Descobrir exatamente quanto sua logística custa é difícil. São tantos detalhes na operação que as pessoas geralmente fazem estimativas – e acabam errando feio.
Existem métodos precisos para medir seus custos logísticos. A ideia de Christopher (2010) é fazer o cálculo cliente por cliente e evitar médias ou estimativas.
Como a logística afeta a folha de balanço?
De acordo com Christopher, os custos da logística são raramente vistas de forma minuciosa pelo setor financeiro de uma empresa.
O autor aponta que isso é um erro, pois alguns custos são “invisibilizados” quando a logística é visto no balancete apenas como “custo logístico” e não fragmentado em variáveis.
Por isso, Christopher aponta 5 variáveis da folha de balanço e como são impactadas pela operação logística:
#1 Finanças e Contas a receber
O tempo de ciclo do pedido afeta diretamente as finanças da empresa.
Por exemplo, um tempo curto para o ciclo do pedido significa que a empresa recebe as faturas mais rapidamente.
Já a taxa de conclusão do pedido afeta o fluxo de caixa se a fatura for enviada somente após os produtos serem despachados.
Existe também o caso de uma fatura incorreta. O cliente terá que contactar a empresa sobre o erro e o tempo vai passando até uma fatura nova ser emitida.
#2 Inventário
As normas da empresa sobre a quantidade de bens no inventário também afeta a logística. Dependendo da quantidade desejada, a logística terá que aumentar ou diminuir seus fluxos de escoamento.
Imagine por exemplo uma empresa que limite seu inventário em 500 unidades. E agora pense em uma que o inventário tenha limite de 80 unidades.
A empresa com 80 unidades provavelmente terá que escoar suas cargas com uma frequência maior.
Já a localização dos estoques e dos centros de distribuição afeta o tempo de entrega e a rota. É importante situá-los em centros estratégicos perto dos seus clientes.
#3 A fábrica, propriedades e equipamentos
O orçamento é afetado por toda a infraestrutura necessária para que a operação logística ocorra.
Aqui entram os custos para manutenção da fábrica, centros de distribuição, armazéns e equipamentos logísticos.
Muitas empresas terceirizam seu armazéns e frota para minimizar custos de manutenção e com mão de obra.
#4 Passivos correntes
Passivos correntes são dívidas que a empresa precisa pagar em um prazo específico.
Na logística, a compra de materiais e componentes entram nesse cálculo dos passivos correntes. É importante que a compra de materiais seja harmoniosa com a real demanda dos clientes – o sistema Kanban é uma forma de atingir isso.
#5 Dívidas
A terceirização da logística cria uma despesa contínua para a empresa, o que em momentos de maior turbulência econômica, pode virar uma dívida.
Assim, o que era um ativo fixo (uma frota) vira uma despesa (contratar uma transportadora), que tem seus prós e contras.
Enquanto a terceirização “enxuga” a operação logística da empresa, essa delegação pode virar uma dívida se as finanças não forem bem planejadas.
Como analisar os custos logísticos
Christopher aponta que a logística é um fluxo e assim, os custos devem ser medidos como um “fluxo” também.
Por isso, é contra a forma usual que as empresas calculam os gastos: somando o custo de cada etapa da logística. Para Christopher, esse cálculo invisibiliza alguns custos por ser muito departamentalizado.
Christopher fala que essa visão fragmentada pode causar problemas. Por exemplo, uma decisão feita no departamento de produção pode acabar prejudicando a equipe de marketing e suas campanhas.
Método 1: Calcular custos como “missões” logísticas
As “missões” logísticas seriam todos os serviços necessários para cumprir a demanda de um cliente.
Assim, em vez de somar todos os custos de produção da empresa para todos seus clientes e tirar a média, a visão de missão analisa o custo de produção cliente por cliente.
Observe a ilustração a seguir de Christopher:
Perceba que as missões logísticas “atravessam” as áreas da empresa.
Isso permite observar o real custo do transporte por exemplo para cliente X em vez de fundamentar suas análises em uma média.
Christopher coloca isso em prática abaixo:
Christopher acredita que essa abordagem facilita ver clientes que são mais lucrativos para a empresa. E também ficar de olho em clientes que podem sair caro para algum departamento específico.
Assim, em vez de impor mudanças globais na empresa de acordo com médias, o autor defende pequenos ajustes cliente por cliente.
4 passos para calcular custos de “missões” logísticas
Para implementar com eficiência o modelo de “missões” na sua logística, siga os passos seguintes:
#1 Defina o segmento do cliente
Identifique o segmento do cliente e quais são as suas necessidades.
Cada cliente tem suas características específicas e começar pelas “normas” do segmento é um bom pontapé para depois se especializar num atendimento personalizado.
Imagine que você adquira um novo cliente do setor fast fashion. Vale a pena estudar primeiro sobre o fast fashion e suas características e para depois bater um papo com o CEO e descobrir mais detalhes.
Assim, você parte do “geral” e depois para o específico.
