Falta debate nas decisões sobre transporte de carga

Publicado em
01 de Agosto de 2013
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O crescimento populacional, a concentração da vida nas cidades e a expansão do consumo tornam cada dia mais intenso - e desafiador - o transporte de carga em regiões urbanas. Como as opções de deslocamento por ferrovia ou hidrovia são poucas, ou nem existem, quase tudo precisa ser levado em caminhões, que disputam cada palmo de asfalto com automóveis, ônibus e motos, cujas frotas também não param de crescer.

Para aliviar os congestionamentos e a poluição nas cidades maiores, as autoridades municipais restringem o trânsito de veículos pesados em determinadas áreas e horários. Mas o alívio dura pouco, pois as rotas livres de caminhões logo atraem mais carros e voltam a ficar entupidas. Qual é a saída?

"Colocar todos os atores desse drama urbano - transportadores, varejistas, governo e moradores - em torno de uma mesa e debater soluções que respeitem os interesses de cada um. Parece óbvio, mas não se faz isso no Brasil", afirma o especialista em transportes Orlando Fontes Lima Jr, professor da Unicamp e presidente do Centro de Logística Urbana do Brasil (Club).

Formado por pesquisadores ligados a universidades e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Club é apoiado, desde a sua fundação em 2011, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Banco Mundial (Bird), que financiaram três estudos sobre logística urbana no país, prestes a serem divulgados. O primeiro deles dá uma visão geral dos problemas enfrentados pelas metrópoles brasileiras no transporte urbano de carga. O segundo estudo faz um relato dos debates promovidos pelo Club em São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba, Brasília, Campinas e Guarulhos (SP), ao longo do ano passado. O terceiro apresenta exemplos bem-sucedidos de programas já implantados em cidades brasileiras.

O artigo "Percepções do Administrador Público sobre o Transporte Urbano de Cargas", que faz parte do primeiro volume produzido pelo Club, mostra bem a falta de sintonia entre governantes e governados nessa questão, e até mesmo entre prefeitos vizinhos que dividem as mesmas vias de acesso usadas na distribuição de mercadorias em suas cidades.

Assinado por Lima Jr e por Fernando Sanches Jr, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET), e por Emília Rutkowski, da Unicamp, o artigo se baseia nas respostas a um questionário enviado a prefeitos das 20 maiores cidades brasileiras. Oito deles não deram retorno, mas os demais representam municípios que somam 18% da população brasileira. Destes, 70% afirmaram elaborar seus projetos de transporte isoladamente, sem consultar prefeitos de cidades vizinhas ou órgãos estaduais. E 30% admitiram tomar decisões sem qualquer planejamento nessa área.

Quando questionados sobre os processos de elaboração, implantação e operação de projetos de mobilidade urbana, todos os prefeitos disseram tratar-se de atividades distintas e por isso estão entregues a departamentos diferentes da administração municipal. Curiosamente, 30% deles reconhecem que essa segmentação dificulta a tomada de decisões, devido ao baixo grau de interação entre os departamentos.

Embora a administração pública brasileira peque pela falta de planejamento urbano, de maneira geral, o Club dedicou um de seus relatórios a sete iniciativas promissoras que estão sendo testadas ou implantadas em algumas cidades, e que podem servir de inspiração para as demais.

Entre elas, destacam-se a entrega de mercadorias feita por bicicletas e triciclos no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro; o uso de furgões movidos a gás natural no transporte de cargas em Belo Horizonte; os veículos elétricos testados na distribuição de correspondência no bairro de Taquaral, em Campinas; e os carrinhos de mão, também movidos a eletricidade, que estão substituindo as pesadas carrocinhas dos catadores de material reciclável em Curitiba.

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