Geraldo Alckmin admite negociar tarifa de pedágios

Publicado em
02 de Agosto de 2010
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Líder disparado em todas as pesquisas para governador de São Paulo, com chances reais de vencer já no primeiro turno, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, admite pela primeira vez, em entrevista exclusiva ao Diário de São Paulo e a rede Bom Dia, rediscutir com as concessionárias que administram as rodovias paulistas os preços dos pedágios.

Apesar de ser alvo constante de críticas dos adversários por conta das privatizações das estradas promovidas na sua passagem pelo Palácio dos Bandeirantes - entre 2001 e 2006 -, Alckmin salienta a necessidade de respeitar os contratos, mas dá a mão à palmatória: "Vamos analisar contrato por contrato. Se você tiver margem, vamos trabalhar para reduzir", diz, revelando ter a intenção de pôr fim às concessões.

As promessas são intercaladas com propaganda das gestões tucanas nos últimos 16 anos e ressalvas de que é possível fazer mais, mantendo a linha gerencial.

Nessa linha, o candidato argumenta não ser mais possível jogar nas costas do Estado toda a responsabilidade. Por isso, ele sinaliza para parcerias com a iniciativa privada, cabendo ao governo  "somente" regularizar e fiscalizar o serviço.

O ex-governador revela ainda a criação de uma secretaria específica para cuidar das regiões metropolitanas do Estado, uma espécie de prefeitura desses grandes centros.

Derrotado na eleição presidencial de 2006 e municipal de 2008, quando comprou briga com o PSDB para sair candidato, Alckmin evita o confronto e diz que vai ajudar o presidenciável do seu partido, José Serra, como pode,
apesar das constantes acusações dos próprios tucanos de um possível corpo mole.

Sobre a polêmica aliança com o PMDB de Orestes Quércia em São Paulo, Alckmin culpa o sistema político-partidário brasileiro, mas defende o candidato a senador da chapa. "As alianças são necessárias não só para ganhar a eleição, mas também para governar", minimiza.

Alckmin é o último candidato a governador sabatinado pela Rede Bom Dia de jornais. Participaram os jornalistas Francisco Itacarambi e João Carlos Moreira, do Diário, e Fernando Zanelato, do Bom Dia.

Hegemonia tucana

Tivemos bons governos sucedidos por bons candidatos. Governo não se herda, governo se conquista. O PSDB ganhou a confiança de grande parte da população do Estado pela seriedade do trabalho, pela honestidade, pela eficiência. Há muito coisa para ser feita, mas está avançando.

Eleições de 2006 e 2008
Em 2006 nós ganhamos em São Paulo nos dois turnos e eu ainda levei a eleição para o segundo turno e ganhei em 11 estados. Aprendi muito. Em 2008, eu sentia nas ruas que as pessoas me vinham mais como governador do que como prefeito. Eleição se ganha e eleição se perde. O importante quando ganha é ter humildade e altivez quando perde. Eu ganhei oito eleições e perdi quatro. Tenho crédito.

Fogo amigo
Eu disputei uma convenção (em 2008, quando o comando do PSDB preferia apoiar o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM)) e obtive 92% dos votos. O PSDB queria que eu fosse candidato.  Eu sou fundador do PSDB,
ajudei a criar o PSDB em 1988. Bola pra frente. Política a gente faz com os olhos no futuro, se faz com esperança.

Vencer no primeiro turno
Nós vamos fazer a campanha com humildade. Não tem eleição ganha. A eleição é em dois turnos. Pretendo fazer uma campanha respeitosa, levando as informações e propostas.

Apoio do Quércia
O Brasil tem um quadro pluripartidário. As alianças são necessárias não só para ganhar a eleição, mas também para governar. O PMDB é um dos maiores partidos do Brasil. O Quércia tem nos ajudado muito.

Novas secretarias

A única secretaria que eu pretendo criar é a de Desenvolvimento e Gestão Metropolitana. Só a região metropolitana de São Paulo são 22 milhões de pessoas, fora as regiões de Campinas, Baixada Santista, Sorocaba, São José dos Campos. Ela vai trabalhar saneamento básico, coleta e tratamento de esgoto, transporte, política habitacional, meio ambiente, educação, segurança. [Uma secretaria] para ter uma visão metropolitana.

Transporte público
A nossa proposta é investir muito em transporte metropolitano de alta capacidade: metrô, que nós temos simultaneamente três obras, monotrilho, que já está em licitação, VLT (veículo leve sobre trilhos) entre o Jabaquara-aeroporto de Congonhas-Estádio do Morumbi e a CPTM (Companhia de Trens Metropolitanos) com trens modernos, segurança e melhorias na rede ferroviária.

