Governança Corporativa - Um novo olhar para a gestão das empresas

Publicado em
02 de Setembro de 2010
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A Governança Corporativa será uma tendência e uma necessidade para as empresas, especialmente as familiares. É um sistema de gestão que auxilia diretamente na tomada de decisão dentro das companhias. Na prática, princípios são convertidos em recomendações objetivas, além de facilitar o acesso a recursos e contribuir para a longevidade das empresas. Os principais resultados obtidos são a melhora das relações entre os funcionários, o aumento da eficiência operacional, a melhoria no desempenho financeiro, ou seja, é uma ferramenta importante para a empresa como um todo. Esse sistema passa ainda pelo respeito desde os funcionários até os acionistas e clientes.

Está apoiada em quatro pilares principais que envolvem transparência, o tratamento a todos com equidade, a prestação de contas por parte dos administradores e a responsabilidade corporativa. ’’É importante entender que a empresa está inserida na sociedade e não está isolada. Depende de clientes e fornecedores’’, destaca o presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e ex-presidente da BM&FBovespa, Gilberto Mifano. Ele diz ainda que não importa o tamanho da empresa para se adaptar a este sistema, mas o fundamental é ter a aplicação destes conceitos.

A governança é ainda a ’’resposta para a sucessão de gerações’’. Hoje, o Brasil tem empresas que já estão na segunda ou terceira geração e esse sistema tem soluções para isso. Dos 1.600 associados do IBGC, 85% são empresas familiares que não estão na Bolsa de Valores, mas adotaram a governança. No Paraná, há 123 associados ao instituto.

Esse sistema facilita até a obtenção de empréstimos das empresas junto aos bancos. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) oferece linhas de financiamento com juros menores para empresas com conceitos superiores de governança. Hoje, das 440 empresas que fazem parte da Bolsa, 160 já operam com a governança e se comprometeram a isso em contrato.

A implantação do processo pode ser feita aos poucos e, segundo Mifano, nunca vai estar totalmente pronta, porque todo dia é necessário evoluir nisso de acordo com as necessidades e desafios do mercado.

Esse novo sistema de gestão leva em conta em um dos seus pilares os funcionários. Para ele, é fundamental que os empresários tenham em mente que ’’as pessoas são o ativo mais importante das empresas’’, o que traz um retorno muito positivo. No entanto, a maior parte das companhias brasileiras apenas cumpre as exigências básicas da legislação trabalhista. ’’As empresas que querem ganhar espaço no mercado já acordaram para a importância de ter funcionários qualificados, motivados e satisfeitos. Para terem futuro, as empresas precisam cuidar cada vez melhor de seus empregados’’, enfatiza.

Segundo ele, as empresas familiares são as que mais procuram o IBGC e ’’já acordaram para o valor de usar a governança. Para ele, a maior dificuldade para mudar é a cultural, ou seja, esse é o maior desafio. O IBGC foi fundado em novembro de 1995 e é a principal referência do Brasil para o desenvolvimento das melhores práticas em governança corporativa.


Andréa Bertoldi
Equipe da Folha
 

Bons resultados do sistema


O Grupo Noster, com sede em Curitiba e formado por dez empresas, adotou a governança desde 2005. O objetivo era profissionalizar a gestão dos negócios de uma empresa familiar que já está na segunda geração. As companhias mais conhecidas do grupo são a Copava Veículos, a Auto Viação Santo Antonio, a Vivello Construtora, a Vincere - de locação de imóveis corporativos - e a Pró-Alfred que tem participação em geração de energia. Hoje são 1.500 funcionários e oito irmãos com participações iguais.

Atualmente, participam da gestão a família e executivos contratados por meio da governança que são de alto nível além de serem focados em resultados. ’’Demos um salto de qualidade muito grande com a governança’’, afirma o conselheiro do Conselho de Administração do Grupo Noster, Alfredo Gulin Filho.

O novo sistema de gestão trouxe a criação dos conselhos de administração, de sócios, de família, a criação de orçamentos e objetivos anuais, o planejamento estratégico para dez anos, auditoria externa em todas as empresas do grupo, a implantação de salário por eficiência e resultados e o controle consolidado.

