O crescimento da frota de caminhões no país deve limitar o aumento sazonal dos fretes de adubos entre os principais portos e o interior no segundo semestre, de acordo com participantes de mercado ouvidos pela Argus.
Grupos agrícolas de grande porte e transportadoras têm investido na aquisição de sua própria frota de caminhões desde a publicação da Política Nacional de Pisos Mínimos do Transprote Rodoviário de Cargas, em maio de 2018, após a greve dos caminhoneiros, reduzindo a procura pela terceirização do serviço e elevando o volume de autônomos ociosos nos portos.
No primeiro semestre, o licenciamento total de caminhões no Brasil teve alta de 46,1% na comparação com igual período do ano passado, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Para os principais tipos de veículos usados no transporte de adubos, a Associação Nacional de Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir) estima que o emplacamento de caminhões graneleiros registrou alta anual de 75,6% na mesma base de comparação, enquanto o de caçambas basculantes subiu 89,8%.
"No início deste ano, embarcadores receberam caminhões e implementos adquiridos no final do ano passado em razão do aumento nos fretes rodoviários após a greve dos caminhoneiros", disse Markenson Marques, diretor da Federação das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas do Paraná (Fetranspar). "Entretanto, boa parte deles já entendeu que operar com frota própria tem custo maior do que terceirizar o serviço, desacelerando os volumes de compra de novos caminhões", completou.
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Ferrovias ganham espaço
Compradores de frete também têm buscado alternativas ao modal rodoviário para o transporte de cargas. As ferrovias têm ganhado cada vez mais espaço no mercado, uma vez que a demanada pelo serviço tem levado a novos investimentos no modal.
O volume total de adubos transportados pela operadora ferroviária Rumo em suas operações Norte e Sul no primeiro trimestre deste ano mais do que triplicou ante igual período em 2018, atingindo 600 milhões de TKU (toneladas por quilômetro útil).
A operação Norte, que liga o porto de Santos (SP) a Rondonópolis (MT), foi inaugurada em abril de 2018 e possui capacidade para transportar 7,5 milhões de t/ano de grãos e adubos. Já a operação Sul liga os portos de Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS) à mesma cidade mato-grossense.
"Nossa projeção é que, em 2019, ao redor de 50% do consumo de fertilizantes importados para o MT seja proveniente da ferrovia", disse José Eduardo Grandi Cavalcanti, executivo de vendas da Rumo.
A empresa estima que movimentará 2 milhões de t de adubos em 2019 em todos os seus ramais de operação, a maior parte para Rondonópolis. O volume representa cerca de 23 mil vagões e seriam necessários quase 50 mil caminhões para levar este montante até o município mato-grossense.
Demanda em foco
Historicamente, os fretes assumem trajetória de alta a partir de maio, com o pico de distribuição de fertilizantes para uso nas lavouras de verão.
Pelo lado da demanda, misturadores esperam que a busca por adubos no Brasil fique próxima ou ligeiramente superior à observada no ano passado, quando foram entregues 35,5 milhões de t, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Quanto maior a demanda por adubos, maior tende a ser a procura por fretes.
As entregas de adubos neste ano ocorrem em ritmo próximo às médias históricas na maioria dos estados da região Centro-Oeste, dizem misturadoras. Já no ano passado, as entregas foram dificultadas em virtude das incertezas jurídicas sobre o piso dos fretes, fazendo com que compradores pagassem um prêmio devido à urgência requerida na terceirização do serviço.
Os preços médios de fretes para o trajeto Paranaguá-Rondonópolis apurados semanalmente pela Argus em julho até o momento atingem R$165/t, queda anual de 13,2%. Em junho, o valor médio praticado no trajeto foi de R$154/t, recuo de 16,8%. Já ao longo do primeiro semestre, os preços negociados pelo serviço ficaram apenas R$0,01/t acima do apurado em igual período em 2018.
Apesar disso, a Fetranspar projeta que os fretes de adubos devem ter reajuste anual de 12-15% no segundo semestre, acompanhando o aumento sazonal na procura pelo serviço.