Governo federal ausente
O governo federal investe no metrô de Porto Alegre, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, Salvador, até de Caracas, na Venezuela, mas não tem um centavo aqui em São Paulo. O que tem é financiamento que você paga juros e correção monetária.

Trem-bala
Eu acho ótimo. O que o Estado puder fazer para ajudar, vai fazer.

Ramais
É perfeitamente viável, primeiro, o Expresso Aeroporto entre São Paulo e Guarulhos, que pode ser feito por concessão ou PPP (Parceria Público-Privada).  O trem para Jundiaí dá para melhorar muito, assim como
para Itapevi, ABC, Santo André e Mogi. O que pode ter de novidade são novas estações e poderia fazer [trem rápido] para Sorocaba.

Obras
A nossa meta, a prioridade, é terminar o Rodoanel. Fazer a asa leste e acelerar a norte, a duplicação da Tamoios e fortalecer os demais modais (ferroviário e aeroviário).

Dutovia
Nós vamos fazer uma rede paulista de dutos, inteirinho privado. O governo só faz articulação, tira imposto, acelera a aprovação ambiental, permite a passagem nas rodovias, mas tudo será feito pela iniciativa privada.

Aeroportos no Interior
A gente pretende dar um grande pulso nos 31 aeroportos do Interior. O de Bauru, por exemplo, pode ser um grande aeroporto internacional de cargas. Vamos acelerar ao máximo as licitações dos terminais alfandegários. Ribeirão Preto, Rio Preto são aeroportos muito movimentados e é preciso incrementar. Podemos fazer isso com recursos do Estado ou através de concessão, mas aí depende do governo federal.

Novo terminal na Capital
A grande preocupação é Cumbica e Viracopos (Campinas). Congonhas não tem como crescer mais, ao contrário, vai cada vez restringir mais. Tem que fazer um terceiro terminal em Cumbica e uma segunda pista em Viracopos.

Pedágios

Vamos analisar caso a caso. Você tem caso realmente que tem uma localização de uma praça de pedágio que a pessoa anda um trechinho pequeno e acaba pagando uma tarifa cheia. Eu já detectei três casos: Jaguariúna, Indaiatuba e Paulínia. Nós estamos levantando outros casos que podemos resolver mudando a praça, dividindo a praça, dando um desconto para a população da região.  Vamos analisar contrato por contrato. Se você tiver margem, vamos trabalhar para reduzir, para buscar outras alternativas, mas é importante respeito aos contratos.

Novas concessões
A única concessão que eu tenho definida é o Rodoanel. A Raposo Tavares (que ele promete duplicar) vamos fazer com dinheiro do Estado. E no novo modelo nós não vamos querer um centavo de pagamento, sem ônus. Faz a obra [quem oferece a] menor tarifa.

Novo modelo de Estado
O governo no passado era o provedor de tudo. Ele não tem dinheiro mais para fazer tudo. Antes ele era o executor de tudo, mas ele não deve e não precisa mais fazer isso. No estado moderno ele é regulador e fiscalizador:
ele regula, fiscaliza, cobra, mas não é mais o provedor de tudo.

Progressão continuada

A progressão continuada não é aprovação automática. Nós vamos fazer avaliações permanentes dos alunos e dar o reforço escolar que ele precisa.

Nós já temos nos primeiros anos dois professores por sala para dar reforço. Eu pretendo aumentar esse reforço escolar e colocar o aluno tempo integral na escola. No segundo período ele vai ter reforço, informática, segunda língua, atividade esportiva e cultural.

Ensino técnico
Vamos oferecer junto com o ensino médio também o técnico porque daí o aluno se estimula mais. Nas escolas estaduais, à noite, que tem salas de aula vazias, ociosa, você tem esse curso técnico.
 
Centros de formação profissional

Nós vamos fazer o técnico básico, que não precisa ter o vestibular, não precisa demorar um ano e meio [para acabar], não precisa ter o ensino médio completo. Você levanta região por região do Estado a demanda do setor produtivo - carpinteiro, eletricista, soldador, operador de máquina -e faz cursos de 100 horas, 150 horas nesses centros de formação profissional. É a via rápida para o emprego.

Funcionalismo público
Vou prestigiar o serviço público, o concurso, a carreira, o salário, valorizar os funcionários. Os governos modernos fazem, além disso, o estímulo baseado no mérito. Uma coisa não implica em acabar com a outra.

Guerra fiscal
Nós vamos ter especialmente nessas regiões (de divisa com outros Estados) um trabalho especial. O governo do Estado criou uma agência para atrair investimentos e outra para fomento, para produção, para pequenas e médias empresas. A guerra fiscal não beneficia o consumidor, você não reduz 1% para beneficiar o consumidor. Você devolve o dinheiro para o dono da empresa e faz renúncia fiscal para quem não precisa.

