Empresa é especializada em comprar com deságio processos de pequeno e médio portes que estejam em andamento, dando liquidez às partes
A Pro Solutti Capital, gestora de ativos judiciais, acaba de fechar a parceria com um fundo de direitos creditórios (nome não foi revelado) e está com mais R$ 100 milhões disponíveis para compra de processos trabalhistas no Brasil.
“Enxergamos este mercado como um grande filão de negócios, com mais de R$ 620 bilhões em processos. A Pro Solutti tem investido bastante em tecnologia para automatizar processos de análise e aquisição de casos e nossa atual fase é de contratação de pessoas para alocar mais de R$ 100 milhões em novos casos”, comenta com exclusividade ao Valor Investe Rodrigo Valverde, sócio-fundador da Pro Solutti Capital.
Segundo o executivo, já foram alocados mais de R$ 50 milhões em ativos judiciais e a carteira atual de casos supera os R$ 120 milhões. A taxa de retorno da carteira hoje está em torno de 40%, cerca de 25% ao ano ao investidor. “Existe problema de falta de liquidez no mercado e, com a taxa Selic baixa, de 3% a 4 % ao ano, conseguimos entregar retorno bem maior para o investidor”, diz Valverde.
O foco é compra de processos trabalhistas, de pequeno e médio valores. Até agora já foram mais de 2 mil aquisições de processos do tipo. Mas a empresa também comprou já alguns casos no âmbito do direito do consumidor e na área cível.
A operação é simples: a startup adquire o direito do autor do processo de continuar com ele até o fim e receber o valor da causa se for bem-sucedido. Para isso, paga para a parte um valor combinado menor do que o total da causa (com deságio), uma espécie de pedágio por estar dando a liquidez muitas vezes com anos de antecedência ao beneficiário. Se o processo for malsucedido, a Pro Solutti arca com prejuízo.
Com emprego de tecnologia tanto para analisar os casos na hora de escolher a qual fazer ofertas, com cálculo do percentual de probabilidade de sucesso, a startup também ganha eficiência em operações mais burocráticas típicas da advocacia. O foco em uma área só, pelo menos por ora, a trabalhista, também ajuda a automatizar procedimentos.
A escolha da área trabalhista não é por acaso: é nela que há chances boas de ganhos por parte dos autores, trabalhadores que processam empresas, além de ser uma das maiores em judicialização no país.
“Queremos dar liquidez a um ativo líquido, algo importante principalmente agora, na crise em que vivemos decorrente da pandemia. Vemos pessoas que não têm dinheiro, mas têm processos a responder. Se pudéssemos comprar os R$ 620 bilhões de processos hoje no Brasil, seria destravado um montante quase equivalente ao projeto Renda Cidadã, que seria injetado a economia”, comenta Valverde.
Além do aporte de R$ 100 milhões do fundo em direitos creditórios parceiro, que será direcionado especialmente à compra de ativos judiciais, a Pro Solutti se prepara para uma rodada de capitação. As conversas com fundos de investimentos já começaram e a captação deve ser concluída no segundo semestre.
“Vamos investir mais em tecnologia e comunicação, esses são os gatilhos para crescimento rápido da empresa”, diz.
Segundo o sócio, o objetivo agora é expandir a gama de parceiros comerciais. O contato hoje é feito com escritórios de advocacia que querem terceirizar ou vender a carteira de processos. Outra área promissora e que há demanda é a de soluções para evitar judicialização, como a mediação de conflitos e conciliação.
“A Pro Solutti começou recentemente um programa de afiliados, para trazer parceiros e fazer convênios com escritórios de advocacia e pessoas fora do mundo jurídico para ter crescimento orgânico e inorgânico. A gente entende que o mercado é grande e a demanda também. Queremos estar prontos os próximos passos”, finaliza, ao citar que está de olho em aquisições.