GM estuda levar água de São José ao ABC

Publicado em
31 de Março de 2014
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Transportar água por 100 quilômetros está entre as alternativas da montadora se houver corte no abastecimento

Com a queda ininterrupta do nível de água nos reservatórios do sistema Cantareira, que abastece a Grande São Paulo, a General Motors (GM) passou a avaliar uma solução extrema para o caso de racionamento. A alternativa em estudo é transportar, por uma distância de quase 100 quilômetros, a água em reservas da fábrica de São José dos Campos, no interior paulista, para as linhas de produção de São Caetano do Sul, no ABC, onde existe o risco de corte no abastecimento.

Após encerrar, em dezembro, a produção de carros de passeio no local, o volume de água nos poços artesianos de São José supera as necessidades de consumo da fábrica. Usar caminhões-pipa para levar parte dessa reserva para São Caetano pode ser, no limite, uma solução - se houver racionamento.

A montadora diz, porém, que esse seria o último recurso no caso de desabastecimento, a ser adotado na "pior das hipóteses", já que o custo da operação também é alto. João Sidney Fernandes, diretor responsável pelas instalações da GM, afirma que os reservatórios da montadora em São Caetano são capazes de suprir um dia inteiro sem abastecimento. Mas, ainda assim, a produção será afetada caso o racionamento se prolongar por mais tempo. "Os reservatórios são capazes de virar um dia. Depois, não dá mais", afirma.

Diante do recuo dos reservatórios do Cantareira ao nível mais baixo da história, a GM reforçou as campanhas de conscientização do uso racional da água em e-mails e folhetos distribuídos a funcionários. O esforço para reduzir o consumo incluiu ainda a "caça" de vazamentos na fábrica do ABC e a redução na frequência de lavagem dos carros da frota.

O risco de escassez de água coloca em teste uma indústria que tem investido pesado para depender cada vez menos da rede pública de abastecimento. Desde as chuvas às gotas formadas pela compressão do ar em processos industriais, passando pelo tratamento de esgoto para reutilização da água, quase tudo é aproveitado numa fábrica de carros.

Os avanços nessa área, combinados a tecnologias de manufatura cada vez mais econômicas, permitiram uma redução de quase 70% no consumo de água por cada veículo produzido e praticamente eliminaram o uso de água potável em processos industriais nas grandes montadoras do país.

Mas ainda há espaço para evoluir nesse campo. Com esse objetivo, a Fiat vai investir mais R$ 4 milhões no aperfeiçoamento de seu sistema de tratamento de efluentes, construído no fim da década de 90 para reciclar a água consumida na fábrica de Betim (MG). Em 2010, a empresa já tinha desembolsado R$ 12 milhões na modernização desse sistema, o que lhe rendeu uma economia equivalente ao consumo de água em uma cidade de 30 mil habitantes. "Só não comercializamos [a água tratada] porque o nosso negócio é fazer carro, mas temos tecnologia para isso", afirma Cristiano Felix, gerente de meio ambiente da Fiat. Nas últimas duas décadas, a redução no consumo de água por carro nas linhas de Betim atingiu 68%.

Na GM, mais de R$ 200 mil foram investidos há seis anos num sistema para captar a água de chuvas no telhado do centro tecnológico de São Caetano. A solução permite armazenar até 15 mil litros para uso em descargas de sanitários. A partir do tratamento de efluentes, a GM também colocou de volta às linhas de produção cerca de 51 milhões de litros de água no ano passado. Esse volume se soma à economia gerada por outras iniciativas, como a instalação de torneiras e duchas temporizadoras. Assim, em dez anos, a economia no uso de água por carro produzido pela GM em São Caetano foi de 65%.

Montadoras como a Volkswagen também reaproveitam a água usada nos testes de vedação dos carros. O vapor d’água dos compressores de ar em uma fábrica pode parecer desprezível, mas para a Fiat o "suor das máquinas" rende 4 mil litros por hora.

Na fábrica da Volks no Paraná, até a água usada em testes periódicos de incêndio é aproveitada depois para esfriar equipamentos. "Não jogamos mais água fora", diz Celso Placeres, diretor de engenharia de manufatura da Volkswagen, acrescentando que a montadora também vai aumentar nos próximos anos a área de captação da água da chuva na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).
No porto de Paranaguá (PR), cerca de mil litros por hora são reaproveitados da lavagem dos carros exportados ou importados pela montadora alemã. Já a Ford adotou a lavagem a seco para limpar a frota de veículos de sua fábrica no ABC.

A Volks informa que reduziu em 34% o consumo de água por veículo produzido nos últimos cinco anos. A Ford, por sua vez, diz que, em igual período, obteve uma economia de 60%, para 2,5 mil litros por carro produzido nas fábricas de São Bernardo e Camaçari, na Bahia. O corte em cada uma das duas unidades seria suficiente para encher 240 piscinas olímpicas, calcula a Ford.

Com isso, a filial brasileira já conseguiu superar, antes do previsto, a meta de redução no consumo de água estabelecida pela montadora americana até 2015. Desde 2009, a multinacional trabalha para, globalmente, cortar o consumo de água em 30%.

Novas tecnologias reduzem consumo - Junto com os investimentos em sistemas de captação e tratamento da água, os avanços na tecnologia das linhas de produção vêm contribuindo para a redução do consumo desse insumo nas fábricas de veículos.

Em Taubaté, no interior paulista, a moderna linha de pintura do Up! - o subcompacto lançado no mês passado pela Volkswagen - consome 20% menos água na comparação com processos do tipo convencionais. Do total de R$ 1,2 bilhão em investimentos feitos pela montadora para a produção do carro, o setor de pintura respondeu por R$ 427,8 milhões. A Volks, segunda marca mais vendida no mercado brasileiro, informa que a linha de pintura do Up! também permite uma economia de 30% no consumo de energia.

O projeto se insere na meta estabelecida em 2010 pela montadora alemã de reduzir em 25% o consumo global de água e energia por veículo produzido. A pintura é o processo que demanda a maior quantidade de água entre as etapas de produção de um carro.

Há uma semana, a Volks anunciou que um dos focos de seu novo plano de investimento - que prevê R$ 10 bilhões no Brasil até 2018 - está justamente na produção "ainda mais sustentável" das fábricas brasileiras.

"Nenhum de nossos projetos financeiros é aprovado se não for acompanhado por um parecer sobre o impacto ambiental" afirma Celso Placeres, diretor de engenharia de manufatura da montadora. Segundo ele, além de se tornar a maior fabricante global de veículos, o objetivo da Volks é também ser a montadora mais sustentável até 2018.

Também em Taubaté, a fábrica de motores da Ford adota a chamada usinagem a seco. A tecnologia usa quantidade mínima de fluido refrigerante e água na lubrificação de ferramentas. De acordo com a montadora de origem americana, o processo economiza "centenas de litros" de água e óleo por ano, eliminando também a necessidade de tratamento e descarte de fluidos.

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