Faltam caminhões na Bahia para transporte

Publicado em
03 de Abril de 2013
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Preço do frete de grãos sobe até 30% e alerta para problemas de logística no Nordeste

Como se não bastassem a seca e o ataque de lagartas que castigam as plantações, a safra de grãos da Bahia é afetada também pela fila de caminhões parados a 1.600 quilômetros de distância, nas estradas do litoral paulista que levam ao porto de Santos. O congestionamento, que ocupou até 22 km da Rodovia Cônego Domênico Rangoni, na Baixada Santista, atrasa a descarga de veículos graneleiros e, com isso, trava a negociação de commodities como o milho e a soja pelo Brasil. Segundo o governo da Bahia, a falta de transporte para grãos afeta diretamente a criação de rebanhos do estado. Em períodos de seca, vem à tona o problema da falta de armazéns, que multiplica viagens, feitas essencialmente de caminhão. O milho produzido no Nordeste é estocado no Centro-Oeste e, quando necessário, volta à região para servir de alimento para animais. “A safrinha (plantio feito na entressafra, entre janeiro e meados de março) do Centro-Oeste virou safrona e o milho não chega ao Nordeste pela falta dessas carretas que estão a caminho de Santos. Mesmo o caminhoneiro esperando muito tempo no porto, é mais lucrativo do que vir para o Nordeste”, diz Eduardo Salles, secretário de Agricultura da Bahia (SEAGRI).

“O dinheiro está na conta das transportadoras, mas há dois meses não conseguimos trazer seis mil toneladas de milho”, completa. Júlio Busato, produtor de algodão, milho e soja que preside a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), afirma que o custo do frete aumentou 30%, passando de R$ 20 para até R$ 26 e que a Cargill teve custos 40% maiores para levar a produção até os navios. “É a primeira vez que isso acontece. A nova lei para motoristas de caminhão também contribuiu”, diz o líder da associação que representa 1.300 produtores do oeste do estado, com 2,25 milhões de hectares plantados (o equivalente a 22.500 km², área pouco maior que o Estado de Sergipe). “O produtor vai perder porque não tem como acrescentar o novo preço do frete.

O mercado é que dita a cotação (das commodities) e o que sobra representa mais um aumento de custo”, diz Busato. A entidade previa faturamento de R$ 7,99 bilhões com a safra 2012-2013, mas a seca e os problemas de logística levaram a uma redução de planos para R$ 6,25 bilhões. “Esses números representam um dinheiro que vai deixar de circular na indústria e no comércio da região. Para o agricultor, a produtividade atual atende o custo de produção”, diz. “Foi um ano difícil, com diminuição da safra por causa da seca. Ainda assim, tivemos problemas com falta de caminhões”, explica Busato. O economista e integrante do conselho técnico da AIBA, Raimundo Santos, diz que os problemas atuais deram origem a seminário no qual produtores cobram maior agilidade na construção da ferrovia Leste-Oeste, que ligará Ilhéus, na Bahia, a Figueirópolis, no estado do Tocantins, terá uma extensão total de 1.527 km. “A região não tem frota de caminhão de origem, ela é migrante. E toda a questão do sul reflete na oferta de veículos no Nordeste” , diz.

Os problemas de logística enfrentados por agricultores baianos passam também pelas estradas. Duas delas, a Estrada Timbaúba, de 45,29 km e a Estrada da Soja, com 33,27 km, têm chão de terra batida e a Parceria Público-Privada (PPP) feita entre agricultores e o governo estadual avançou apenas 1 km, segundo dados do Departamento de Infraestrutura e Transportes da Bahia (DERBA). Produtores culpam a falta de maquinário (parte que caberia ao governo), o período tardio de chuvas e a burocracia pela lentidão da obra, orçada em R$ 26.788.304,58. Por sua vez, a Secretaria de Agricultura afirma que a falta de experiência de ambos os lados em operações similares dificultou os trabalhos.

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