Na esperança de barrar o fluxo de caminhões pelas estradas, reduzir o poder de operadores privados e ainda cortar as emissões de CO2, a Europa adotou um plano para cortar em 50% o uso das estradas do continente para o transporte de mercadorias até 2050. Para isso, investiu em apenas cinco anos mais de R$ 100 bilhões.
Mas, diante das dificuldades regulatórias, do custo ainda elevado de certos trechos e da lentidão no transporte dos trens, tem registrado sérias dificuldades para implementar sua estratégia.
Trem alemanha
Na Alemanha, 23% do movimento de cargas é feito por trens; na Áustria, o índice é superior a 40% Foto: REUTERS/Wolfgang Rattay
Em 1992, a UE estabeleceu como princípio que iria trabalhar ao longo dos anos para reverter a predominância da rodovia como principal meio de transporte de cargas na Europa. Em 2001, foi estabelecido que os governos europeus se comprometeriam inicialmente a não permitir um aumento do transporte de cargas pelas rodovias, em comparação às ferrovias.
E, em 2011, uma estratégia foi estabelecida de transladar 30% do que hoje passa pelas rodovias aos trens até 2030. Para 2050, 50% da carga terá de ir via rodovias em trajetos de mais de 300 quilômetros. Para chegar a esse objetivo, foi estabelecido que apenas a Comissão Europeia destinaria ¤ 28 bilhões em investimentos.
Dificuldades. No entanto, documentos da Corte de Auditoria da Europa, uma espécie de Tribunal de Contas da União, apontam que a estratégia tem tido sérias dificuldades para ser implementadas. “O desempenho do transporte ferroviário na UE continua insatisfatório”, destaca.
Segundo o levantamento, não houve uma aumento de participação dos trens no total de carga transportada entre 2000 e 2016. Entre 2011 e 2016, a taxa de transporte ferroviário chegou mesmo a cair, ainda que marginalmente.
Por falta de uma regulamentação única entre os 28 países do bloco, obstáculos administrativos e demoras ao passar de um território a outro estariam entre os principais motivos da lentidão em mudar o modelo de transporte do bloco. Hoje, por conta da burocracia e falta de harmonização de leis entre os países, a média de velocidade de um trem de carga é de apenas 18 quilômetros por hora em certos trechos.
Malha. Atualmente, a Europa conta com 216 mil quilômetros de linhas ferroviárias. Mas, diante da burocracia, exportadores ainda acham no transporte rodoviário uma opção mais econômica.
O resultado é que, hoje, a cada tonelada de carga transportada por trem, três são levadas por caminhões pela Europa.
A participação dos trens passou a ser de 17,8% e, para os auditores, a atual realidade “coloca em risco a meta da Comissão Europeia de transladar 30% do transporte de cargas por rodovias para os trens até 2030”.
Se a média ainda é considerada como baixa, alguns países se destacam. Na Áustria, mais de 42% da carga é feita por meio trens, enquanto a fatia chega a 60% na Letônia. Na Suécia, ela chega a 38%, contra 23% na Alemanha.
No lado oposto estão países como a Irlanda (1,1%), Grécia (1,2%), Espanha (4,6%) e Portugal (6%).
Fora da União Europeia, a Suíça que é considerada como um modelo. O país dos Alpes conta com o trem para 48% de seu transporte de carga, inclusive o correio.
A alta proporção foi gerada por conta de pesadas taxas sobre caminhões, a impossibilidade do trânsito de caminhões aos fins de semana, subsídios para trens e limites para o peso a ser circulado pelos Alpes.
Ao mesmo tempo, 5 mil quilômetros de caminhos permitem uma frequência de 140 trens por cada linha por dia por meio de 671 túneis e 6 mil pontes.