Os valores do frete rodoviário de carga no Brasil estão 13,6% desfasados. Além disso, as transportadoras oferecem descontos de, em média, 4,7% nos transportes contratados. A informação é da NTC&Logística, que realiza um estudo regular para mapear a atividade no País. O levantamento é feito pelo Departamento de Custos Operacionais (Decope) e conta com a participação de 7.236 transportadoras.
O índice recém-apurado é um pouco menor que os 13,9% registrados no início do ano. A praxe do mercado é que as transportadoras corrijam os valores de frete anualmente, entre março e junho. Neste ano, com a covid-19 e a retração do setor, as empresas não estão conseguindo repassar a alta. Isso compromete a saúde financeira das transportadoras.
O levantamento feito pela NTC revela que 52,2% das transportadoras pesquisadas estão concedendo descontos médios de 10,2% nos fretes. Das empresas participantes do levantamento, 11% reajustaram os preços após o início da pandemia. A alta foi de, em média, 7,8%. Do total de companhias consultadas, 36,7% não fizeram reajustes nem deram descontos.
Durante a decretação da pandemia, o setor amargou grande prejuízo. No período entre os dias 16 e 23 de março, a queda na demanda por transportes no Brasil foi de, em média. 26%. Em abril, o recuo se consolidou. Apenas cinco semanas após a OMS reconhecer que havia uma pandemia, a retração chegou a 45,2%.
Entre o fim de maio e o início de junho, começaram a surgir sinais de recuperação. No levantamento mais recente da NTC, que avalia o setor entre os dias 22 e 26 de junho, a retração foi de 22,9%. Os números ainda são negativos, mas mostram que a tendência de recuperação continua firme.
Empresas absorvem alta do custo do frete
O estudo da NTC apontou que o Índice Nacional do Custo de Transporte de Carga Fracionada teve alta de 1,64%. Essa elevação ocorreu entre janeiro e julho de 2020. O mesmo índice, mas para carga lotação, recuou 0,59% em igual período. O resultado do setor de carga fracionado se deve à alta na demanda das indústrias farmacêutica e alimentícia.
A informação é do assessor técnico da NTC e responsável pelo estudo, Lauro Valdivia. De acordo com ele, o aumento dos negócios feitos de forma online também contribuíram com a alta. Como muita gente está trabalhado de casa, houve alta no volume de transporte B to C (da empresa para o consumidor).
“Muitas empresas apostam que os pacotes de liberação de auxílio feitos pelo governo devem se estender. E isso vai colaborar para o aumento do consumo”, afirma Valdivia. De acordo com ele, isso vai refletir positivamente nessa modalidade de transporte.
A carga lotação, por sua vez, foi impactada pela queda na atividade dos setores industriais. “A indústria automotiva e a da linha branca derrubaram esse tipo de transporte durante o período mais crítico da quarentena”, diz Valdivia. Segundo ele, o impacto só não foi pior por causa do agronegócio. O campo continua batendo recordes, sobretudo na produção de grãos.
Atraso nos pagamentos cresce mais de 23%
Outro dado preocupante diz respeito aos atrasos nos pagamentos. Segundo o levantamento da NTC, 73,3% das empresas de transporte não estão recebendo no prazo certo os valores cobrados pelos serviços prestados. Vlaldivia lembra que a inadimplência no setor costuma ser alta – em torno de 50%. Mas houve uma alta considerável nos atrasos.
“Outro dado importante é que as transportadoras ampliaram os prazos para pagamento. A média, que antes da pandemia era de 25 dias, passou para 38 dias.” Segundo o especialista, isso impacta diretamente no caixa das empresas. “A queda foi de, em média, 13%”, afirma Valdivia.
Muitos clientes também não remuneram o transportador por serviços complementares. Um dos casos mais comuns é a cobrança da Taxa de Restrição de Trânsito (TRT). Esse adicional costuma ser cobrado por cidades em que há restrição de circulação de caminhões.
Também não são adequadamente remunerados os serviços de paletização e permanência de mercadorias. Há ainda o custo com escoltas, entre outros. A consequência é que 46,7% das transportadoras têm dificuldade de honrar seus compromissos. Muitas priorizam o pagamento de funcionários e do financiamento dos veículos. Com isso, deixam de
quitar alguns tributos, por exemplo.
Essa prática cria bombas-relógio. “Os custos adicionais acabam sendo superiores ao próprio valor do frete. E muitos transportadores não conseguiram aplicar reajustes. A consequência é que isso comprometeu o caixa das empresas. Por isso, acreditamos que uma recuperação saudável do setor deverá ocorrer somente em 2022”, avalia Valdivia.
Melhor inflação do setor
Mas há boas notícias. Em julho, houve queda na variação da inflação nas operações de transporte de carga. No caso das fracionadas, a média foi de 3,50%. Para as operações de carga lotação e fechadas a variação foi de 2,57%. O resultado é bem melhor que o apurado no mesmo mês de 2019.
Em julho do ano passado, a variação da inflação nas operações de transporte de carga fracionada foi de 6,14%. No caso da carga lotação, a alta média foi de 9,36%, de acordo com a NTC. O preço médio do diesel recuou 13,06%. Esse número corresponde à comparação de julho de 2020 com julho de 2019.