Carga tributária

Eu sou favorável a reduzir a carga tributária tanto é que no meu governo nós reduzimos todos os impostos. Se você pegar trigo, farinha de trigo, pão, macarrão baixamos tudo para zero. Reduzi o ICMS do álcool de 25% para 12%, o mais barato do Brasil. Nós reduzimos o imposto da indústria de sapato, tecelagem.

Parques tecnológicos
Nossa proposta é criar uma rede de 20 parques tecnológicos e nesses parques você reúne a universidade, os institutos de pesquisa e o setor produtivo. Hoje as grandes empresas investem fortunas em pesquisa e
desenvolvimento. Nós vamos avançar e atrair investimentos não só de produção, mas de grandes centros de pesquisa.

Presídios
Querer segurança pública e ser contra presídio é demagogia à potência máxima. Se a gente escolher um local adequado, mais retirado, explicar que é para os presos da própria região, é perfeitamente possível resolver [a falta de vagas]. O que tem às vezes é exploração política, alguém tentando tirar uma casquinha.

Cadeia zero

Hoje nós temos 8 mil presos em cadeias. Nós vamos zerar, nenhum preso em cadeia.

Contrapartida
Eu sou defensor da contrapartida. Podemos ajudar com uma estrada vicinal, saúde. Acho que você fortalece a infraestrutura do município, colabora.

Organizações criminosas
Nós isolamos [os líderes do crime organizado] construindo as penitenciárias de segurança máxima. Isso quebra a cadeia de dinheiro. Aquelas rebeliões que aconteceram (em 2006, quando o PCC impôs um toque de recolher no Estado) nós reduzimos. Você tem que enfrentar. Temos que motivar a polícia, completar o sistema de rádio e digitalização, dar treinamento, [melhores] salários, parcerias para, por exemplo, iluminar as cidades, aumentar o videomonitoramento.

Segurança pública

Nós tínhamos 12,8 mil homicídios por ano em 1999. Aí fomos reduzindo e ano passado foi 4,4 mil. Deixaram de morrer 42 mil pessoas nesse período. São Paulo era o quarto do Brasil em número de homicídios por 100 mil
habitantes. Hoje é o vigésimo quinto.

Polícia na rua
Nós precisamos aumentar a presença policial, polícia na rua. Nós vamos contratar 6 mil policiais, vai reforçar muito o Interior. Além disso, nós vamos tirar os policiais que fazem escolta de preso porque vamos criar o
agente de escolta. Polícia militar vai para a rua para proteger a população.

"Bico oficial" do PM
[Sou] totalmente favorável. Hoje o policial militar trabalha 12 horas e descansa 36 horas. Nós pretendemos expandir para o Estado inteiro o projeto atividade delegada (que emprega policiais de folga no combate ao crime através de convênio com as prefeituras). Ninguém é obrigado a fazer, mas quem quiser vai trabalhar fardado, armado, recebendo. Você vai ter muito mais policiais na rua. A prefeitura paga. Se ela não puder, nós vamos contratar [o policial de folga].

Drogas
Sou favorável a combater o tráfico e tratar os doentes. Dependência química é uma doença. Nós vamos investir muito na questão da saúde mental. O governo oferecendo vagas para tratar as pessoas e fazendo convênio com entidades para poder fazer esse trabalho.

Organizações Sociais de Saúde

Acho que podemos ter o modelo clássico dos hospitais do Estado, com funcionários do Estado, e o outro modelo que é o contrato de gestão com uma organização social sem fim lucrativo e que também funciona muito bem, com SUS (Sistema Único de Saúde). Se o Estado é capaz de executar, é muito mais fácil regular e fiscalizar. O segredo sempre é a regulação e a fiscalização em cima desse modelo de contrato de gestão.

Licitação das linhas intermunicipais
Claro que pretendo fazer. Vamos avançar ao máximo no sentido de ter concorrência e de ter boas empresas servindo a população.

Campanha presidencial
Será uma eleição disputada, mas eu acredito na vitória do Serra. O Serra está muito preparado e amadurecido do ponto de vista político. Eu vou ajudar no que puder aqui em São Paulo.

Copa em São Paulo
Para abertura da Copa nós precisamos de um estádio de 65 mil pessoas que hoje não tem. Temos duas hipóteses: o Morumbi ou um estádio novo.  Acho que adequar o Morumbi não é fácil. O que eu sou contra é colocar dinheiro público em estádio. O governo deve gastar com metrô, trem, hospital. Estádio é uma coisa privada

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