Frete vai tirar R$ 2,4 bi

Publicado em
12 de Agosto de 2013
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Cifras representam a diferença entre escoar a produção de soja de MT pelo Norte ou pelo Sul do país em 13/14

Macrologística apresentou parcialmente estudo para o Centro-Oeste
MARIANNA PERES
Da Editoria

O transporte da soja mato-grossense poderia ser pelo menos R$ 100 mais barato a tonelada do que custa atualmente. A diferença entre a economia ou o maior desembolso está no trajeto que os caminhões e carretas fazem para escoar a produção rumo aos portos brasileiros. Saindo em direção ao sul do Estado, rumo aos portos de Paranaguá (PR) ou Santos (SP), a tonelada fica em R$ 333. Pelo norte em direção ao Pará, R$ 238. A conta final do ano-safra pode indicar um desembolso extra de cerca de R$ 2,4 bilhões, considerando a projeção de 25,28 milhões de toneladas feita pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Conforme o Imea, para efeito de comparação, caso toda a safra mato-grossense fosse escoada por Santarém (PA), o custo total de frete seria de cerca de R$ 6 bilhões ante R$ 8,4 bilhões via Santos e Paranaguá, por meio da interação modal entre rodovia e ferrovia, o que geraria uma economia em favor dos produtores de R$ 2,4 bilhões. Esses e outros dados fazem parte do estudo inédito elaborado pelo Projeto Centro-Oeste Competitivo, apresentado ontem na Bienal dos Negócios da Agricultura Brasil Central, realizada em Cuiabá (MT).

O exemplo considera as duas rotas de escoamento utilizadas pelo Estado – com os mesmos pontos de partida e chegada - Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao norte de Cuiabá) e Shangai, na China. No caminho duas opções: os tradicionais portos de Santos e Paranaguá ou as vias de Miritituba e Santarém (PA), pela rota da BR-163, ainda não pavimentada no estado vizinho.

Segundo o sócio da empresa Macrologística e responsável pelo levantamento, Olivier Girard, o tema é de fundamental importância quando se leva em conta a necessidade de mudanças profundas para evitar maiores prejuízos ao escoamento da safra e, consequentemente, ao crescimento do agronegócio no país. “Infelizmente, nada em relação à infraestrutura acontece da noite para dia. Estamos há alguns anos avaliando e estudando a logística nacional e nada mudou e mais uma supersafra vem por ai”.

O raio-X logístico completo inclui a análise de outras opções de rotas de escoamento, tendo como destinos finais Shangai e Roterdã, na Holanda. O projeto que terá seus resultados finais apresentados no mês que vem foi custeado por entidades da indústria e agricultura dos estados da região Centro-Oeste. O levantamento específico para a região é uma espécie de desdobramento de um estudo inicial, o Norte Competitivo, que buscou rotas, acessos e demandas por investimentos para o segmento industrial dos estados que formam a Amazônia Legal, cujo resultado foi divulgado há cerca de dois anos.

Para o diretor executivo da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Seneri Paludo, depois dos custos diretos empregados nas lavouras, que para próxima safra estão pelo menos 16% mais caros, o segundo item de preocupação chama-se frete. “O grande complicador e que pode atrapalhar ainda mais a rotina da próxima safra e comer margens é o frete. Tivemos na safra 2012/13 picos de R$ 300 t de soja. Como a entressafra na prática não existe mais em Mato Grosso, estamos no que seria a entressafra em R$ 240 t. No mesmo período do ano passado era R$ 200. São 20% a mais. O normal era o pico acontecer na soja e se manter estável e em queda no decorrer do ano. O que está acontecendo é que neste ano já tivemos um pico e a tendência é de um novo repique, o que induz a um início de safra no ano que vem com preços elevados e que pode levar à ruptura da barreira dos R$ 300 t, ou seja, o que foi teto pode abrir o ano como um piso e isso garantiria novas altas”.

Como completa, nos últimos quatros anos, por exemplo, o frete por tonelada em julho, no Estado estava a R$ 181 em 2010, passou a R$ 193 em 2011, R$ 201 em 2012 e neste ano foi a R$ 240, a maior majoração no período. “O ponto de partida do frete na safra ano passado foi de R$ 240. Pode ser que ano que vem com nova safra grande no país, custos de diesel subindo, pode ser que os R$ 300 por tonelada sejam pouco o que seriam mais uma pressão sobre os preços”, exclama.

Se tem um item no custo de produção que fere, e fere muito quem produz e quem consome, é o frete, completa o diretor. “Quem produz recebe menos e quem consome paga mais. Os gastos a mais com frete são um dinheiro que é queimado literalmente no meio do caminho, não fica pra ninguém”.

Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, os investimentos feitos em logística de transporte ainda são tímidos, resultando na ineficiência da competitividade de agricultores e provocando um efeito cascata na cadeia produtiva.

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