jato impacta toda a economia, gerando temor quanto aos novos investimentos. "Mas precisamos trabalhar e não podemos deixar que a crise abata a empresa", sustenta o gerente. O dirigente reforça que, em algum momento, as demandas do setor de óleo e gás retornarão. "Estamos falando da maior empresa do Brasil, que estava movimentando a maior fatia da economia nacional", salienta.

Já o gerente comercial da Darcy Pacheco Newvani Cirolini Correa acrescenta que há o interesse político de manter a construção de plataformas de petróleo em Rio Grande. Além disso, se por um lado o segmento de óleo e gás enfrenta dificuldades, a empresa tem registrado intensa demanda no campo da energia eólica, realizando operações na região dos municípios do Chuí e de Santa Vitória do Palmar. "O segmento eólico garante ocupação pelos próximos 20 anos", projeta Correa. O dirigente reforça que esse campo não foi afetado, até pela necessidade do crescimento da energia alternativa no Brasil.

O gerente comercial da Fargo Guindastes, Carlos Eduardo Miquelissa, também atesta que a operação Lava Jato e a crise econômica têm afetado o trabalho de içamento. "Nosso faturamento sentiu muito, pois trabalhávamos diretamente com as empresas envolvidas e para fornecedores delas", diz. O gerente comercial acrescenta que algumas obras que estavam em licitação foram interrompidas, tais como o metrô de Curitiba. "Nossa ocupação da frota está em 30%, começamos as demissões e bloqueamos todo o investimento planejado para 2015 e 2016", lamenta.

Segundo o assistente comercial da MunckMaq Transportes, Adiel Santos, a Lava Jato os impactos no setor de içamentos não foram tão significativos. Santos argumenta que empresas envolvidas na operação, hoje, ofertam menos serviços por estarem em crise. "O que dá o equilíbrio para nosso mercado são as indústrias, que vivem em constantes manutenções e mudanças", afirma.

Solução para os problemas domésticos

Não é somente para erguer máquinas de grandes proporções que o içamento é a única solução. A ação também ocorre dentro do âmbito doméstico, em casos de mudanças ou aquisição de bens sem acesso à residência pelo elevador, escada ou portas. Normalmente, um serviço dessa natureza chama a atenção de curiosos, atraídos pela tensão de um sofá, estátua ou piano sendo erguido a dezenas de metros do solo.

Apesar do inusitado e da periculosidade de um objeto pesado ser erguido por cordas ou cabos de aço, o gerente operacional da Bela Vista Plenitude em Mudanças e Logística, Jean Carlo Corrêa Carneiro, informa que, em mais de seis anos realizando esse tipo de serviço, nunca houve um incidente de maior porte. Recentemente, a companhia realizou uma operação que iria fazer suspirar os fanáticos por um bom jogo de futebol ou algum filme no conforto do seu lar.

Uma televisão de 84 polegadas foi içada até o 9º andar de um prédio no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A operação absorveu oito pessoas, duas colocadas embaixo, na entrada do edifício, funcionando com uma espécie de guias, para afastar o material da parede do prédio, e mais seis para puxar a televisão, a partir do 15º andar. Essa estratégia, de posicionar o pessoal em um ponto mais elevado, facilita a entrada do móvel no apartamento e aumenta a segurança da operação, explica Carneiro.

O empresário Sérgio D’Agostin havia medido o televisor e constatado que não seria possível movimentá-lo pelo elevador ou pela escada. "Como a gente já tinha feito outros serviços de içamento, foi a maneira mais segura que encontramos de fazer a entrada no apartamento", detalha. Apesar de já ter encomendado trabalhos semelhantes anteriormente, D’Agostin admite que "dá um frio na barriga" ver uma TV de 84 polegadas pendurada para fora do edifício.

Ele ressalta, no entanto, que o pessoal da mudança, que D’Agostin escolheu após uma pesquisa pela internet, executou a tarefa de forma tranquila e segura. O içamento merece um grau especial de atenção, e quando o serviço é combinado com uma mudança, os dois são feitos em dias diferentes. A segurança do procedimento envolve o uso de cones e fitas para isolar a área abaixo do móvel ou equipamento que será elevado. O que pode complicar um içamento é o material que será trabalhado, a dificuldade de acesso, peso, entre outros pontos. Dias de chuva e vento são outros elementos quer podem complicar a operação.

Quando o objeto é muito pesado, a companhia utiliza um guincho; caso contrário, o trabalho é braçal. O equipamento, que usa um cabo de aço de 60 metros de comprimento, pode erguer até 500 quilos. O material mais pesado erguido pela empresa foi um tampo de vidro, de 25 milímetro, com 2,50 metros de altura e 1,80 de largura com mais de 400 quilos. Essa ação envolveu 26 pessoas. Já o ponto mais alto de içamento foi o 21º andar. Entre os artigos mais inusitados que foram movimentados, Carneiro lista esculturas e obras de arte para a Casa de Cultura Mario Quintana, centro cultural localizado na Rua dos Andradas, em Porto Alegre.

Complexidade do serviço define o custo

Assim como os içamentos, os preços cobrados pelos trabalhos são muito diversificados. O gerente operacional da Bela Vista Plenitude em Mudanças e Logística, Jean Carlo Corrêa Carneiro, informa que o valor mínimo cobrado pela empresa para um içamento é de R$ 500,00, podendo chegar a R$ 6 mil dependendo do número de peças e do que será erguido.

A assistente financeira da Nycy Mudanças, Joana Botelho, afirma que o preço depende da dificuldade da operação, podendo oscilar de R$ 500,00 a R$ 3 mil. Entre os fatores que podem complicar o procedimento estão altura, peso, dimensão dos objetos, características arquitetônicas do prédio, entre outras.

Ela diz que o móvel que mais passa por esse tipo de ação são os sofás. Joana argumenta que mais do que o peso, o tamanho do que será movimentado é o maior complicador. O material mais estranho com que a Nycy trabalhou foi uma cristaleira, e o mais pesado, o maquinário de restaurante. A Nycy faz mais de 10 içamentos mensais.

O proprietário da FVL Mudanças & Transportes, Fábio Lima, informa que, no caso da empresa, são feitos poucos içamentos por mês, normalmente apenas um. O içamento, dependendo dovolume ou do peso, gera um risco muito grande. Como um serviço incomum que a empresa já fez, Lima cita equipamentos de fisioterapia.

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