Foram organizados ainda dividendos com regras bem estabelecidas, além da criação de um portal na internet que permite aos sócios acessar atas e documentos importantes. Outra medida foi a análise apurada de riscos dos investimentos. Mais um ponto de destaque da governança é a preparação da terceira geração, ou seja, ’’as empresas do grupo é que vão atrás dos herdeiros’’.

O gasto para a implantação da governança foi de R$ 800 mil e já ocorreu o retorno do investimento. Com esse novo sistema houve um aumento do faturamento de 200% entre os anos de 2006 a 2010. Para este ano, a previsão é ter um crescimento de 50% no faturamento. O planejamento estratégico para dez anos exige ainda um investimento de R$ 400 mil a cada ano.

A Bematech, empresa de automação comercial para o pequeno e médio varejo, já tinha começado a implantar os conceitos da governança mesmo antes de conhecê-los, desde a fundação da companhia em 1990. No ano seguinte, foi criado o conselho de administração, mas a governança foi utilizada efetivamente na empresa a partir do final de 1999.

Wolney Betiol, que é membro do conselho de administração da Bematech, contou que os principais resultados foram a empresa ser bem vista pelos investidores, a facilidade para realizar a abertura de capital em dezembro de 2006, o acesso a recursos de maneira mais rápida e a estrutura de gestão na qual todos trabalham com transparência e com regras bem definidas.

A empresa resultou do trabalho de conclusão de mestrado de Betiol e Marcel Malczewski e, no íncio, fazia parte da Incubadora Tecnológica do Tecpar (Intec). Hoje, possui uma fábrica de equipamentos em São José dos Pinhais na Região Metropolitana de Curitiba, uma unidade industrial de software em Jundiaí (SP) e está presente em Taiwan e nos Estados Unidos. Nos quatro lugares possui centros de excelência em pesquisa e desenvolvimento. Conta com presença geográfica em seis países incluindo Brasil, China, Taiwan, EUA, Argentina e Alemanha e emprega 1.500 funcionários. (A.B.)

 

Controle da empresa exige qualificação


A ausência de conselheiros qualificados e de bons sistemas de governança têm levado as empresas a fracassos originários de abuso de poder, erros estratégicos devido à concentração de poder no executivo principal e fraudes.

O coordenador do IBGC para o Paraná e norte de Santa Catarina, Marcio Kaiser, destaca que a empresa começa a se preocupar com a governança quando tem problemas com sucessão e quando entra em crescimento acelerado que necessita de recursos financeiros.

Para ele, os maiores desafios para a implantação da governança são criar o conselho de administração, o conselho de família e o conselho de sócios e todos funcionarem harmonicamente. Além disso, é preciso que haja vontade política do proprietário da empresa em fazer a governança funcionar. ’’O dono precisa ter a convicção que não vai controlar tudo e que a companhia passará por um processo de profissionalização’’, destacou.

Outro grande desafio é saber que os integrantes da família podem participar da empresa se tiverem vocação e capacitação para isso. É fundamental ter um acordo de acionistas para definir como a família vai participar da companhia, estabelecer a distribuição de dividendos e como será a entrada e saída de sócios. (A.B.)

 

ENTENDA


Conceito de Governança Corporativa

É o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre proprietários, Conselho de Administração, diretoria e órgãos de controle. As boas práticas de governança convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade.

Pilares fundamentais da governança:

- Transparência
Mais do que informar é o desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. A adequada transparência resulta em um clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações da empresa com terceiros.

- Equidade

Tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessadas. Atitudes ou políticas discriminatórias são totalmente inaceitáveis.

- Prestação de contas

Os agentes de governança (sócios, administradores, conselheiros fiscais e auditores) devem prestar contas de sua atuação, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões

- Responsabilidade corporativa

Os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade das organizações, visando à sua longevidade, incorporando considerações de ordem social e ambiental na definição dos negócios e operações.

Fonte: Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)

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