Frete ampliará custo do sojicultor em 15%

Publicado em
27 de Outubro de 2018
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Contratos novos de venda da soja para entrega no ano que vem já levam em conta o tabelamento do transporte e devem pressionar as margens do produtor no Brasil

O aumento dos gastos com frete para transporte de grãos e de insumos deve ampliar em 15% os custos para os produtores de soja no próximo ano, estimam especialistas.

“O peso [do tabelamento] do frete será do produtor no ano que vem”, avalia o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Bartolomeu Braz Pereira. “Isso deve ampliar em 15% os custos ao agricultor”, estima o dirigente.

Segundo ele, sojicultores estão buscando alternativas para amenizar o recuo nas margens, como investimento em frota própria, por exemplo. “O produtor plantou essa safra no escuro e ainda não sabe o quanto vai receber.”

A incerteza em relação ao tabelamento adiou o movimento de venda antecipada da safra 2018/2019 que, segundo Pereira, ainda está parado ante ao habitual.

De acordo com o presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, na safra 2017/2018, o impacto da greve e do tabelamento recaiu sobre as tradings, que já tinham comprado o grão.

“Para a próxima, quem está negociando agora vai comprar no mercado spot e terá que observar a tabela. Isso pode afetar a margem do produtor”, afirma.

Para ele, a situação é negativa, pois o produtor já enfrenta uma pressão de custos, que subiram tanto pelo reajuste no transporte quanto pelo câmbio, que encareceu os insumos para a lavoura.

Nassar pondera que, ao mesmo tempo, o preço em dólar da soja em Chicago está baixo – em torno de US$ 8,50 o bushel –, devido à disputa comercial entre Estados Unidos e China. Essa queda tem sido compensada pelo prêmio pago nos portos. No entanto, o produtor não sabe se o valor continuará elevado.

“Essa incerteza enorme nos preocupa, porque a gente sabe que se a margem do produtor fica muito apertada, ele planta menos, o que é a pior coisa para uma trading”, diz Nassar.

Ele participou ontem, em São Paulo, de um evento sobre tabelamento de preços e o impacto nos negócios promovido pelo Centro de Estudos de Direito Econômico e Social (CEDES). Na ocasião, comentou que essa indefinição já se refletiu na temporada atual. “É uma boa safra, mas com certeza absoluta se não tivesse essa questão de frete, o produtor teria partido com mais apetite para a produção, considerando a guerra comercial.” A projeção mais recente da Abiove é de produção de 119,5 milhões de toneladas em 2018/2019.

Ambiental
A Abiove divulgou ontem uma declaração para reiterar a manutenção da Moratória da Soja. O acordo, de 2008, prevê que as empresas não adquiram soja de áreas desmatadas da Amazônia após a data.

“O fortalecimento da governança ambiental é fundamental para quem está exportando”, disse Nassar. “O novo governo tomará as decisões que quiser, mas deve tentar entender o lado de quem faz a interface com o exportador”, observou. O Brasil deve embarcar 77 milhões de toneladas neste ano e 71,9 milhões em 2019, projeta a associação.

O posicionamento ocorre uma semana depois que a Aprosoja levou reivindicações relativas ao meio ambiente ao candidato à presidência, Jair Bolsonaro, do PSL.

No documento, a entidade pede a liberação do licenciamento para propriedades com atividade de baixo impacto ambiental; licença digital, automática e online, para as demais propriedades e a “não aceitação de moratórias e exigências para a nossa produção que exceda a legislação ambiental nacional, impostas de forma recorrente por ONGs.” “O que a associação quer é desburocratizar os processos, mas cumprindo a lei”, salientou Pereira.

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