Excesso de peso em caminhões e falta de fiscalização reduzem a vida útil do asfalto

Publicado em
11 de Março de 2013
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Diagnóstico do Dnit aponta que 77% dos caminhões trafegam peso acima do permitido

Excesso de peso em caminhões e falta de fiscalização reduzem a vida útil do asfalto Félix Zucco/Agencia RBS
Na BR-290, em Cachoeira do Sul, posto com balança está abandonadoFoto: Félix Zucco / Agencia RBS

Imagine um cenário paradisíaco para as estradas: dinheiro em caixa, licitação sem problemas, estudo ambiental adequado, obra feita, asfalto pronto. Fim de todos os problemas? Não. Até mesmo depois de concluído, o pavimento pode causar dor de cabeça nos motoristas. Uma das principais causas é a buraqueira nas estradas, que muitas vezes independe da boa qualidade da pavimentação. É que mesmo as boas rodovias não aguentam carretas carregadas com 20 toneladas acima do peso — e essa situação, embora pareça exagero, é rotina no Brasil. Ou seja, de pouco adianta tudo estar azeitado como relógio suíço, se o usuário não colabora para manter a situação em ordem.

Quando você vê uma jamanta resfolegando lomba acima, rodando pneu em câmera lenta, está testemunhando um dos principais fatores de deterioração das estradas brasileiras, o excesso de peso. Conforme diagnóstico elaborado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), 77% dos caminhões trafegam com excesso de peso. E a consequência é grave: apenas 10% de excesso de peso por eixo já reduzem em até 40% a vida útil do asfalto. Conforme essa mesma avaliação federal, o excesso de carga "acarreta redução da velocidade e da capacidade de frenagem, o que coloca em risco a vida de motoristas, além de acelerar o desgaste de veículos".

Veja gráficos, vídeos e fotos das condições de rodovias gaúchas

O estudo faz parte do Plano Diretor Nacional Estratégico de Pesagem (PDNEP), elaborado em 2005 e licitado, em sua primeira etapa, em 2007. Na época, o projeto era implantar 238 postos de pesagem fixos ou móveis, além dos 49 existentes. De lá para cá foram implementados 41 postos fixos e 36 móveis. Total: 77. Ou seja, apenas um terço do total previsto está implantado, cinco anos depois de lançado o projeto. Tudo foi suspenso por suspeitas de irregularidades no edital de licitação.

As consequências da não implementação do plano de pesagem são visíveis. A Organização pa­­ra Cooperação e Desen­vol­vimento Econômico (OCDE) estima que até 2% do Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação pode ser desperdiçado em consequência dos danos causados às rodovias pelo excesso de peso. O professor universitário João Fortini Albano, um dos pais do plano diretor de pesagem — ele inclusive tem tese de doutorado a respeito dos danos do sobrepeso nas estradas — calcula que um excesso de carga de 20% diminui pela metade a vida útil da pista, considerando apenas veículos com excesso de peso. Na pesquisa de campo, em situação real, com uma composição ampla da frota, incluindo veículos leves e dentro do peso, a redução cai pela metade, ficando entre 25% e 30%. Portanto, se o pavimento for projetado para durar 10 anos, ele vai durar sete — na melhor das hipóteses.

O tenente da BM Vilson Vitória Machado, que trabalha no Batalhão Rodoviário e um dos autores do livro "O excesso de peso rodoviário: manual prático de transporte rodoviário de cargas", diz que há três grandes problemas causados pelos caminhões com carga pesada: insegurança para os usuários (a carreta perde capacidade de frenagem), danos ao pavimento e prejuízo a pontes e viadutos.

— Muitos caminhoneiros transferem a carga para outro veículo, quando enxergam a balança. E depois recarregam com o excesso — afirma Machado.

Falta de policiamento amplia risco no trânsito

As balanças abandonadas e os buracos delas decorrentes são a ponta mais visível da falta de fiscalização. O problema que pouco aparece é a carência de patrulhamento. Quem vai de Porto Alegre a Cachoeira do Sul, pela BR-290, cruza em frente a um prédio em ruínas que exibe as cores azul e amarela e emblemas da Polícia Rodoviária Federal. Ali funcionava um posto policial fechado em 2009, por falta de patrulheiros para vigiarem a estrada. É a unidade de Parque Eldorado. Com o fechamento, um raio de cem quilômetros entre Pantano Grande e Eldorado ficou bem menos policiado, já que a missão de vigilância recai sobre agentes que já estavam assoberbados de serviço.

O posto virou alvo de vândalos. Vidros estilhaçados, paredes grafitadas com palavrões, banheiros entupidos e mato com um metro de altura ao redor do prédio principal. O comércio da região chegou a mudar os horários de funcionamento, com temor de assaltos. Alguns restaurantes restringiram os horários noturnos. O posto de Parque Eldorado fica no mesmo trajeto onde duas balanças de pesagem também viraram ruínas. Testemunhas silenciosas de anos de omissão por parte do governo federal. Talvez pior que a insegurança em relação à violência, a falta de fiscalização favorece mais ainda a imprudência dos motoristas, tornando as rodovias mais perigosas.

Existem hoje 9 mil policiais rodoviários federais para patrulhar os mais de 67 mil quilômetros da malha rodoviária federal. Seriam necessários 13 mil policiais, nos cálculos de sindicatos de policiais e até do próprio governo. Em 2013 deve ser aberto concurso para 1,5 mil vagas e, para o ano que vem, mais outro concurso com 1,5 mil vagas.

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