#2 Identifique os fatores que variam o custo do serviço
Nessa etapa você precisa identificar todos os fatores que impactam o custo de seu serviço.
Vale a pena fazer uma “lista” de custos ou até um fluxograma. Conversar com a contabilidade e funcionários no chão da fábrica também ajuda descobrir custos camuflados.
Os custos mais comuns são a frequência de entregas, o mix de produtos e atendimento ao cliente.
#3 Identifique os recursos necessários para cada cliente
Aqui em uma perspectiva de “missão” logística, cabe identificar quais recursos cada cliente precisa para o fornecimento dos seus bens.
Isso inclui calcular a quantidade de linhas de fábrica usadas, a mão de obra e até o espaço de armazenamento.
No caso de um produto personalizado, você precisa verificar quais matérias-primas são usadas.
#4 Atribua os custos por consumidor
Em vez de calcular os custos da sua empresa realizando médias, faça o cálculo cliente por cliente.
Assim, você tem uma noção mais detalhada dos clientes mais lucrativos e dos mais custosos para a empresa.
Por que as médias enganam?
As médias enganam, pois escondem os preços nos extremos.
Uma média pode parecer razoável, mas acoberta valores altos prejudiciais.
Imagine por exemplo um gestor que deseja calcular os custos do cliente como porcentagem das vendas líquidas.
Ele obtém as seguintes médias:
- Processamento de pedidos: 2,6
- Locomoção de inventário: 2,6
- Picking e expedição: 0,7
- Cargas outbound: 7,1
- Comissões: 3,1
A seguir são os valores mais altos para cada item:
- Processamento de pedidos: 7,4
- Locomoção de inventário: 10,2
- Picking e expedição: 2,5
- Cargas outbound: 14,1
- Comissões: 4,4
Perceba a variação grande nos itens. “Cargas outbound” dobrou por exemplo! Por isso, fundamentar suas análises em médias pode acabar ocultando custos altos da sua operação.
Para isso Christopher recomenda usar a matriz da lucratividade do cliente.
Método 2: Analise os custos de cada cliente com a matriz da lucratividade
Essa tabela ajuda você a priorizar seus clientes mais lucrativos e eliminar aqueles que não estão valendo a pena para a empresa.
Agora dependendo de onde o seu cliente cai no quadrante, Christopher recomenda uma estratégia diferente:
#1 Construir
Esses clientes são baratos para fornecer serviços ou produtos, mas não dão um retorno financeiro alto.
A estratégia é tentar aumentar o nível de vendas, seja oferecendo promoções ou “combos” de compra mais vantajosos.
#2 Zona de perigo
Esses clientes saem caro para fornecer e além disso dão um retorno financeiro baixo.
A estratégia é avaliar se é possível aumentar o retorno financeiro. Caso não exista essa perspectiva, é melhor cortar laços com esse cliente.
#3 Otimização de custos
Esses clientes são caros para receber seus produtos ou serviços, mas também dão um retorno financeiro bom.
A estratégia nesse caso é de otimizar os custos. Há uma série de medidas possíveis:
- É possível entregar os produtos com menor frequência, mas em lotes maiores?
- As remessas podem ser consolidadas?
- Seria mais viável buscar mais clientes na mesma área geográfica para baratear o custo de entrega?
#4 Proteger
Esses são os clientes mais valiosos da sua empresa. O fornecimento dos produtos ou serviços é barato e com um alto retorno financeiro.
A estratégia nesse caso é fidelizar o cliente e conquistar sua confiança. Assim, você evita perdê-lo para algum concorrente.
Também sempre deixe a janela aberta para aumentar seu volume de negócios com este cliente já que o custo de serviço é baixo.
Método 3: Analise os custos com o método Direct Product Profitability (DPP)
Esse método em português seria “lucratividade direta do produto”, que calcula todos os gastos e retornos financeiros de um único produto para a empresa.
Assim, em vez de um cálculo generalista que visualiza somente o lucro total por cliente dos produtos, esse método busca identificar custos que pode ficar invisíveis.
Em uma análise caso a caso, os cálculos são mais precisos e você evita erros.
Como calcular o Direct Product Profitability (DPP)
Basta você realizar a seguinte conta:
- Calcule o valor pela venda do produto
- Subtraia os seguintes itens:
- custo do produto
- custos de armazenamento
- custos com mão de obra
- custos de transporte
- custos do varejo (armazenamento e mão de obra)
- Faça a subtração. Agora você sabe a lucratividade direta do produto (DPP)
Confira um exemplo:
- valor de venda do produto: R$ 1500
- Itens para subtrair:
- custo do produto: R$500
- custos de armazenamento: R$50
- custos com mão de obra: R$200
- custos de transporte: R$ 100
- custos do varejo (armazenamento e mão de obra): R$ 200
- Lucratividade direta do produto (DDP): R$450
Após segmentar os custos em todos esses fatores, o gestor logístico deve ficar de olho naqueles mais altos, como por exemplo o custo do produto e com mão de obra.
Será que buscar novos fornecedores e parceiros do varejo ajudariam?